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Argentinos em exclusivo ao zerozero

Farías, Belluschi e o título «proibido» do Benfica no Dragão: «Era impensável»

Três anos antes do milagre de Kelvin, o Estádio do Dragão esteve sob forte ameaça. Numa hostil OPA desportiva, o Benfica entrou na relva do FC Porto a um ponto de celebrar o título nacional. Uma afronta impossível de suportar aos da Invicta.

Seria a primeira vez que as águias celebrariam o campeonato na casa do velho rival nortenho e, naturalmente, teria um travo extra de satisfação – os dragões que o digam.

qAdmito que foi um alívio muito grande ganhar esse jogo, mesmo sabendo que não íamos ser campeões e que o Benfica, à partida, celebraria na última jornada
Ernesto Farías
Dia 2 de maio de 2010 (3-1), os azuis e brancos completamente fora da luta pelo título, estacionados num penoso terceiro lugar, atrás de Benfica e… SC Braga. Noite de medos, fantasmas, espanta-espíritos e mezinhas, momento de invocar todas as energias universais e impedir o «impensável», na perspetiva do FC Porto.

A dois dias de um Clássico com pontos em comum – o FC Porto absolutamente obrigado a triunfar -, o zerozero evoca as memórias desses 90 minutos de tensão e luta, escritos e realizados até desenharem um final feliz para o mundo portista.

Final de ciclo para Jesualdo Ferreira, mente fragilizada por um ainda recente 3-0 recebido na final da Taça da Liga, mais temor do que confiança, ao contrário do que era habitual.

O Dragão, como as Antas, revelaram-se vezes várias uma casa dos horrores para o visitante da Luz. Entre 1977 e 2005, o Benfica conseguiu apenas duas vitórias para o campeonato: 1991 na tarde de César Brito e 2005 no bis de Nuno Gomes.

Daí para cá, mais três vitórias das águias: 0-2 em 2014 (dois golos de Lima), 1-2 em 2019 (Adrián López antes de João Félix e Rafa) e 0-1 em 2022 (Rafa novamente).

Numa temporada de anormal distância pontual, quando a meta ainda nem se vislumbra, o FC Porto está confrontado com a sobrevivência emocional: reduz o atraso para seis pontos e mantém-se vivo na perseguição ou permite a fuga definitiva do Benfica – um empate deixará tudo em irrecuperáveis nove pontos para os dragões.

Lembram-se do termo «impensável»?

Foi utilizado por Ernesto Farías e Fernando Belluschi na conversa com o zerozero, a propósito do marcante Clássico de 2010. Os argentinos, heróis e autores de golos nesse duelo, pedem a mesma «coragem» para domingo à noite.

«Não lhes podíamos permitir o título, impossível»

Um FC Porto-Benfica é uma questão séria, de punho na mesa e convicções inegociáveis. Seja em 2010 ou em 2024, ingredientes intactos.

«Admito que foi um alívio muito grande ganhar esse jogo, mesmo sabendo que não íamos ser campeões e que o Benfica, à partida, celebraria na última jornada», sussurra Ernesto Tecla Farías, atacante portista de 2007 a 2010, mais vezes lançado a partir do banco do que nome titular – 44 vs 35 -, mas com um incomum faro pelo golo: 34.

Farías a celebrar um golo pelo FC Porto @Getty /
Nesse FC Porto-Benfica de 3-1, Farías aproveitou a ausência do indiscutível Radamel Falcao e fez o que melhor sabia.

Depois do 1-0 de Bruno Alves em cima do intervalo e do empate de Luisão, o rato de área recebeu uma assistência de Fernando Belluschi - após o guarda-redes Quim afastar a soco -, susteve o contacto do enorme Luisão e rematou para o 2-1.

Momento decisivo.

«Um avançado quer sempre marcar golos e ainda mais num Clássico», continua Farías, hoje treinador nas camadas jovens do River Plate. «Foi a primeira vez que marquei ao Benfica e o golo acabou por ser fulcral. Lembro-me que o Fucile tinha sido expulso, eles empataram logo a seguir e criou-se uma atmosfera má no estádio. Quando marquei, a explosão foi extraordinária.»

Um FC Porto reduzido a dez unidades, um Benfica a arriscar na busca do empate que significaria o título – na casa do maior rival desportivo dos últimos 30 anos, insistimos – e o génio de Belluschi a resolver tudo. Dúvidas sepultadas.

«Falar desse golo ainda me emociona», responde Belluschi, 40 anos e a competir na segunda divisão da Argentina (Estudiantes Río Cuarto), apesar de estar a recuperar de uma lesão grave no joelho.  

«Recebi na esquerda, fiz um túnel ao meu ídolo Aimar e arrisquei o remate. Foi um golazo, uma celebração estupenda e um alívio. Nós não podíamos permitir uma desfeita tão grande aos nossos adeptos.»

Dois argentinos, as mesmas sensações.

«A semana não foi fácil para a equipa, tenho a lembrança disso», avalia Farías. «Tínhamos na cabeça a certeza de que eles seriam campeões no Dragão se empatassem e isso não podia acontecer. Não o podíamos permitir, era impossível imaginá-lo.»

Num assomo de orgulho, que pouco mais valeu do que isso, o FC Porto adiou a festa do Benfica. Na última jornada, a receção ao Rio Ave acabou com um 2-1 e os homens de Jorge Jesus festejaram o título. Mas não em terreno azul e branco, o último desejo dos portistas.

 «Nós não estávamos bem no campeonato e queríamos muito dar essa satisfação à nossa gente. Creio que o sentimento para domingo será o mesmo», avança Belluschi, dragão de 2009 a 2012, 113 jogos e sete troféus no total.

«Foi o meu último golo e último jogo pelo FC Porto»

O concílio de argentinos tem perdido influência no FC Porto. Em 09/10 eram seis os representantes da pátria de Maradona e Messi (Farías, Belluschi mais Valeri, Prediger, Tomás Costa e Mariano González), em 23/24 Alan Varela é o resistente.

Belluschi a festejar no FC Porto @Catarina Morais
À distância de um oceano, Farías e Belluschi mantêm a ligação emocional e a paixão pelo azul e branco.

«Conseguimos coisas importantes para o FC Porto e o clube jamais sairá do meu coração. Foram três anos maravilhosos e faço questão de seguir o clube, sempre na expetativa de ver os resultados. Serei dragão para sempre», jura Ernesto Farías, antes de nos pedir as imagens do famoso golo ao Benfica.

«Já não o via há algum tempo. Eu era forte nessas jogadas. Usava bem o corpo, mesmo sem ser muito alto e forte, e depois era frio a rematar. Tinha muito a ver com a minha personalidade, sempre fui assim descontraído», reflete, num castelhano cerradíssimo.

Fernando Belluschi
2009/2010
40 Jogos  2703 Minutos
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«Bloqueei bem o Luisão e fiz o que tinha a fazer. Recordo esse momento com muita alegria, claro, mas também alguma saudade porque foi o meu último jogo e golo pelo FC Porto.»

Belluschi envia o abraço da praxe às pessoas do FC Porto e recorda os nomes de colegas e treinadores da época em Portugal. 14 anos depois de proibirem a festa encarnada no Dragão, suplicam a «mesma determinação» aos sucessores.

O Clássico não é uma questão de vida ou de morte, mas pode deixar cicatrizes eternas.

jogos históricos
U Domingo, 02 Maio 2010 - 20:15
Estádio do Dragão
Olegário Benquerença
3-1
Bruno Alves 42'
Ernesto Farías 59'
Fernando Belluschi 82'
Luisão 56'

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