Depois de se ter feito homem no Marítimo e de ter a primeira experiência fora da sua casa no Restelo, João Diogo vive uma nova etapa da sua vida. O lateral, que tem jogado a extremo e que até já passou pelo meio-campo, está, pela primeira vez, no estrangeiro, mais propriamente na Roménia, onde representa o Gaz Metan.
ZZ: Aos 30 anos, como corre essa primeira experiência no estrangeiro? Sei que marcaste na última jornada, de cabeça (ver vídeo no final da entrevista). Conta-nos como está a ser essa aventura na Roménia.
A equipa começou a ganhar agora, estamos a melhorar jogo a jogo. As coisas ao início não estavam muito bem, estamos a lutar para não descer, mas já conseguimos o apuramento para a meia-final da Taça da Roménia, ganhámos o primeiro jogo para o campeonato desde que eu cheguei e fiz um golo. As coisas estão a melhorar gradualmente, cada vez nos conhecemos melhor uns aos outros.
ZZ: Vi-te a falar português numa conferência de imprensa, a nível do idioma como está essa adaptação?
É uma liga diferente, mas tem bastantes jogadores que falam português e isso facilita a adaptação. Somos uns cinco que falam português, com os romenos no início é difícil, mas aos poucos começamos a dar-nos bem. Falamos em inglês, as coisas têm vindo a melhorar, tanto na adaptação como no jogo.
ZZ: Há play-off para o campeão, play-out para descer. Conta-nos um pouco de como é o futebol pela Roménia.
O futebol é muito mais agressivo, os árbitros deixam jogar muito mais, não é como em Portugal que estão sempre a marcar faltas. O jogo é feito com um ritmo muito intenso, levamos contra-ataque e quando recuperamos a bola já estamos nós em contra-ataque. Não é tão bem jogado como em Portugal, mas é muito competitivo e intenso.
ZZ: No verão já se falava que tu irias para a Roménia. O que correu mal?
Acabou por não haver acordo entre mim e o Craiova, entretanto lesionei-me e no Belenenses as coisas não correram muito bem nesses seis meses. Decidi vir para cá porque precisava de jogo, tenho contrato até final da época, quem sabe se não posso voltar a Portugal? Vim no sentido de ajudar, estamos na meia-final da Taça contra uma equipa da Segunda Liga, que também é uma boa equipa, e é um objetivo do clube ir à final. Vamos tentar manter a equipa na Primeira Liga e ir à final. Depois, quem sabe? Tanto posso voltar a Portugal como, se aparecer uma coisa boa fora, posso continuar fora.
ZZ: Como é que foi a decisão de sair do Marítimo depois de uma ligação praticamente umbilical?
A saída do Marítimo foi difícil, é sempre difícil abandonar o clube do coração. Espero um dia poder voltar a jogar no Marítimo, mas na altura achei que era o melhor para mim, para a minha carreira e para a minha família. Custou-me imenso, era o capitão, mas não houve acordo entre mim e o presidente. Entretanto veio a proposta do Belenenses, agradou-me, foi um bom projeto e arrisquei porque também quis sair um bocado da Madeira.
ZZ: E o que motivou a saída do Belenenses?
No Belenenses tive uma boa época, no ano passado. Este ano, com a chegada do Domingos, as coisas complicaram um bocado para mim. Perdi o meu espaço, não por causa do futebol e da qualidade, mas de outras coisas que não quero falar. Depois tive a proposta da Roménia, não houve acordo, depois da Polónia, mas lesionei-me a uma semana do fecho do mercado e fiquei três meses lesionado. Nos outros seis meses fiquei parado, sem ser opção. Depois tive esta equipa a fazer-me uma proposta, estávamos de acordo com os valores, apesar da posição em que o clube estava gostei dos jogadores que sabia que vinham para cá, vi alguns jogos e vi que havia qualidade, as coisas é que não estavam a acontecer. Decidi vir para cá, seis meses, e depois logo vemos se as coisas correm bem para, talvez, voltar a Portugal. A minha mulher está na Madeira, vamos ser pais e não é fácil. Nesta altura da carreira pensamos um bocado e gostava de tentar voltar a Portugal e ficar, a não ser que chegasse uma proposta irrecusável fora e aí ficaríamos por cá.
ZZ: Fizeste recentemente 30 anos. Quais são os caminhos que esperas para o teu futuro?
Eu não gosto muito de pensar no futuro, gosto de pensar no presente e fazer as coisas bem. Agora a minha esposa foi para a Madeira, não podia ficar cá por causa da gravidez, fica difícil estar longe da família, é por mim e por eles. Espero que as coisas corram bem e depois quem sabe? Posso continuar cá, o campeonato é bom, há equipas fortes, mesmo o Gaz Metan tem tido dificuldades mas é uma equipa que dá todas as condições aos jogadores.
ZZ: Já percebi que não queres falar muito do que se passou no Belenenses, mas ficou alguma tristeza por saíres da forma que saíste?
Tristeza não. Estive lá uma época e meia, metade não foi boa, mas por situações sem ser o futebol. A primeira época foi muito boa. Fiz 37 jogos, marquei dois golos, fiz uma época regular, os adeptos gostavam de mim. As pessoas até ficavam admiradas porque tinha acabado de chegar e já era um dos capitães. De um dia para o outro, com a chegada de certas pessoas, tiraram-me a braçadeira, perdi o espaço na equipa. Coisas fora do campo que aconteceram, mas que prefiro nem falar sobre isso. Não estava a ter minutos, não sabia se as coisas iam funcionar e quis sair, até porque nunca tinha tido uma experiência fora do país.
ZZ: Já que falaste em coisas fora do futebol. Como tens visto este clima de suspeita no futebol português que tem afetado bastante os jogadores?
ZZ: Para finalizar, que sonhos ainda tens por cumprir?
Um dos meus sonhos é conquistar uma Taça ou um campeonato, estive duas vezes na final da Taça da Liga e não consegui. Vamos ver se este ano, na Taça da Roménia, consigo conquistar, deixar a minha marcar e poder contar aos meus filhos e aos meus netos. Depois há outra coisa, gostava de voltar ao Marítimo, é sempre outra coisa jogar no clube do coração. Naqueles últimos 15 minutos dás sempre um bocadinho mais quando as coisas não estão a correr bem.