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    A II Guerra Mundial e o Futebol

    Texto por João Pedro Silveira
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    A máquina de guerra entra em acção

    Às 4h45 da madrugada do primeiro dia de Setembro de 1939, os canhões do cruzador alemão SMS Schleswig-Holstein abriram fogo sobre as posições polacas em Westerplatte, na então Cidade Livre de Danzig, hoje em dia Gdansk.
     
    Um pouco por toda a fronteira germano-polaca, divisões panzers da Wehrmacht iniciavam a invasão militar da Polónia, enquanto a Luftwaffe bombardeava impiedosamente as cidades polacas.
     
    O que o mundo tanto temera, finalmente chegara. Começara a II Guerra Mundial...
     
    Nos dias seguintes a França e a Grã-Bretanha declaravam guerra à Alemanha Nazi não tolerando mais o expansionismo alemão. Com a voz embargada o Primeiro-Ministro Britânico Neville Chamberlain justificava-se perante o parlamento britânico com os motivos que levavam a Grã-Bretanha, pela segunda vez em 25 anos, a declarar guerra à Alemanha. Era o fim da política de apaziguamento, com que em vão as potências ocidentais tinham tentado parar os designios expansionistas de Hitler. 
     
    Durante os anos que se seguiram juntaram-se ao conflito a Itália e o Japão (ao lado da Alemanha), os Estados Unidos e a União Soviética ao lado de ingleses e franceses. O conflito durou até 1945 e foi travado com especial intensidade na Europa, Sudoeste Asiático e Norte de África. Foi o primeiro conflito verdadeiramente mundial, com combates travados em todos os continentes e mares do planeta.
     
    Morreram mais de 50 milhões de pessoas entre militares e civis. Seis milhões dessas vitimas eram judias, vítimas do Holocausto, um terrível plano gizado pelas autoridades nazis para eliminar da face da terra toda a população judaica, que era conhecido como a "solução final".
     
    A vida foi profundamente alterada em todo mundo, fosse o país beligerante ou não. Portugal, apesar do estatuto de neutralidade, viu a sua economia ser fortemente afectada e a fome grassar pelo território nacional.
     
    Num mundo "interrompido" o desporto não foi excepção e os Jogos Olímpicos e Mundias de Futebol não se disputaram durante a duração do conflito.
    Os principais campeonatos só voltaram a disputar-se no pós-guerra, e mesmo aqueles que continuaram a disputar-se como Portugal e Espanha, foram fortemente afectados pelas limitações económicas e de deslocação.
     
    Um desporto global
     
    O jogo tinha começado a tornar-se verdadeiramente global com a realização de diversos jogos internacionais e competições como o torneio olímpico de futebol e o mundial, que já encontrava então com três edições.
     
    Os principais países europeus mas também os E.U.A. e o Japão detinham colónias em África, Ásia, Oceânia ou Caribe. Nessas colónias, as autoridades tinham ajudado a espalhar o jogo, que em certos casos se tornaram futuras paixões nacionais. Não é de estranhar que algumas das futuras grandes vedetas do futebol internacional no pós-guerra nasceram em África como o moçambicano Eusébio que jogou por Portugal ou o marroquino Just Fontaine que foi estrela no mundial de 58 com a camisola da França.
     
    Os Ingleses eram senhores incontestáveis do futebol mundial e recusavam-se a disputar os torneios olímpicos e os campeonatos do Mundo pois consideravam não ter adversários à sua altura.
     
    A Itália com dois títulos mundiais e um torneio olímpico e o Uruguai com um mundial e dois torneios olímpicos eram os dominadores do futebol ao nível de selecções. A Áustria apesar de não ter nenhum grande título, tinha construído uma equipa temível - o wunderteam - que foi considerada a melhor equipa europeia na primeira metade dos anos trinta, conquistando a prata nos Jogos de Berlim em 1936 e o bronze no mundial de 1934.
     
    Sindelar, o Mozart do Futebol era o seu artista maior que guiara a sua selecção a um histórico jogo em Londres (4x3) em que pela primeira vez uma equipa continental esivera muito perto de sair de solo britânico sem conhecer o sabor da derrota.
     
    Anexada pelos alemães em 1938 a Áustria deixou de competir e viu a sua selecção ser incorporada na da Grande Alemanha que disputou (e fracassou!) no mundial de 1938. Sindelar morreu em circunstâncias estranhas ainda nesse ano e o futebol austríaco entrou em declínio...
     
    O futebol europeu
     
    Viena sempre monopolizara o futebol austríaco e o futebol do centro da Europa. Os seus clubes como o Rapid ou o First Vienna, encontravam-se entre os mais afamados do velho continente e dividiam com o Admira Wacker a primazía do futebol austríaco.
     
    Na vizinha Alemanha o Nuremberga era o mais destacado campeão, já com seis troféus conquistados, seguido pelo Schalkecom quatro e pelo Fürth e Hamburgo, ambos com três títulos.
     
