«Solta-te, liberta-te, abre as asas do sonho, tens todo o futuro para saborear. Solta-te, liberta-te, não há nada melhor, depois de um pesadelo poder acordar». A música de Toy esteve em altas durante o verão, mas só na altura natalícia o Benfica conseguiu entender a letra.
A águia libertou-se e escolheu uma boa altura para o fazer. Num duelo entre candidatos, a equipa de Rui Vitória goleou um Sporting de Braga irreconhecível por 6x2 e finalmente deixou soltar a qualidade que andava escondida e há muito era exigida pelos adeptos.
Num domingo de muitos e bons jogos, o de cartaz era na Luz, pela classificação e por aquilo que podia estar em jogo numa altura de viragem de ano. Antes das rabanadas e do bolo rei, havia um duelo de guerreiros, que desde cedo foi assumido pelos da casa, que não quiseram defraudar as expetativas dos cada vez mais exigentes adeptos.
Vencer não chegava, era preciso convencer, ainda que muitos preferissem deixar a qualidade futebolista para jogos futuros e de menos exigência, mas a partida dificilmente poderia ter corrido melhor para as águias. Antes de ambicionar chegar à frente, Rui Vitória quis uma equipa sólida, sem ficar exposta a falhas e foi precisamente no aproveitar dos erros que esteve o segredo para o início do triunfo encarnado.
A entrada bracarense foi nervosa, teve muitos passes falhados e uma ideia pouco ambiciosa. Os arsenalistas procuraram explorar a transição rápida, mas encontraram um Benfica sempre atento a essa possibilidade e atrás os erros começavam a aparecer com muita facilidade.
À primeira oportunidade, Jonas desperdiçou, mas depois Pizzi não negou o espaço à sua frente e em jeito conseguiu bater Tiago Sá pela primeira vez. Com o golo encarnado apareceu também o melhor período do Sporting de Braga num primeiro tempo repleto de falhas, mas aí Ricardo Horta encontrou Vlachodimos, que evitou a igualdade minutos antes de Tiago Sá permitir a Jardel alargar a vantagem benfiquista.
Em tempo de Natal, as àguias iam aproveitando as ofertas bracarenses e ao intervalo as palmas justificavam-se. Não era uma exibição do outro mundo, mas, até pelo adversário em questão, era um Benfica num patamar muito superior ao que se tem visto e isso entusiasmou adeptos e jogadores.
Na antevisão à partida, Abel tinha falado na «força mental» e foi precisamente a nível de mentalidade que tudo mudou. Um Benfica que até então parecia estar reprimido elevou-se e saltou para cima de um Sporting de Braga cabisbaixo e a cometer erros atrás de erros. Grimaldo não demorou a aproveitar mais um, minutos antes de Dyego Sousa deixar a sua marca numa partida em que os avançados bracarenses mal se tinham visto.
O golo do brasileiro ainda fez sonhar a equipa bracarense, mas as falhas defensivas voltaram a surgir e Jonas lá teve de picar o ponto num golo de baliza aberta.
A questão dos três pontos ficou resolvida e a pressão benfiquista, com um forte empurrão dos seus adeptos, deixou a equipa bracarense ferida no orgulho. Cervi e André Almeida (um golaço!) chegaram a um impensável sexto golo. Impensável antes do começo da partida, previsível naquele momento em que o Sporting de Braga já não era equipa e em que desejava apenas pelo final do jogo. João Novais tratou de dar uma pequena prenda aos adeptos que se deslocaram até Lisboa, mas, na verdade, foi apenas um par de meias num pré-Natal para esquecer.