*com Rita David
Chegou à Primeira Liga em 2012/13, depois de ter contribuído para a subida do Estoril. Desde aí, só voos mais altos surgiram. No principal escalão do futebol português, Gerso Fernandes alinhou pelo Estoril, Moreirense e Belenenses... ficou pouco por fazer, chegar a um grande foi das poucas coisas que faltaram.
Atualmente a jogar nos Estados Unidos, o extremo é uma das sensações da Major League Soccer, onde atua pelo Sporting Kansas City desde 2017.
Em entrevista ao zerozero, o luso-guineense recordou os dois anos de ausência do futebol, o presente na MLS e um futuro em que Portugal não entra nos planos. Com altos e baixos ao longo da carreira, pode dizer-se que o sonho americano se tornou realidade para o jogador de 28 anos.
Com 18 golos marcados em 80 jogos, Gerso é um dos maiores exemplos de sucesso de jogadores com nacionalidade portuguesa a atuar na Major League Soccer.
A cumprir a terceira temporada no Sporting KC e à espera do primeiro filho, Gerso confessou ao zerozero que o futuro muito dificilmente passará por Portugal, mesmo para atuar no Benfica, FC Porto ou Sporting...
«Muito provavelmente Portugal vai continuar a ser o país de férias. Mas a minha vida vai provavelmente passar por aqui. A minha mulher está grávida e eu estou muito feliz aqui. Para já é impensável.»
ZZ: E se por acaso surgisse uma proposta de um dito grande?
«Depende. Iria depender muito da compensação monetária. Acho que essa iria ser a diferença. Acho que não me iria sentir aliciado só porque é um grande de Portugal. Estou aqui bem, estou estável, tenho aqui a minha família e gosto do clube onde estou. E por isso uma mudança para outra liga teria de ser muito vantajosa em termos financeiros. Não sei até que ponto isso podia acontecer, mas para já é muito difícil.»
A MLS é dividida em duas conferências: Oeste e Este. Na primeira fase da competição são apuradas as primeiras seis equipas de cada conferência que depois disputam o play-off. As 12 equipas ficam reduzidas a quatro e, a partir da final four, é apurado o campeão da Major League Soccer.
ZZ: Quais são as expectativas para a época que está agora a começar?
«As expectativas são sempre altas. Estamos em todas as competições para ganhar e o clube tem condições para isso. Investe para isso e não há espaço para ter segundos pensamentos. O primeiro objetivo é ganhar o máximo de jogos possíveis. Chegando aos play-offs, as oportunidades são iguais para todos e só tens de ter a certeza que fazes o melhor jogo para passar à próxima fase. Não há favoritismos, é tudo igual por igual.»
ZZ: A ideia que chega à Europa é que o soccer está a crescer e está a ganhar cada vez mais adeptos nos EUA. Enquanto jogador, sentes isso diariamente?
«Sim, de época para época há cada vez mais investidores a querer ter uma equipa do seu Estado na MLS. E há cada vez mais jogadores que começam a sair daqui para grandes campeonatos e isso nota-se. Nota-se que há cada vez mais pessoas de fora a olhar para a nossa liga. E acho que vai ser apenas uma questão de tempo até a MLS ser uma das grandes ligas do futebol a nível mundial. É esperar para ver porque vai acontecer!»
ZZ: Achas que a recente chegada do Nani à MLS chama mais a atenção dos portugueses para a competição?
«Claro que a chegada um jogador como o Nani, com a qualidade e o percurso que tem, vai chamar a atenção dos adeptos. Vão querer saber como é que está a correr a época, se está a jogar bem ou mal. Vão estar curiosos e isso leva-os a ver outros jogos da MLS. É, sem dúvida, um bom marketing para a competição.»
ZZ: Na tua ficha da federação, há uma falha de dois anos em que não estiveste inscrito, o que significa que tu não jogaste o escalão de juvenil, por algum motivo em especial?
ZZ: Achas que isso de alguma forma condicionou a tua evolução enquanto jogador?
«Não. É óbvio que me deixou muito triste, não podia haver nada que me deixasse mais triste do que proibirem-me de jogar futebol, mas depois fui para os juniores da Académica e passei duas lá épocas fantásticas.»
ZZ: O que faltou para chegar à equipa principal?
«Acho simplesmente que na altura a direção da Académica tinha outros objetivos. O clube não vinha a apostar muito em jovens e isso sempre foi uma coisa que não aconteceu muito no clube. Nós tínhanhos feito um dos melhores anos na formação de juniores e apenas dois ou três jogadores na altura assinaram contrato. Quanto aos outros, fomos para o Tourizense com a esperança de sermos chamados pois, apesar de não termos nenhum vínculo à Académica, havia sempre essa esperança. E acho que nesse ano, a Académica perdeu muitos jogadores com potencial de virem a ajudar futuramente o clube, mas isso foi a decisão deles. E cada um seguiu o seu caminho».
ZZ: Uma vez que o regresso a Portugal não é hipótese por agora, trocar de clube na MLS é possível?
«Sim, não é impossível. Aqui, dentro da MLS, troca-se de clube com alguma facilidade e, caso renove com o Sporting KC ou caso vá jogar para outra equipa, essas para já acho que seriam as opções mais prováveis.»
ZZ: Trocar para o rival seria problemático?
«Não, aqui não há muito disso. O que acontece aqui no Kansas é que os jogadores que costumavam jogar pelo Sporting KC e vão para outras equipas da MLS, quando chegam aqui são bem recebidos. São anunciados no estádio e até mostram os melhores momentos dele no clube. Portanto, ainda não há essa rivalidade tão grande como aí em Portugal e em outras ligas.»
ZZ: Enquanto jogador, isso é melhor?
«Acho que sim, porque o futebol na verdade é um espetáculo e os adeptos estão lá para aproveitar e desfrutar do espetáculo, portanto acho que as coisas devem ser assim e não de outra forma. Os jogadores tomam as decisões por motivos que, normalmente, os adeptos não chegam a saber, portanto o melhor mesmo é respeitar os jogadores.»