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    Bernard Tapie: le Entrepreneur

    Texto por João Pedro Silveira
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    Quando aterrava em Vitrolles e descia a escada do avião, sentindo o Mistral a bater-lhe na cara sentia-se finalmente entre os seus. Era assim Bernard Tapie, o parisiense que fizera de Marselha a sua casa.

    Mistral, o poeta, não o vento, Frédéric de seu nome, prémio Nobel da literatura em 1904, escrevera um dia que quando Deus começava a duvidar da sua obra, fazia questão de se lembrar que tinha criado a Provença.

    Era este espírito revolto como o vento, apaixonado como a poesia de Mistral que fez a força das gentes de Marselha. Tapie encontrou no L'OM essa força revolucionária com que se lançou à conquista do futebol francês. Do sul sonhou conquistar todo o hexágono e depois a Europa... e em poucos anos conseguiu...

    Self made man

    A família Tapie tinha origens humildes. O seu avô, ferroviário, viera de Niaux, em Ariège, nos Pirenéus, junto à fronteira com Espanha, para Le Blanc-Mesnil, na cintura industrial a norte de Paris. O seu pai, apesar das origens humildes, tornou-se um pequeno empresário, o que permitiu que o pequeno Bernard pudesse crescer sem passar por privações.

    A música foi a primeira das suas paixões, cantando regularmente em reuniões da família e perante amigos. Ainda jovem iniciou uma carreira musical, com o nome artístico de Bernard Tapy, mas sem grande sucesso.

    Seguiu-se uma tentativa no mundo das corridas, tornando-se condutor de Formula 3, mas um acidente grave, que o deixou em coma durante semanas terminou com o seu segundo sonho.

    Com 24 anos resolveu enveredar por uma vida de negócios, começando por vender televisores. A sua habilidade para as vendas, permitiram-lhe rapidamente abrir uma loja, que se tornou em idêntico sucesso.

    Bem sucedido, em poucos anos cria uma rede de negócios, torna-se conselheiro económico de grandes figuras e um especialista em recuperar empresas em dificuldades económicas.

    A nova vedeta de França

    Ao mesmo tempo que se torna uma estrela em ascensão do mundo dos negócios, começa a ser presença habitual no pequeno ecrã, em programas de comentário, de cultura e até de entretenimento.

    @Getty / Keystone
    A sua fama é tal, que é considerado a personagem do ano em França em 1984, já depois de ter sido considerado o segundo francês mais charmoso, apenas ultrapassado na lista pelo "inevitável" Alain Delon. 

    Entrada no mundo desportivo

    O ciclismo foi a porta de entrada de Tapie no mundo desportivo, apaixonado pela modalidade, há muito que acompanhava o Grand Boucle com paixão. Em 1984, já senhor de considerável fortuna, Bernard Tapie juntou forças com o tetravencedor do Tour, Bernard Hinault e formou uma equipa de top, La Vie Claire, com que Hinault venceria a volta à França pelo quinto ano consecutivo.

    Um ano depois será o americano Greg LeMond a vestir o maillot jeune na consagração nos Campos Elíseos. Enquanto o norte-americano festejava em Paris a cabeça de Tapie já se encontrava em Marselha. 

    Em resposta a um convite de Edmonde Charles-Roux, viúva de Gaston Defferre, um antigo maire de Marselha, Tapie compra o Olympique de Marseille (OM), um histórico do futebol gaulês caído em desgraça, que se arrastava pela segunda metade da tabela do championnat, e que não vencia títulos há uma década.

    A compra do Olympique

    A crise financeira do OM parecia ter traçado o destino do clube. Falava-se em insolvência, no fim da linha... no abandono do profissionalismo. Tapie compra o clube pelo preço simbólico de um franco e rapidamente começa a investir na aquisição de jogadores que transformam por completo a equipa.

    Aposta em jovens que se revelam verdadeiros achados como Jean-Pierre Papin, Érica Cantona, Basile Boli, Didier Deschamps, Marcel Desailly, Fabien Barthez, Alen Bokšić, Abedi Pelé ou o inglês Chris Waddle, que combinam na equipa com jogadores experientes como Karl-Heinz Förster, Klaus Allofs, Alain Giresse, Manuel Amoros, Jean Tigana, Carlos Mozer ou Enzo Francescoli.

