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    Roma

    Texto por João Pedro Silveira
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    Fundação

    A.S. Roma nasceu no quente verão de 1927 quando Italo Foschi, um secretário do Partido Fascista, iniciou um processo de fusão de três clubes romanos: o Roman FC, o SS Alba-Audace e o Fortitudo-Pro Roma SGS, com o objetivo de dotar a «Cidade Eterna», e capital do país, de um clube capaz de rivalizar com os potentados futebolísticos do norte de Itália. 

    Italo Foschi, fundador e primeiro presidente da AS Roma.
    A Lazio seria o único clube a escapar à fusão graças à intervenção do General Vaccaro, director dos laziale, que conseguiu mover as suas influências no regime, para a Lazio não ser incorporada no novo clube romano.

    A 7 de julho, no número 16 da Via Forli, nascia a Associazone Sportiva Roma, como documentaram diversos matutinos romanos na manhã seguinte. A data oficial, contudo, é a do dia 22 de julho, que ainda hoje é celebrado como o aniversário da Roma.

    O novo clube foi buscar o símbolo à imagem da Loba (1) que amamenta os pequenos Rómulo e Remo, mito fundador e emblema da cidade que lhe dá nome, além de também lhe «roubar» as cores, o vermelho e o amarelo torrado, cores dos antigos estandartes das legiões romanas, onde se podia ler o icónico SPQR. (2)

    Primeiros pontapés

    Um ano após a fundação, Renato Sacerdoti tomou o lugar de Foschi, tornando-se no primeiro grande líder da Roma, fundamental no crescimento da nova società.

    Os primeiros anos foram de afirmação, com o clube a manter-se regularmente no topo da classificação e a internacionalizar-se com a presença na Taça Mitropa em 1931, em que depois de eliminar os checoslovacos do Slavia de Praga, caiu nas meias finais às mãos do poderoso First Vienna FC, que acabaria por vencer a competição só com vitórias. 

    A formação da Roma antes de uma partida do campeoanto a 25 de setembro de 1927. Da esquerda para a direita, e de trás para a frente: o Presidente Foschi, o treinador Gambutt, Ziroli, Fasanelli, Bussich, Cappa, Chini, o massagista Angelo Cerretti, o segundo massagista Umberto Mogiani, Ferraris IV, Degni, Rovida, Mattei, Rapetti, Corbyons.
    Este período ficou protagonizado pelo surgimento dos primeiros craques da história giallorossa. Heróis e pioneiros como o capitão Attilio Ferraris IV, o guarda-redes Guido Masetti, o médio Fulvio Bernardini ou o primeiro goleador da equipa, terror das balizas adversárias, Rodolfo Volk, autor de 103 golos com a camisola do clube.

    A fuga dos argentinos

    No verão de 1933, os adeptos confrontaram a direção após a Roma ter vendido o goleador Volk, e crime dos crimes, ter aceitado a transferência do capitão Ferraris para a rival Lazio.

    Para controlar os ânimos, o presidente dá três golpes de mercado e contrata os «três mosqueteiros argentinos»: Enrico Guaita, conhecido como o Corsaro Nero, Alessandro Scopelli que passaria mais tarde por Belenenses, Benfica, Porto e Sporting, e ainda Andrea Stagnaro; três oriundi (3) que brilhavam em Itália e os dois primeiros vestiram a mítica maglia azzurra. (4)

    Ajudaram o clube a chegar ao quarto e ao quinto lugar e ganharam a naturalização para jogar pela seleção, mas foi então que em 1936, com a declaração de guerra da Itália à Abissínia, os três, com medo de serem convocados, desertaram, fugindo de volta para a Argentina.

    Muito se falou da situação, com alguns a lembrar a origem hebraica dos jogadores, e o medo das novas leis anti-semitas que começavam a vigorar também na Itália. Desiludido com toda a questão o presidente Sacerdoti abandonou o cargo, mas para surpresa de todos, a Roma conseguiu conquistar o segundo lugar na época 1935-36.

