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36 anos depois e seis Mundiais passados, a Holanda voltava a disputar a fase final da mais importante competição de seleções. Se as presenças nos Mundiais de 1934 e 1938 se tinham saldado por duas derrotas e eliminação logo após o primeiro jogo, em 1974, a Holanda chegara à prova cheia de esperança, baseando a sua equipa na grande equipa do Ajax que era tricampeã europeia de clubes, e a do Feyenoord que iniciara o domínio laranja na prova principal das competições europeias com a conquista da «Orelhuda» em 1970.
Do outro lado da barricada estava a Alemanha, terceira classificada do Mundial de 1970, finalista vencida em 1966, a que se somava uma vitória na prova em 1954, um quarto lugar em 1958 e um sétimo em 1962, demonstrando uma regularidade impressionante no topo. Somava-se o sucesso do Bayern de Munique, recentemente consagrado como Campeão Europeu, interrompendo o domínio dos clubes holandeses.
O certo é que naquela tarde estavam frente a frente não só as duas melhores equipas da Europa como as duas equipas mais fortes do mundo. Duas formas de encarar o futebol, duas fórmulas de sucesso. Os dados estavam lançados...
Tudo a postos...
O dia 7 de julho de 1974 marcava o inicio da rivalidade entre holandeses e alemães. Até essa tarde, em Munique, nunca holandeses e alemães se tinham enfrentado em jogos oficiais. A expectativa era imensa e 75,200 pessoas lotavam as bancadas do futurista Olympianstadion, que somente dois anos antes fora palco das Olimpíadas de 1972 de triste memória (1).
As equipas entraram em campo, perfilaram-se perante a tribuna e escutaram-se então os hinos. Primeiro o Wilhelmus van Nassouwe e depois foi a vez dos alemães entoarem o Das Lied der Deutschen, com direito galhardetes enquanto a banda abandonava o relvado. A bola estava pronta para rolar...
Arranque de sonho
Eram quatro da tarde (CET) quando o inglês Jack Taylor apitou para o começo da partida. Os holandeses saíram com a bola, trocando-a no meio-campo, começando o seu famoso carrossel e fazendo-a rodar pelo quarteto defensivo até chegar aos pés de Haan que parou o jogo à espera que Cruijff fosse buscá-la e levá-la até ao meio campo contrário. Este entregou a Rijsbergen que deixou em Krol na esquerda que, por sua vez, jogou para Rensenbrink que quase na esquina da área recuou para Rijsbergen para depois atrasar o jogo até Cruijff no círculo central.
O «14» pegou na bola, avançou em direcção a Vogts, deixou o defesa do Mönchengladbach e, quando estava a entrar na área, foi derrubado por Uli Hoeneß, Taylor não hesitou e apontou para a marca dos onze metros. Neeskens pegou no esférico e desfeitou Sepp Maier. 0x1! Um minuto de jogo jogado e a Holanda estava na frente, emudecendo os anfitriões, com treze trocas de bola até à entrada descuidada de Hoeneß sobre Cruijff.
Rinus Michels não podia ter sonhado num melhor começo para a sua equipa. A vencer, com a moral ao máximo, os seus craques podiam segurar o jogo e aproveitar o avanço alemão no terreno para resolverem a partida em golpes rápidos, à imagem do que tinham feito ao Brasil na segunda fase da prova (2x0).
Poucos podiam perceber nesse momento, mas a jogada de Cruijff tinha sido o único momento em toda a partida em que o holandês conseguiu fugir à marcação dos defesas alemães. A partir do primeiro minuto, Cruijff saiu do jogo e, com o «14» anulado, a Holanda nunca seria a mesma coisa.
Reação germânica
Sem tocarem no esférico, os alemães já perdiam o jogo. Qualquer equipa teria imensa dificuldade em recuperar de tal golpe, nem a Alemanha seria exceção. Do outro lado do campo, os holandeses tomaram o golo como a confirmação da sua superioridade.
