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Euro 60: o pontapé de saída

Texto por João Pedro Silveira
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O sonho de um homem

A ideia de um campeonato pan-europeu de futebol, organizado em moldes próximos do que viria a ser o Campeonato do Mundo da FIFA, surgiu pela primeira vez em 1927, por sugestão de um francês, Henri Delaunay.

Henri Delaunay, fundador e primeiro Presidente da UEFA, mentor da ideia de realizar um Campeonato da Europa de futebol para seleções.
Delaunay, um membro da FIFA, próximo de Jules Rimet - o «pai» do Campeonato do Mundo - sonhou criar uma competição aberta a todos os países europeus, que cimentasse a paz entre as nações e a cooperação entre os povos.
 
Era um tempo em que as feridas da I Guerra Mundial estavam ainda cravadas no continente e a ameaça de um novo conflito começava a pairar no ar. A revolução bolchevique na Rússia e a «ameaça comunista», a ascensão de regimes totalitários em Itália, Portugal e mais tarde na Alemanha, a Guerra Civil em Espanha e a fraqueza das democracias europeias... Tudo isto acabou por arrastar a Europa para uma segunda guerra, ainda mais destrutiva, genocida...
 
Com o advento da II Grande Guerra, o futebol foi interrompido e assim continuou nos anos que se seguiram, enquanto as prioridades do continente se centravam na reconstrução e recuperação económica.

Fundação da UEFA e o sonho realizado

O futebol europeu deu um passo em frente quando se fundou a UEFA em 1954, com Delaunay como principal impulsionador e seu primeiro Presidente.
 
No ano seguinte surgia a Taça dos Campeões Europeus, iniciando-se a extraordinária aventura das competições europeias que em breve apaixonaria todo um continente e o resto do mundo...
 
Mas seria apenas em 1958 - três anos depois da morte de Delaunay - que a UEFA decidiu abraçar o projeto do Campeonato Europeu de Futebol, a Taça Henri Delaunay.

Um «mar» de dificuldades

A «Cidade Luz» recebeu a primeira final de um Campeonato da Europa.
Os primeiros tempos foram difíceis. À forte concorrência do Campeonato do Mundo e dos Jogos Olímpicos somava-se o surgimento das competições europeias de clubes. Muitas federações e clubes temiam que uma nova competição viesse sobrecarregar o calendário. Neste contexto, não foi de estranhar o facto de vários países menosprezarem a competição e outros, até, preferirem não participar. Tal como acontecera nas primeiras edições do Campeonato do Mundo, as seleções britânicas (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales) recusaram entrar no torneio.
 
Contudo, não foi só a Grã-Bretanha a virar as costas a uma grande competição, neste caso o Euro 60. Na Europa continental, seleções com grande prestígio e historial como a Alemanha, a Itália, a Suécia, a Bélgica, a Suíça e a Holanda declinaram «cordialmente» o convite. 

E a bola finalmente rolou

Foram apenas 17 os países que participaram no Euro 60. O pontapé de saída foi dado com uma pré-eliminatória disputada a duas mãos entre a República da Irlanda e a Checoslováquia, que os de leste superaram sem grandes dificuldades.
 
Na primeira eliminatória, disputada igualmente a duas mãos, (tal como os quartos-de-final) o grande jogo opôs soviéticos e húngaros, com os primeiros a superarem a ronda com uma dupla vitória. Noutro jogo os franceses também não tiveram muitos problemas, goleando os gregos por 7x1 e limitando-se depois a gerir o esforço na segunda-mão, em Atenas.
 
Talvez a grande surpresa da primeira eliminatória tenha vindo dos países ibéricos, com as surpreendentemente fáceis duplas vitórias de Portugal e Espanha, respetivamente contra a R.D.A. e a Polónia.

E a política entrou na história
 

O Generalíssimo Franco, ditador espanhol que impediu a sua seleção de defrontar a União Soviética por motivos polítcos.
Nos quartos chegou o primeiro caso da história da competição. À Espanha calhara em sorte defrontar a União Soviética, tendo o sorteio ditado que o primeiro jogo seria em Moscovo.
 
O regime de Franco tinha cortado qualquer tipo de relação com a U.R.S.S. desde a Guerra Civil de Espanha (1936-39), sendo proibido aos cidadãos espanhóis deslocarem-se à Rússia ou contactarem com qualquer cidadão soviético. Isto assumia-se como um problema para o selecionado espanhol.
 
O Generalíssimo, após uma reunião da cúpula política com os dirigentes da Federação Espanhola, decidiu que a Espanha abandonava a competição, recusando que uma seleção nacional espanhola pisasse solo soviético.
 
Portugal voltou a defrontar um país do bloco de leste, começando com uma vitória por 2x1 em Lisboa, sobre a Jugoslávia. Na segunda volta, uma derrota por 5x1 em Belgrado, deixou os lusos fora da fase final, para a qual se qualificaram as seleções da França e da Checoslováquia.

As quatro melhores equipas da Europa encontram-se em França

Os franceses foram escolhidos para serem os anfitriões do primeiro Campeonato da Europa, sendo Paris e Marselha as cidades escolhidas como palco da primeira edição.
 
Em Marselha, no Vélodrome, os soviéticos venceram os checoslovacos por um claro 3x0, enquanto na «Cidade Luz» os anfitriões e os jugoslavos disputaram o primeiro encontro épico da história da competição.
 
A um quarto de hora do fim os franceses venciam por 4x2, com o caminho aberto para a grande final do Parc des Princes, mas Knez com um golo e Jerkoviæ com outros dois, mudaram por completo o sentido da partida, deixando os bleus fora da competição...

URSS conquista a Europa

A 10 de julho, Arthur Edward Ellis apitou para o início da partida no Parc des Princes, engalanado, mas longe de estar cheio, dando início à primeira final de um Europeu.
 
O favoritismo pendia para a U.R.S.S., mas a Jugoslávia era então uma das seleções mais temidas do continente. Galiæ colocou a equipa balcânica na frente, pouco antes do intervalo, mas após o recomeço, Metreveli empatou a partida.
 

Jogadores soviéticos festejam a conquista do Campeonato Europeu na final realizada na «Cidade Luz».
Foi preciso esperar pelo prolongamento para os soviéticos resolverem a final e conquistarem a primeira Taça Henri Delaunay da história. Paris recebeu indiferentemente os campeões, assistindo-se apenas a um fugaz apoio aos «vermelhos» pela elite intelectual comunista francesa, que vivia os últimos anos do enamoramento por Moscovo.
 
No Kremlin, os heróis foram recebidos por um efusivo Nikita Khrushchev, feliz com a supremacia que os atletas soviéticos atingiam no desporto mundial.

Comentários

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motivo:
QU
bela história
2012-05-01 15h04m por Quark___Back
este campeonato da europa. o primeiro de muitos.
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