    A guerra e o primeiro Scudetto

    Com a Itália a entrar na II Guerra Mundial ao lado da Alemanha, a situação do país começa a deteriorar-se. A Roma também vive momentos difíceis e luta para manter-se entre os grandes. A maioria dos jogadores troca as chuteiras pelas armas e parte para lutar nas campanhas em África, Albânia e Grécia. A Roma fica sem mais de meia equipa e é obrigada a chamar os veteranos que são comandados pelo treinador húngaro Alfred Schaffer, que baseando-se na segurança do portiere Masetti e no faro goleador de Amedeo Amadei, constrói uma equipa, que semana após semana, vai batendo os favoritos. 

    Plantel campeão em 1941-42.
    Contra todos os prognósticos, a Roma isola-se na liderança e após muita luta, vence a concorrência do Torino e sagra-se campeã italiana em 1941-42, conquistando o seu primeiro Scudetto. Sem tempo para grandes celebrações, os romanos vivem durante os anos seguintes as amarguras do conflito.

    Um ano depois, em julho de 1943 os aliados desembarcaram na Sicília e três meses mais tarde, americanos e ingleses desembarcam na Calábria e outras províncias do sul de Itália.

    Avançando para norte, acabaram por entrar em Roma a 4 de junho de 1944. Como tanto mais na sociedade italiana, em tempo de guerra, o futebol parou e só seria retomado no fim do conflito.

    O declínio e o renascimento

    O pós-guerra confirmou um declínio que já se adivinhava antes da conquista do scudetto, com a Roma a ver-se reduzida a lutar para não descer. Após épocas de sofrimento acaba mesmo por cair de divisão em 1951. Regressaria logo na época seguinte, sagrando-se campeão com mais um ponto que o Brescia, mas só nos «gloriosos» anos sessenta voltaria a atingir um estatuto próximo do que hoje lhe reconhecemos.

    A Roma festeja a conquista da Taça das Cidades com Feiras de 1960-61, depois de bater o Birmingham City na final a duas mãos. O capitão Losi transporta a taça, o primeiro troféu internacional do clube.
    A mudança para o novo estádio, a contratação do uruguaio Ghiggia - autor do golo decisivo no mundial de 1950 - e do brasileiro Dino Costa, foram alimentando a esperança dos adeptos. 

    Em 1961 conquistou a Taça das Feiras - o seu primeiro troféu internacional - e três anos depois venceu a Taça de Itália pela primeira vez, pondo fim a um longo jejum de conquistas nacionais.

    Até ao final da década o clube viveu com dificuldades, culpa da crise financeira, conseguindo ainda conquistar a sua segunda Taça em 1969, sob a orientação do mago Helenio Herrera e a liderança em campo de Giacomo Losi, o Core de Roma (5), símbolo vivo do clube, que  então «pendurou as botas» após 15 anos em que fez 450 jogos oficiais com a camisola giallorossa, um recorde que só seria batido por outro verdadeiro caso de amor com a Roma: Francesco Totti.

    A década triste

    A década de setenta foi um período de triste memória para os romanos. Sem títulos, nem campanhas de mérito, os «lobos» sofreram com a ascensão da rival Lazio ao topo do futebol italiano e particularmente com a conquista do Scudetto pelos laziale em 1973-74.

    Já antes, com o abandono de Losi e as vendas de Spinosi, Capello e Landini à Juventus, a equipa romanista ficara reduzida a um conjunto de velhas glórias, jovens promessas e contratações obscuras que tinham falhado por onde passavam, provocando uma descrença tal nos adeptos, que a equipa passou a ser depreciativamente denominada como Rometta.  

    Pierino Prati e Giancarlo De Sisti em 1974.
    Contudo, a década não foi perdida, pois durante esses anos surgiram algumas das mudanças que ajudariam a tornar a Roma naquilo que todos reconhecem. 

    A contratação do sueco Nils Liedholm para o banco em 1974 (regressando em 1980) ou a chegada à presidência de Dino Viola em maio de 1979, eram as fundações do sucesso giallorosso nos anos oitenta.

    É também desse período (1974-75) a composição do hino «Roma, Roma, Roma» da autoria de Antonello Venditti, e a unificação das claques romanistas na Curva Sud do Stadio Olímpico.

    Rissorgimento: Anos oitenta

    Em 1980, com Liedholm ao leme, a Roma conquista nova Taça de Itália e na época seguinte, discute taco-a-taco com a Juventus a conquista do campeonato, mas a vitória foge para Turim. Como compensação, reconquista a Taça, conseguindo pela primeira vez ganhar por duas vezes seguida uma competição.

