Exibição de sonho e resultado exemplificador de superioridade. O Sporting apresentou-se imperial na Luz, com uma muito maior inteligência na abordagem à partida em relação a um Benfica que Rui Vitória tinha prometido ser uma equipa, mas que se mostrou ansioso, instintivo e, depois, desnorteado. Nas águias, muito a rever depois deste dérbi onde o melhor jogador foram os adeptos. No Sporting, a certeza de que o leão é, senão o, um dos grandes candidatos ao título. E Jesus é o grande obreiro.
A inteligência de abordagem ao bloco reduzido
Troca de alas
Rui Vitória tentou surpreender e lançou Guedes na esquerda e Gaitán na direita
No papel, Benfica e Sporting são equipas semelhantes. No desenho tático, as semelhanças posicionais do 4x4x2 são muitas. Nos princípios, igualmente dois conjuntos que gostam de bola e que pressionam em cima, compilando o raio de ação num espaço muito reduzido. Então, o que começou por desequilibrar este dérbi? O tempo e a forma de abordagem aos lances.
Um Benfica mais empolgado e menos frio no início, a arriscar e a jogar à queima, ansioso por mostrar atributos. Um Sporting cerebral, contido e à espera do último timing para ganhar, quase sempre, as bolas. Ruiz e João Mário não eram extremos, mas sim médios interiores que formavam um losango bastante compacto.
Tal como na Supertaça, Teo marcou ©Carlos Alberto Costa
Os resultados estavam à vista. O leão matreiro mordeu com força sempre que a águia tentou o voo. Não houve nenhuma descolagem, mas sim um desnorte incrível de jogadores como Gaitán, Samaris ou Eliseu, já para não falar dos centrais, claramente a não conseguirem lidar com o afunilamento de futebol do Sporting pelo meio.
Tudo isto foi demérito do Benfica? Não, nem metade. A lição que Jesus deu aos seus discípulos passou na íntegra e teve nota 10 na primeira parte, conseguindo o mais díficil (golos) e, depois, o mais fácil (enervar o adversário). E William... Bem, William é a diferença entre uma boa e uma grande equipa. Que jogaço do português!
Se, ao primeiro e mesmo ao segundo golo encaixado, os adeptos encarnados ainda esboçaram a reação, ao terceiro já muitos se levantavam e assobiavam, atónitos perante o que se ia passando. No topo norte, a bancada superior moldava o rosto de verde e de alegria, num êxtase próprio de quem, ao intervalo, ganhava por 0x3 em casa do grande rival.
O que mudou ao intervalo?
Fejsa entrou e saiu
Era dado como titular, ficou no banco, foi lançado ao intervalo, mas teve que sair, supostamente por problemas físicos.
Em boa verdade, mudou Rui Vitória uma peça, tirando Eliseu, metendo Fejsa para o meio (que ficou condicionado com um amarelo logo ao segundo minuto) e recuando Almeida para a esquerda. Mas pouco mais mudou. O Benfica continuava desnorteado, tentando alcançar a tranquilidade e a baliza contrária com posse. O Sporting permanecia no seu jogo de contenção, baixando a intensidade, com o jogo de feição.
Se ao Benfica se pedia verticalidade, essa continuava a não existir. Os movimentos entre linhas de Jonas já tinham desaparecido, os de Gaitán eram muito flanqueados e os de Gonçalo Guedes eram próprios de um jogador imaturo e que não conseguia reagir com frieza à adversidade.
Bruno de Carvalho esteve no banco e festejou ©Carlos Alberto Costa
Se do Sporting se esperava uma gestão capaz e segura, essa aconteceu quase na perfeição, tirando uma desatenção que Jiménez não soube aproveitar. João Mário e Bryan Ruiz continuaram com uma ação invisivelmente perfeita, a acompanhar um miolo robusto e capaz.
Uma vitória justa, sem espinhas e exemplificativa da diferença de poderio das duas equipas atualmente. Jorge Jesus deu banho tático a Rui Vitória e, do Benfica, o melhor que se viu foi na bancada. De longe, a melhor face de um Benfica que ainda não se refez do duro verão quente que teve.