Cruijff, Neeskens, Rensenbrink, Haan, Rep, Krol e companhia começaram a trocar o esférico, sentindo que podiam humilhar os alemães com a sua posse de bola. Do outro lado, Beckenbauer incentivava os colegas.
Enquanto os holandeses jogavam para as bancadas, ou, como se diria hoje, para a «nota artística», os alemães faziam por sobreviver de forma organizada, ao contrário do adversário que se desorganizava e baixava os níveis de concentração.
Aos 26 minutos, Bernd Holzenbein tentava furar em direção à baliza holandesa quando Wim Jansen esticou a perna e derrubou o extremo-esquerdo alemão. Paul Breitner pegou na bola e fuzilou a baliza de Jongbloed. 1x1 e a final voltava à estaca zero.
Reviravolta
As bancadas acordaram e começaram a apoiar a equipa. Após o susto inicial, os alemães voltavam a acreditar que era possível conquistar novamente o Mundial tal e qual como há 20 anos quando os heróis germânicos, liderados por Fritz Walter, bateram a toda favorita Hungria, a «Holanda do seu tempo».
Os holandeses demoraram a acordar, enquanto os alemães redobravam o esforço. Cada bola dividida parecia a última do jogo e a Mannschaft pressionava a posse de bola dos holandeses.
Foi então que Bonhof intercetou um cruzamento de Suurbier e atrasou para Sepp Maier. Este lançou a bola para Hoeneß, que deixou em Grabowski, que temporizou para lançar a corrida de Bonhof. O 16 correu para a linha de fundo, enquanto os adeptos se levantavam dos seus lugares, deixou o defesa para trás e passou para o centro da área, onde Gerd Maier não dominou a bola à primeira, mas rapidamente reagiu para bater Jongbloed com um remate em rotação. 2x1 e a equipa da casa passava para a frente.
O Muro de Munique
Aproximadamente 600 quilómetros separam a capital bávara de Berlim, mas, nessa tarde, em Munique, um novo Muro surgiu à frente da área alemã preparado para aguentar o assalto da Laranja Mecânica.
Se a primeira oportunidade do segundo tempo esteve na cabeça de Bonhof, os restantes 45 minutos foram um mar de ataque holandês, com a defesa alemã, comandada por Beckenbauer que era maravilhosamente secundado por Maier e Vogts, evitando cada nova vaga holandesa.
O jogo endureceu, as faltas sucediam-se e a Alemanha Ocidental parava a máquina holandesa, com Michels a sentir-se impotente no banco e sem conseguir desatar o «nó górdio» que os alemães haviam atado à volta da sua equipa, anulando completamente o futebol total que encantara o mundo durante a prova.
Com o relógio a contar, os holandeses acamparam no meio-campo adversário, mas a segurança teutónica parecia inabalável e as esperanças holandesas esgotavam-se.
Quando Taylor apitou para o final, a Alemanha Ocidental voltou a festejar a conquista de um Campeonato do Mundo depois de terem batido a favorita na final. Coube a Beckenbauer a honra de erguer a Taça de Campeão do Mundo da FIFA, o novo troféu criado para substituir o anterior - a Taça Jules Rimet - conquistado definitivamente pelo Brasil quando o escrete conquistou o tri no Mundial do México (1970).
(1) O Massacre de Munique teve lugar durante os Jogos Olímpicos de Verão de 1972 quando, no dia 5 de setembro, 11 membros da equipa olímpica de Israel foram tomados como reféns pelo grupo terrorista palestiniano denominado Setembro Negro. Entre atletas, treinadores, terrorista e polícias, faleceram 17 pessoas, na maior tragédia que teve lugar na história das olímpiadas.
O governo da RFA, então liderado pelo primeiro-ministro Willy Brandt, recusou-se a permitir a intervenção de uma equipe de operações especiais do Tzahal, conforme proposta da premiê de Israel, Golda Meir.