Em 1996, o Campeonato Europeu da UEFA deu o salto em frente, passando a contar com dezasseis equipas na fase final, quinze provenientes da fase de qualificação e a Inglaterra, qualificada automaticamente como organizadora do evento. «Football is coming home» ou « O futebol está de volta a casa» foi um lema constante, cantado orgulhosamente, pela pátria que dera o jogo ao mundo.
Desde o alargamento do Campeonato do Mundo em 1982, que se tornara mais fácil para as seleções europeias qualificar-se para a fase final do mundial que para um Campeonato da Europa. Com o desmembrar da União Soviética, Checoslováquia e Jugoslávia, passou-se em quatro anos de 33 participantes para 48, a UEFA achou por bem alargar a fase final, criando um quase mini Campeonato do Mundo e assegurando assim, a presença habitual de todas as grandes equipas e estrelas.
A fase de qualificação não dececionou a UEFA com as principais equipas a marcarem presença nos campos ingleses. Por outro lado, suíços, turcos e búlgaros chegavam pela primeira vez ao grande palco, enquanto russos, checos e croatas participavam pela primeira vez na competição, nas suas novas encarnações pós-muro de Berlim.
Entre as ausências destacavam-se a Bélgica, a Suécia (medalha de bronze no mundial de 1994), a Noruega e a Rep. Irlanda que tinham estado presentes no mundial dos E. Unidos.
Mas Gazza e Shearer calariam os críticos durante a prova, mesmo depois de uma exibição mais apagada frente à Suíça na estreia que valeu um empate (1x1) e o primeiro golo do avançado geordie na prova. Seguiu-se uma exibição de classe frente a Escócia com os golos a serem apontados pela dupla Gazza-Shearer.
No último jogo, Teddy Sheringham juntou-se à festa apontando dois golos, que juntamente com dois golos de Shearer valeram uma vitória clara sobre a Holanda por 4x1, que com o golo tardio de Kluivert garantiu o segundo lugar no grupo em detrimento da Escócia.
Mas o que realmente impressionava o público inglês era a solidez do futebol da sua equipa e o notório crescimento de forma, de jogo para jogo de Gazza, Shearer, Ince, Anderton, McManaman ou Sheringham.
O Grupo B era fortíssimo. À Bulgária, que dois anos antes fora quarta classificada do mundial norte-americano, juntavam-se a Espanha e a Roménia, que tinham caído apenas nos quartos-de-final do mundial, e ainda a França de Aimé Jacquet, que deixara Cantona e Ginola em casa, apostando tudo na nova geração que surgia à volta da classe de Zinedine Zidane e ainda alguns consagrados.
Tudo começou com um empate entre espanhóis e búlgaros, enquanto a França suava para bater Hagi e companhia. Na segunda jornada, um golo de Stoichcov colocou a Bulgária no bom caminho e deixou a Roménia fora da discussão, enquanto a Espanha voltava a empatar já perto do fim a 1x1, com um golo de Caminero, depois de ter estado a perder desde o golo de Djorkaeff (49´).
No último dia, em Newcastle, a França impôs-se à Bulgária por 3x1, e a Espanha viu um golo tardio de Amor, valer uma vitória por 2x1 que lançou a Roja para a segunda fase.
Nunca um grupo havia reunido um historial tão grande como o grupo C do Euro 96. Alemanha (1972 e 1980), Itália (1968), Rússia como sucessora da URSS (1960) e Rep. Checa como sucessora da Checoslováquia (1976), as quatro seleções juntas representavam cinco Taças Henri Delaunay, o que é significativo, ainda para mais se se levar em conta que até aí só tinham sido disputadas nove edições. Num dos sortilégios de que o futebol é pródigo, o grupo histórico, calhou em sorteio disputar os seus jogos nos não menos históricos Old Trafford e Anfield Road.
Num dos sortilégios de que o futebol é pródigo, o grupo histórico, calhou em sorteio disputar os seus jogos nos não menos históricos Old Trafford e Anfield Road.
Italianos e alemães partilhavam o favoritismo, estando contudo os germânicos melhor cotados que os vice campeões mundiais nas casas de apostas londrinas, mas aos checos, a levar em conta as previsões das casas de apostas, estava destinado um rápido regresso a casa.
A primeira jornada não defraudou as expectativas, alemães e italianos começaram vencendo respetivamente checos e russos.
