Da juventude à vida adulta. A vida é um ciclo e as crianças acabam por deixar de o ser. «El Niño» Fernando Torres prolongou a juventude até aos 35 anos, mas era inevitável. 18 anos depois, o fim está aí e dia 23 de agosto vai ficar marcado pelo adeus de um avançado que marcou uma era no futebol espanhol.
Em 2019, o Atlético Madrid investiu mais de 120 milhões na contratação de João Félix, mas no início do século as coisas eram bem diferentes. Não havia Wanda Metropolitano e o Vicente Calderón não via futebol de primeira. Com o polémico Jesús Gil como presidente e com os portugueses Hugo Leal e Dani na equipa, os colchoneros militavam na Segunda Divisão espanhola. Na cantera ia dando nas vistas um tal de Fernando Torres.
«El Niño», como cedo ficou conhecido, encontrava-se no Campeonato da Europa de sub-16 - marcou sete golos em seis jogos - e colado à televisão estava um tal de Paulo Futre. O português, então diretor desportivo dos colchoneros, ficou impressionado com o avançado e no regresso a Madrid reuniu com Torres. Aquele miúdo estava pronto para a primeira equipa. Futre olhou-o nos olhos e disse: «Vais ser o melhor».
Ainda no mês de maio de 2001, Torres estreou-se na equipa principal do Atlético Madrid, acabou a época com um golo marcado, mas os colchoneros não conseguiram subir de divisão. O ano seguinte era de aposta na promoção e Fernando Torres foi o rosto disso mesmo. Com apenas 18 anos, «El Niño» fez 37 jogos, marcou sete golos e capitaneou o clube de infância. Um sonho a tornar-se realidade, com a subida a confirmar-se. Assim surgiu uma lenda junto dos adeptos do Atlético Madrid.
As épocas foram passando, o Atlético Madrid reergueu-se e Fernando Torres estava a tornar-se cada vez mais numa das figuras do futebol mundial. O espanhol acabou por deixar o clube em 2007, permitindo ao Atlético Madrid a sua primeira grande venda.
«El Niño» foi a grande aposta do Liverpool. Aos 24 anos, o avançado estava no auge das suas capacidades e não demorou a convencer os apaixonados adeptos de Anfield Road. A primeira época foi também a melhor, com 33 golos em 46 jogos até maio, mas foi nos meses seguintes que Fernando Torres atingiu o topo do futebol europeu.
O avançado era a grande esperança de La Roja em 2004, quando um golo de Nuno Gomes atirou a seleção espanhola para fora do Europeu. Quatro anos depois, a história foi diferente. O ínicio da era dourada do futebol espanhol surgiu nos pés de Torres.
«El Niño» ultrapassou Lahm, picou a bola por cima de Lehmann (ver imagem capa) e, 44 anos depois, Espanha sagrou-se campeã europeia. Fernando Torres, que acabaria o ano a ser eleito terceiro melhor jogador do mundo, atrás de Cristiano Ronaldo e Leo Messi, era o grande herói do futebol espanhol.
Esses foram mesmo os melhores anos do avançado, que continuou, juntamente com Gerrard, a carregar o Liverpool às costas, enquanto voltava a festejar com a sua seleção. Em 2010, sagrou-se campeão Mundial, desta vez saído do banco na final para ver de perto o golo de Iniesta.
Os títulos que festejava ao serviço da seleção, não festejava em Liverpool. Com os Reds distantes dos seus melhores anos e sem hipóteses de lutar pelo campeonato, «El Niño» saiu a meio da época para o Chelsea, mas não justificou os 55 milhões de euros investidos pelos Blues, na altura a sexta maior contratação da história do futebol.
A veia goleadora, velocidade, técnica e drible do avançado pareciam ter desaparecido e Fernando Torres chegou mesmo a completar um ano civil sem qualquer golo marcado, mas foi no Chelsea que conquistou o título mais importante a nível de clubes, sagrando-se campeão europeu em 2012, num trajeto que ficou marcado pelo golo apontado em Camp Nou, frente ao Barcelona, uma das vítimas favoritas do avançado - marcou 11 golos aos catalães durante a carreira.
Longe do auge de outros tempos, Torres ainda foi a tempo de colecionar mais conquistas e foi o melhor marcador do Euro 2012, que a Espanha voltaria a conquistar. Os anos passaram e a irreverência de «El Niño» foi-se perdendo.
Após seis meses para esquecer em Milão, Torres rejeitou o ditado «não voltes onde já foste feliz» e regressou ao seu Atlético Madrid, onde esteve até 2018 para conseguir aquilo que prometeu a Luís Aragonés, selecionador que teve um papel importante na vida de Torres. Conquistou a Liga Europa, o primeiro título de relevo pelo Atlético Madrid e deixou o clube do coração para embarcar numa aventura no Japão.
Ninguém é eterno, mas Fernando Torres ganhou o direito de eternizar o seu nome nos livros de futebol. Sexta-feira, 23 de agosto de 2019, 11h30, diante de Iniesta, 18 anos depois da estreia pelo Atlético Madrid, chega ao fim a história de «El Niño».
1-6 | ||
Takashi Kanai 79' | Hotaru Yamaguchi 12' 86' Andrés Iniesta 20' (g.p.) Junya Tanaka 23' Kyogo Furuhashi 54' 73' |