    Insatisfeito, Viola vai buscar o internacional brasileiro Paulo Roberto Falcão, naquela que é reconhecida como a melhor contratação de sempre da «Loba». 

    Liedholm pode então tomar conta de uma máquina que contava com a segurança de Tancredi, Vierchowod, Nela e Maldera, um meio campo de luta e classe com Di Bartolomei, Falcão, Ancelotti e Prohaska, e um ataque demolidor com Pruzzo e Bruno Conti.

    A equipa da Roma campeã em 1982-83 em Subbuteo, numa edição especial pintada à mão comemorativa da conquista do scudetto.
    A conquista do título deixou a cidade em estado de total euforia, com os romanistas a festejarem loucamente a conquista do Scudetto, quarenta e um anos depois...

    Na época que se seguiu, a Roma chegou à grande final da Taça dos Campeões, disputada no seu estádio, mas perdeu no desempate por grandes penalidades com o gigante Liverpool.

    O fim do reinado Viola

     

    Viola sentia que precisava mexer no clube e abanar a estrutura, com isso em mente, para o lugar do mestre Liedholm foi buscar outro sueco, Sven-Göran Eriksson, um jovem treinador que fizera sucesso no Gotemburgo e no Benfica

    Eriksson conquistou mais uma Taça, mas acabou por sair sem conquistar nem o campeonato, nem um troféu europeu, saindo para dar lugar a Sormani, que também não tem sucesso.

    Liedholm regressa, mas já sem sucesso, saindo meses depois. Os treinadores sucediam-se e a Roma limita-se a conquistar a Taça de Itália, primeiro em 1986 e depois em 1991, ano em que também chega à final da Taça UEFA, perdida para o Inter

    A era Totti

    Batistuta, Montella e Totti, no abraço de celebração da conquista do Scudetto de 2000-01.
    É já durante a década de noventa que entra em cena o maior símbolo da história romanista, Francesco Totti, um jovem talento que subiu à primeira equipa em 1993. Seria ele, que juntamente com os brasileiros Aldair e Cafu, o goleador argentino Gabriel Batistuta, e ainda Vincenzo Montella, conquistariam o terceiro Scudetto da história romanista em 2000-01.

    A Roma campeã no novo milénio era uma grande equipa orientada pelo não menos grande Fabio Capello, um homem da casa, que em 1999 regressara ao clube que nos anos setenta defendera como jogador, antes de se mudar para a Juventus.

     
     

    As presenças constantes no topo da tabela e na Liga dos Campeões, tornaram o prestígio e reconhecimento da Roma, dentro e fora de Itália, ao nível os anos gloriosos de Falcão e companhia. A conquista da Supertaça em 2001 e das Taças em 2007 e 2008, e de mais uma Supertaça, cimentaram a Roma como um dos clubes de topo no país, o único capaz de rivalizar regularmente com a força do tridente Juventus, Milan e Inter

    Duas duras saídas e um novo amanhecer

    Em 2011, a família Sensi foi obrigada a abdicar da presidência do emblema romano para saldar algumas dívidas, colocando um ponto final numa (linda) era que durava desde 1993. O comando dos romanos passou para um grupo de investimento americano denominado AS Roma SPV LLC, liderado por Thomas R. DiBenedetto, com James Palotta (atual Presidente), Michael Ruane e Richard D'Amore como parceiros.

    Um stencil de Totti e um escudo do Scudetto, desenhados numa casa de Roma
    Em termos desportivos, a nova era não foi marcada por títulos nem por estabilidade no comando técnico: Claudio Ranieri, Vincenzo Montella, Luis Enrique, Zdenek Zeman e Aurelio Andreazzoli foram alguns dos nomes que passaram pelo Olímpico. Em 2013/14, Rudi Garcia assumiu o leme e levou a equipa a dois segundos lugares, mas nunca conseguiu chegar ao scudetto.

    Em 2016, o 'super-diretor desportivo', Monchi, chegou ao clube da capital italiana, comprou bons jogadores (Alisson Becker, Antonio Rudiger, Mohamed Salah, Edin Dzeko, Diego Perotti), trouxe Luciano Spaletti e Eusebio Di Francesco. Contudo, este investimento, com retornos financeiros significativos (vendas de Pjanic e Salah), foi insuficiente para singrar na Europa e destronar a Juventus. a nível interno.