No segundo jogo os alemães destruíram os russos com um claro 3x0, enquanto os checos começaram a enganar a sorte, batendo os italianos por 2x1, antes de empatarem a três com os russos e beneficiando do empate a zero entre alemães e italianos, para carimbar a passagem a segunda parte, deixar a Itália de fora, e condenar Arrigo Sacchi ao desemprego.Num dos sortilégios de que o futebol é pródigo, o grupo histórico, calhou em sorteio disputar os seus jogos nos não menos históricos Old Trafford e Anfield Road.
Italianos e alemães partilhavam o favoritismo, estando contudo os germânicos melhor cotados que os vice campeões mundiais nas casas de apostas londrinas, mas aos checos, a levar em conta as previsões das casas de apostas, estava destinado um rápido regresso a casa.
O grupo D, apesar da presença da campeã em título Dinamarca, era o patinho feio da prova, com a presença de turcos, croatas e portugueses, atores pouco habituados aos grandes palcos. Mas foi considerado por muitos, como o mais surpreende dos grupos, com grandes jogos e o futebol sedutor de croatas e portugueses a dar cartas nos estádios de Inglaterra.
Os portugueses começaram por travar a campeã, com Sá Pinto a responder ao golo de Brian Laudrup, empatando a partida; por sua vez os croatas batiam a Turquia por 1x0, antes de esmagarem a Dinamarca no segundo jogo com um claro 3x0. Portugal sofreu para bater a Turquia por 1x0 e partiu para o último jogo a necessitar pontuar, enquanto a Croácia, já qualificada, resolvia alinhar com as segundas linhas, porque Miroslav Blazevic achava que preferia defrontar a Alemanha nos quartos. Indiferente a tudo isso, Portugal não perdoou e os golos de Figo, João Pinto e Domingos, deixaram os lusos no primeiro lugar do grupo.
Os quartos começaram em Wembley, com um tenso embate entre ingleses e espanhóis, onde o nulo resistiu até às grandes penalidades, momento em que os falhanços de Hierro e Nadal, mandaram a Espanha de volta para casa.
Pouco depois, em Liverpool, o nulo voltou a resistir ao futebol de franceses e holandeses, obrigando a nova «lotaria da marca dos onze metros». Clarance Seedorf foi o único a falhar e a Holanda dizia adeus a uma competição, onde esteve longe do futebol de outros tempos.
No segundo dia dos quartos-de-final, finalmente os golos surgiram. Primeiro, dois golos da Alemanha, contra o golo único de Suker, chegaram para fazer Blazevic engolir as suas próprias palavras. Já em Birmingham, checos e portugueses jogavam uma oportunidade histórica de chegarem às meias-finais. O equilíbrio só foi rompido com o magistral chapéu de Poborsky a Baía, era o fim do sonho português e a ruína das casas de apostas londrinas...
A 26 de Junho, no Villa Park de Birmingham, os franceses voltaram a mostrar aversão pelas redes adversárias durante 120 minutos, e como desta vez a República Checa não sacou nenhum coelho da cartola, leia-se um chapéu à Poborsky, o jogo seguiu para o inevitável desempate por grandes penalidades. Reynauld Pedros falhou o sexto, Kadlec não, e contra todas as expectativas os checos chegavam à grande final.
Será certo dizer que o mundo, com a óbvia exceção da Alemanha, torcia pelos checos na grande final de Wembley. Perante a Rainha Isabel II, os dois capitães apresentaram as suas equipas, tocaram os dois hinos e minutos depois o italiano Pairetto apitava para o pontapé inicial.
O jogo foi tático, calculista, com os checos à espera da iniciativa alemã, enquanto a Mannschaft parecia temer o tanto que tinha a perder numa final onde era esmagadoramente favorita. O empate foi quebrado aos 59 minutos, através de uma grande penalidade transformada por Patrik Berger.
Os alemães acusaram o toque e dez minutos depois Vogts retirou Scholl e lançou Bierhoff. Quatro minutos depois, o avançado toca na bola e faz o empate. A Alemanha voltava ao jogo. O ritmo acalmava, o prolongamento chegava.
Cinco minutos depois de retomado o encontro, Bierhoff encontrou o caminho da fama, apontando o seu segundo jogo, resolvendo a partida e o campeonato. Os alemães festejavam euforicamente, enquanto os checos caiam por fim, pelo relvado, com angústia da derrota à custa de um golo supostamente de ouro.