Dizia o relógio no Estádio Cidade de Barcelos que estávamos no minuto 90 em Barcelos e ainda houve cerca de 30 minutos jogados depois disso. Estranho, sim, mas com uma explicação simples: durante meia hora na segunda parte, não houve luz no estádio, fazendo deste um jogo, no mínimo, atípico. Acabou tarde, já muito perto das 23h00, mas jogou-se o que havia para jogar... e houve divisão de pontos num duelo minhoto em que a primeira metade foi do Braga e a segunda, depois do tal apagão, foi gilista.
O brasileiro Wenderson Galeno, em estreia absoluta pelo novo clube, iluminou o caminho bracarense logo nos primeiros minutos, mas já depois da longa paragem houve Sandro Lima, vindo do banco de suplentes, a ditar o primeiro empate para as duas equipas neste campeonato. Uma noite estranha, que os gilistas acabam, de certa forma, por celebrar com moderação.
Noite de trovoada em grande parte de região norte, a luz no estádio a falhar logo no aquecimento dos jogadores, mas estávamos longe de imaginar que isso viesse a ser um problema tão grande, até porque essa primeira interrupção pouco durou e havia ainda luz natural. Os problemas a sério viriam só depois do intervalo, e até então muito a bola rolou no relvado de Barcelos.
Um Braga a meio de uma difícil eliminatória europeia com o Spartak apresentou-se em campo - pasme-se! - com onze mudanças no onze. Isso mesmo, uma equipa radicalmente diferente promovida por Ricardo Sá Pinto, confiante na profundidade do plantel e na resposta das teóricas segundas linhas. Quatro estreantes absolutos no onze (Eduardo, Lucas Cunha, Galeno e Rui Fonte), Vítor Tormena a estrear-se a titular.
Os guerreiros vinham da vitória na Europa mas da derrota na Liga com o Sporting, tal como o Gil Vicente vinha de uma derrota pesada em Moreira de Cónegos que fez os homens de Vítor Oliveira tombarem com violência depois de voarem em casa contra o FC Porto.
Contra um Gil Vicente longe de apresentar uma revolução semelhante - o treinador mudou três peças, sendo uma delas o regresso do habitual titular Alex Pinto -, o nível de exigência para o Braga não estava baixo, porque jogadores como Kraev ou Lourency, que já muito se destacaram neste início de época, não eram de ignorar. Os homens de Sá Pinto, porém, foram muito competentes na primeira parte, mesmo que não brilhantes, e até saltaram para a frente logo aos seis minutos. Do estreante Rui Fonte para o estreante Galeno e uma finalização que seria sempre difícil para Denis evitar.
O Braga não acusava (até então) as muitas mudanças no onze, e isso por si só é um elogio considerável para os homens de Sá Pinto. Boa troca de bola a meio-campo, ocasionais momentos de algum perigo, como quando Murilo e João Novais atiraram para defesas de Denis até ao intervalo. Do outro lado, começava por faltar alguma inspiração e bastante acerto a Lourency, referência ofensiva gilista, que pouco mais conseguiu fazer na primeira etapa do que atirar bem por cima. A segunda metade do jogo, que teve o tal apagão, trouxe algo bem diferente.
Kraev aproximava-se da grande área do Braga, atirava com toda a força, o estreante Eduardo defendia a custo... e todos às escuras. Não terá sido tanto pela violência do remate mas pelos muitos relâmpagos que se avistavam na região do estádio em Barcelos.
Contámos 31 minutos desde o apagão até que a bola voltou a rolar. Durante todo esse tempo, trocavam-se bolas no relvado, os adeptos até se pareciam entusiasmar mais nas bancadas, perante o caráter insólito do momento. E entretanto, pairava a dúvida: haveria jogo além destes 50 minutos?
Qual milagre, o estádio voltou a iluminar-se passado todo esse tempo, Hugo Miguel autorizou o reatar da partida. Ponto positivo no meio disto tudo: jogadores mais frescos, pelo menos a nível físico.
E talvez o lado mental depois de todo o impasse tenha pendido a favor do Gil Vicente, que demonstrou claras melhorias no regresso à partida e conseguiu superiorizar-se contra um Braga que parecia querer que tudo acabasse para poder finalmente ir para casa.
Os homens de Vítor Oliveira demonstravam bem mais atitude e mais criatividade nessa segunda fase: Lino acertou no ferro da baliza de Eduardo, Kraev falhou por pouco a baliza... e já 19 minutos depois dos 90 (!) foi Sandro Lima, vindo do banco, a desviar para o golo do empate depois de cruzamento de Alex Pinto.
Foram os gilistas mais satisfeitos para casa depois do serão, recolheram os bracarenses de certo enervados com o resultado e com a noite inesperadamente longa antes da exigente viagem a Moscovo.