    Nuremberga era a "sede" do partido Nazi e muitos consideram esse o principal motivo para o domínio dos de Nuremberga no futebol alemão dos anos 30, mas se esse fosse o real motivo, talvez o TSV ou o Bayern de Munique provenientes da capital bávara, cidade onde começou o movimento Nacional-socialista, e onde Hitler fundou o partido deveriam ter conquistado bem mais do que o singelo título obtido antes da Guerra. Mas a verdade é que o Bayern estava muito conectado com os judeus, provocando um mal-estar nas autoridades de Berlim, e ganhando a alcunha depreciativa de Judenklub [clube de judeus].
     
    Na "velha" Inglaterra as competições já se disputavam desde o século XIX e a Taça de Inglaterra era uma competição de tal maneira afamada que algumas finais já contavam com mais de 100 mil espectadores na bancada, além de transmissão radiofónica.
     
    Com seis campeonatos ganhos o Sunderland e Aston Villa eram os clubes com mais titulados de Inglaterra. Everton e Arsenal com cinco, Wendsday e Newcastle com quatro rivalizavam pela supremacia no futebol britânico.
     
    Dos grandes do futebol inglês que hoje dominam a Premier League o Liverpool já tinha ganho três campeonatos e o Manchester United dois. O Chelsea teria de esperar pelos anos 50 para conquistar o primeiro título e pela chegada de José Mourinho para conquistar o segundo...
     
    Espanha e Portugal
     
    Na vizinha Espanha a competição não seria interrompida pelo conflito, mas a Guerra civil entre 1936 e 1939 parara todas as competições.
    Até ao inicio das hostilidades entre nacionalistas e republicanos o Athletic de Bilbau "reinara" com quatro Ligas, contra as duas do Real Madrid e as vitórias únicas de Barcelona e Bétis. Na Taça o Athletic liderava destacado com 14 troféus, enquanto o Barcelona só conquistara sete copas e o Real seis.
     
    Em Portugal as competições não viriam a ser interrompidas. Somente as equipas madeirenses e açoreanas ficaram impedidas de participar nos campeonatos nacionais com medo de alguns dos barcos que transportava as equipas fosse torpedado por algum U-boat alemão.
     
    O campeonato iniciara-se em 1934/35 e o Benfica era a equipa mais titulada com três vitórias contra duas do FC Porto. O Sporting curiosamente nunca tinha sido campeão da Liga antes da Guerra começar e teria de esperar pelos anos 40 e pelos violinos para encantar Portugal.
     
    Só fora disputada uma edição da Taça e a vitória sorrira aos «estudantes» de Coimbra, mas o Campeonato de Portugal já se disputava desde o inicio dos anos 20 e os principais vencedores eram os então "quatro grandes": Sporting(4), FC Porto (4), Benfica (3) e Belenenses (3).
     
    França, Itália e U.R.S.S.
     
    Na França e na Itália as competições também foram afetadas. Em terras gaulesas os grandes dominadores desse tempo eram o Sète (2 Ligas, 2 Taça), Olympique Marseille ( 1 Liga, 4 Taças), Sochaux (2 Ligas, 1 taça) Racing Paris (1 Liga, 2 taças); enquanto que na "bota" o Genoa era o grande vencedor com 9 ligas, contra as 7 de Pro Vercelli e Juventus, as 5 de Bologna e as 3 de AC Milan e InternazionalleAmbrosina.
     
    Na União Soviética o futebol só recentemente ultrapassara o estigma de desporto burguês e as atenções e os troféus eram monopolizados pelos dois grandes da capital: Dynamo e Spartak. Um longo caminho ainda teria de ser percorrido até surgirem as «máquinas» soviéticas de jogar futebol...
     
    América do Sul
     
    Com o mundo em guerra, apenas no continente americano o futebol pode continuar a desenvolver-se naturalmente. Argentina, Uruguai e Brasil prosseguiram o seu caminho como potências continentais.
     
    No Brasil a única grande alteração foi imposta pelo governo de Getúlio Vargas que aquando da entrada do Brasil na Guerra ao lado dos aliados, obrigou todos os clubes com nomes associados as comunidades emigrantes alemãs e italianas a «naturalizarem» o nome. Obrigando por exemplo o Palmeiras a abandonar a sua referência a Itália no nome.
     
    Em 1950, o Campeonato do Mundo regressaria, com uma prova disputada no Brasil, onde a vitória, para surpresa de muitos, sorriria ao Uruguai. Os Jogos Olímpicos tinham voltado dois anos antes em Londres, com uma vitória da Suécia...
     
    Os alemães só voltariam a ser admitidos na fase de qualificação do mundial de 1954. Supreendentemente ou não, a primeira presença numa grande competição depois da guerra saldou-se na vitória...

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