    Depois da família Sensi, outro ícone da AS Roma despediu-se (dos relvados): Francesco Totti. A 28 de maio de 2017, o eterno 10 giallorosso disse o adeus aos relvados e abraçou um novo capítulo, como diretor técnico do clube.

    Seguiu-se um ano de muito sucesso, em que a Roma chega à meia-final da Liga dos Campeões, derrotando o Shakhtar e o Barcelona pelo caminho, antes de cair perante o Liverpool. Os 83 milhões da caminhada europeia mais os 72 da venda de Alisson, o recorde para um guarda-redes, permitiram à Roma nova reconstrução. Entraram vários reforços, mas a maioria não conseguiu ter impacto e Di Francesco foi despedido, após eliminação frente ao FC Porto nos oitavos. Monchi abandonou o clube no dia seguinte ao técnico: «Deixei Roma por um motivo simples: percebi que as ideias dos proprietários eram diferentes das minhas», disse.

    Em dezembro de 2019, já com o treinador português Paulo Fonseca no comando, a Roma entrou em novo processo de aquisição, desta vez por Dan Friedkin. As negociações arrefeceram durante o auge do covid-19, pandemia que assombrou o mundo, mas o negócio seria concluído em agosto de 2020.

    Na temporada seguinte, Paulo Fonseca viu o seu trabalho dificultado por vários fatores externos e a temporada da Roma acabou por ficar marcada por vários altos e baixos, o que culminou com o 7º lugar na Serie A - que dava acesso à nova Europe Conference League - e a queda nas meias finais da Liga Europa aos pés do Manchester United (que seria derrotado na final pelo Villarreal) por 8x5 no agregado das duas mãos. Isto levou a que a Roma e o português optassem por dar por concluída a sua ligação no final da temporada 2020/21 e este acabou por ser substituto pelo Special One, José Mourinho, que assumiu o comando da equipa para 2021/22.

    Na sua primeira época à frente da formação romana, o técnico português teve algumas dificuldades a nível interno e terminou em 6º lugar na Serie A (além de ter caído nos «quartos» da Taça», mas a nível internacional esteve em grande e conseguiu conquistar a primeira edição da UEFA Europe Conference League, ao bater, na final, o Feyenoord por 1-0, em Tirana (Albânia). Com esta conquista, o Special One tornou-se o primeiro treinador a conquistar as três provas da UEFA (Champions, Liga Europa e Conference League) e recolocou a Roma no caminho dos títulos 14 anos depois.

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    (1) - A Lupa Capitolina, como é conhecida por estar guardada nos Museus Capitolinos, é uma escultura de bronze de data incerta, que representa a lenda de Rómulo e Remo, e da fundação de Roma. 
    (2) - Senatus Populesque Romanus - «O senado e o Povo de Roma», denominação oficial da República e do Império Romano.
    (3) - Oriundi - Nome porque eram conhecidos em Itália os jogadores sul-americanos, descendentes de emigrantes italianos que foram convocados para jogarem na seleção no mundial de 1934, e que depois se alastrou aos muitos italo-descendentes que jogaram nos clubes italianos nos anos 30 e décadas seguintes.
    (4) - Maglia azzurra - A camisola azul que a seleção italiana usa regularmente. 
    (5) - O Coração de Roma

    Comentários

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    motivo:
    LÁZIO
    2016-01-17 21h54m por mourinhojoao
    Boas pessoal do zerozero.pt já que postaram aqui a história do AS ROMA, porque não fazem aqui a história do outro grande da cidade de Roma e de Itália um campeão também SS Lazio? eu e muitos adeptos da SS Lazio gostariam de saber mais sobre a história deste clube porque não fazem um texto idêntico a este da AS ROMA sobre a SS LAZIO? ficarei a aguardar um dia por esse texto! abraço
    AS ROMA
    2013-05-28 16h30m por CroKodile
    Boa história pena a Roma não conseguir ganhar mais troféus. Mas quando ganha é sempre uma alegria imensa a transbordar pelos Giallorossi.