Depois da derrota do Benfica contra o Zenit e das queixas do Sporting em relação à arbitragem de Gelsenkirchen, eis que um novo entrave russo se colocou na frente de uma equipa portuguesa. O resultado foi igualmente negativo, numa partida que voltou a deixar um sabor de injustiça às cores lusitanas, ainda que os de José Couceiro só se possam queixar de si próprios.
Numa partida que colocava frente-a-frente uma formação com um orçamento de quatro milhões e outra com um orçamento de 150 milhões de euros, foi exatamente nas ações individuais que a partida se desequilibrou, pois, no coletivo, o Estoril nunca esteve por baixo.
Não foi uma primeira parte deslumbrante, longe disso. Para quem esperava um Dynamo Moskva avassalador e a fazer jus ao seu estatuto de favorito pelo incomparável poderio financeiro, a equipa que se apresentou na Amoreira deixou muito a desejar, por uma atitude algo passiva nessa primeira parte, mas também porque o Estoril não se amedrontou com essas supostas diferenças.
Individualmente, elas existiram e existem, mas a equipa de José Couceiro compensou como já tinha feito diante do Panathinaikos: alma, crença e coragem a enfrentar essas desigualdades, alicerçando-se na atitude para equilibrar a partida.
Equilíbrio foi, de resto, a nota dominante do primeiro tempo. O Estoril não acusou a surpreendente eliminação da Taça de Portugal e deu claros sinais de que, como tinha avisado o treinador, se tratam de competições diferentes, necessariamente com abordagens distintas.
A equipa portuguesa mostou-se acertada a fechar as linhas e a anular sobretudo Valbuena, o jogador a quem os colegas de equipa mais vezes procuravam para tentar descobrir espaços. Os laterais estiveram bem e o meio-campo agigantava-se, com um Anderson Esiti a mostrar cada vez mais que é um talento a justificar outros patamares e com Tozé em claro crescendo de forma e de intensidade.
Na frente, Kuca e Sebá apoiavam Kléber e os três tentavam explorar ao máximo a pouca mobilidade do setor defensivo moscovita, rico em porte físico, mas débil na velocidade em bolas nas costas.
Só que, tudo somado e a primeira parte quase não se pode considerar que tenha tido oportunidades de golo. Seria o segundo tempo a abrir espaços e a permitir que as redes estivessem mais expostas.
Nessa altura, o Estoril esteve quase sempre por cima no desafio, sobretudo depois de Kokorin fazer um golo fortuito, num pontapé de muito longe e que, apesar do mérito, demonstrou que a sorte estava do lado russo, depois de a bola bater nos dois ferros antes de entrar.
Já com Zhirkov em campo, o Dynamo teimava em não pegar no jogo e o Estoril crescia à medida que se verificava que a frescura física se afastava cada vez mais dos forasteiros.
Uma, duas, três tentativas e sempre os russos a resolverem devensivamente, com Gabulov em evidência ao tirar o golo a Kléber, numa grande penalidade que haveria de ser a chave do desafio. É que foi pouco tempo depois, com o avançado a ser assistido fora das quatro linhas e os companheiros a tentarem compensar com pressão alta com dez, que os russos fecharam as contas do desafio, num belo cabeceamento de Zhirkov.
Beleza que ficou até ao fim, altura em que Yohan Tavares marcou um excelente golo, que mais não serviu do que para consolação de uma equipa que não merecia tamanho castigo, ainda que só se possa queixar de si próprio.
As contas ficaram mais complicadas para o Estoril, mas foram amenizadas pelo empate entre o PSV e o Panathinaikos, com um golo de Memphis Depay e outro de Ajagun, pelo que tudo ainda é possível no grupo E, caso os de Couceiro não percam na Rússia, na próxima jornada.
Uma nota final para um aspeto que, apesar não ser de índole tática, importa reter: 2164 espectadores num jogo europeu é claramente pouco (apesar de nem parecer muito mau, no atual panorama de assistências nacional). É certo que a Liga Europa não tem o peso de uma Liga dos Campeões, é também certo que o Estoril até é um exemplo de crescimento nos últimos anos, mas, numa semana importantíssima para o futebol português, face ao ato eleitoral para a Liga de Clubes, há muitos aspetos a serem revistos e mudados com medidas fortes e de rutura, para bem do futebol. Este assunto das assistências é um deles.
1-2 | ||
Yohan Tavares 90' | Aleksander Kokorin 52' Yuri Zhirkov 80' |