Um ano depois do sucesso do Campeonato da Europa feminino em 2022, o Mundo virou todas as atenções para o Campeonato do Mundo de 2023, que viria a decorrer na Austrália e na Nova Zelândia.
Com 32 equipas pela primeira vez, este foi o maior Mundial de sempre até à data e a todos os níveis. Desde o número de equipas, ao número de jogos, passando pelo número de espetadores e pelo prize-money. Nunca uma competição feminina de futebol tinha tido tanto sucesso e tanta gente a assistir.
Pela primeira vez com 32 equipas em prova e com 64 jogos, foi o Mundial feminino mais visto de sempre. Com quase dois milhões de espetadores nos estádios - 1 974 274 -, este Campeonato do Mundo superou os registos do Canadá, em 2015, que tinha registado menos 624 mil pessoas nos estádios.
Para fechar este capítulo dos números, nota ainda para o prize-money da competição. Nunca uma prova feminina de futebol tinha registado valores tão elevados: falamos de um valor global de 110 milhões de dólares. No fim, cada jogadora - independentemente da classificação final - arrecadou, pelo menos, 27 mil euros. A seleção vencedora, a Espanha, arrecadou mais 10 milhões de dólares.
A edição de 2023 elevou esta competição a um novo patamar e Portugal fez parte dessa página de história. A equipa das Quinas, comandada por Francisco Neto, carimbou esta presença histórica - a primeira de sempre - depois de uma fase de qualificação que não pode ser esquecida.
Quando lá chegou, em julho de 2023, não desiludiu. Integrada num grupo de respeito, com os Estados Unidos (Campeãs do Mundo em 2019), Países Baixos (Vice-campeãs do Mundo em 2019) e Vietname, Portugal mostrou os seus argumentos e esteve apenas a uns centímetros de ser protagonista de um escândalo mundial.
Primeiro, no embate com os Países Baixos, Portugal foi derrotado por 1-0, e seguiu-se o confronto com o Vietname. Aí, Telma Encarnação e Kika Nazareth escreveram a história da primeira vitória de sempre na competição (2-0).
A hegemonia americana estava a chegar ao fim e Portugal deixou as suas fragilidades bem visíveis. Sem golos durante 90 minutos (0-0), todo o mundo susteve a respiração por alguns segundos. Ana Capeta, na primeira intervenção depois de saltar do banco já depois dos 90', surgiu em posição de finalização e atirou, com demasiada pontaria, ao poste direito da baliza dos Estados Unidos...
Mais uns centímetros e estaríamos agora a falar de um escândalo mundial e da queda das campeãs do Mundo aos pés de Portugal. Quis o destino que o jogo terminasse sem golos e que a participação lusa ficasse por ali. Ainda assim, a Seleção Portuguesa ficou apresentada!
No fim, a Espanha foi a grande vencedora. Com uma geração de luxo, com Alexia Putellas, Aitana Bonmatí ou Jenni Hermoso, a La Roja entrou nesta competição como uma das candidatas, mas sem palmarés para o suportar.
Sem qualquer título internacional, esta foi apresentada como a melhor geração de sempre do futebol espanhol e os resultados acabaram por comprová-lo. Com um crescimento brutal nos 15 anos anteriores, Espanha foi o exemplo claro que o investimento no feminino pode dar frutos, quando é bem feito.
No que à prova diz respeito, as expetativas iniciais eram altas, mas moderadas devido às questões polémicas com o Selecionador Jorge Vilda, e que resultou no afastamento voluntário de 15 jogadoras após o Euro 2022. Porém, a fase de grupos foi bem sucedida com duas vitórias - Costa Rica (3-0) e Zâmbia (5-0) - e com uma derrota mais pesada frente ao Japão (4-0), numa altura em que o apuramento já estava assegurado.
Logo a seguir, nos oitavos, defrontou a Suíça e o resultado foi esclarecedor (1-5). Porém, os grandes testes vieram depois e pode dizer-se que foram concluídos com sucesso. Depois de eliminar os Países Baixos nos quartos (2-1) e a Suécia nas meias (2-1), a final foi contra a Inglaterra de Sarina Weigman, Campeã da Europa em 2022. Aí, um golo poético de Olga Carmona entregaria o primeiro título Mundial a Espanha (1-0).
E golo poético por quê? Porque, sem saber, Olga Carmona entrou em campo no dia em que perdeu o pai. A jogadora só recebeu a notícia depois do jogo, mas através das redes sociais deixou uma emotiva mensagem: «E sem saber, já tinha a minha estrela antes do jogo começar...».
Porém, à parte da conquista desportiva, a festa espanhola seria ofuscada por uma das maiores polémicas no panorama feminino. Durante a cerimónia de entrega das medalhas, Luís Rubiales, à época presidente da RFEF, beijou na boca Jenni Hermoso, uma das capitãs da Seleção Espanhola. O momento não gerou reações no imediato - enquanto se fazia a festa espanhola no relvado - mas rapidamente assumiu proporções gigantescas na imprensa e nas redes sociais.
Nos meses posteriores, Rubiales foi suspenso por três anos por parte da FIFA e, em termos judiciais, foi acusado pelo Ministério público espanhol de agressão sexual, dado que foi considerado que o beijo não foi consentido, e de coação, uma vez que foram vários os depoimentos de Jenni Hermoso a garantir que foi pressionada, por vários membros da RFEF, para que corroborasse uma versão diferente dos acontecimentos.
Pelo meio, quem também caiu na sequência deste escândalo foi Jorge Vilda, treinador campeão do Mundo que, já desde o Euro 2022, estava no centro de uma polémica depois de 15 jogadoras se terem afastado da seleção por protestos contra várias das metodologias e escolhas do treinador. A polémica com Rubiales foi a gota de água e um vínculo com a RFEF foi terminado já pelo novo presidente, Pedro Rocha.