    Para orientar a equipa aposta primeiro em Dragan Stojkovic e mais tarde em Raymond Goethals. O Marseille encanta e vence, conquista quatro ligas francesas e chega a duas finais europeias, conquistando a Liga dos Campeões em 1993. 

    Estrela em ascensão

    A vida de Tapie corre bem dentro e fora do campo. Os negócios vão de vento em popa, com a aquisição da Adidas o que o torna num dos homens mais ricos de França.

    Homem de direita, não resiste ao charme e apelo do Presidente François Mitterrand e avança nas eleições, em Marselha, pelo PSF. Nem a política resiste ao seu charme, e nem "a Esfinge" lhe resiste, não poupando nos elogios - em privado - ao empresário.

    A vitória sobre Guy Teissier, um histórico da UMP e de Marselha, é considerada pelos analistas, e pelo próprio Mitterrand, como a mais importante de todas as vitórias dessa noite eleitoral. Uma verdadeira surpresa que faz brilhar ainda mais a estrela de Tapie, inclusive no Eliseu.

    Problemas na política e o affaire VA-OM

    Mitterand acaba por lançar a carreira política de Tapie, que chega ao governo em Abril de 1992, como Ministro das Cidades, perante muitas críticas das alas mais à esquerda do PSF.

    @Getty / Bongarts
    A incompatibilidade de certos negócios que detinha com o novo cargo, obrigam à sua demissão, mas em Dezembro do mesmo ano volta a assumir o cargo, perante o desespero dos socialistas franceses, que fazem eco na voz do então deputado François Hollande: «A primeira vez foi um erro. A segunda vez foi um erro». Os socialistas seriam derrotados nas eleições seguintes e Tapie saiu de cena...

    Entretanto a estrela de Tapie começara a empalidecer. As incompatibilidades entre os negócios e o cargo de ministro tinham colocado inesperados problemas a Tapie. A venda de Adidas estava sob suspeita, iniciando-se uma investigação que se arrastaria por muito tempo.

    Por sua vez o OM via-se envolvido no escândalo de aliciação de jogadores adversários. A bomba estala e a imprensa francesa não larga Tapie. A investigação do ministério público começa em Valenciennes e Jean-Pierre Bèrnes, o diretor desportivo do Marseille, era acusado de corrupção.

    Sem acusação formal, Tapie não escapava ao julgamento na praça pública. Como sempre ao longo da sua vida, a França não era diferente, dividindo-se no apoio e acusação ao presidente dos marselheses.

    Para uns era o herói, o homem que viera do nada para se tornar num símbolo de sucesso da França, odiado e invejado pelos antigos poderes; para a outra metade Tapie era a encarnação suprema do arrivismo, do novo-riquismo e até da amoralidade. Tapie era o símbolo da promiscuidade entre a política, o desporto e o mundo dos negócios. 

    A queda

    O Olympique perdeu o título na secretária e viu-se despromovido ao segundo escalão. Em 1994 foi acusado de corrupção e suborno de testemunhas, acabando por ser acusado a dois anos de prisão, com oito meses de prisão efetiva.

    O caso Adidas prolongava-se na justiça. Tapie vendera a empresa por 315 milhões de euros (cambio de 2015) a um grupo de investidores de que fazia parte o banco Crédit Lyonnais, que mais tarde vendeu a empresa a um desses investidores por 701 milhões de euros.

    Tapie acusou o banco, que em parte era detido pelo estado, de ter deliberadamente subvalorizado a empresa aquando da venda, pois já detinha a informação que um dos investidores iria adquirir a empresa mais do dobro do valor.

    O caso arrastou-se na justiça até 2008, tendo um painel de arbitragem atribuído um valor de 400 milhões de euros de indemnização devida a Bernard Tapie. Como o Crédit Lyonnais estava controlado por um consórcio estatal, a indemnização saiu dos cofres do estado, perante o clamor da opinião pública francesa.

    Christine Lagarde, a então Ministra das Finanças do governo de Sarkozy, não contestou a decisão e deu ordem de pagamento. Entretanto Tapie, membro do Partido Radical de Esquerda, apoiara Nicolas Sarkozy na sua corrida para o Eliseu, o que levantou suspeitas de que a indemnização fora um pagamento por esse apoio.

    Em 2015, a decisão foi investigada e Lagarde acusada de favorecimento ilícito. Tapie foi obrigado a devolver os 400 milhões, que declarou já não ter, declarando estar na falência.

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