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    Stade de Colombes: o palco de França

    Texto por João Pedro Silveira
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    Quanto mais os anos passam, menor é a lotação do Estádio. Esta parece ser a sina do histórico estádio dos arredores de Paris, inaugurado em 1907 com o nome de Stade du Matin, hoje de seu nome Stade Olympique Yves-du-Manoir, mas mais conhecido por todos como o Stade des Colombes, casa das Olimpíadas de 1924 e estádio da final do Mundial de futebol em 1938. Histórico palco do futebol, assim como do râguebi e até do boxe francês.

    Colombes tem também um lugar na memória cinematográfica, pois em 1981, foi representado no grande ecrã, tanto como sendo o palco do «Fuga Para a Vitória» (1) como de «Momentos de Glória» (2), ganhando assim um pouco mais de imortalidade.

    Parc des sports
     
    Construído na zona de Colombes, no noroeste da coroa parisiense, teve como antepassado um hipódromo, ali edificado em 1883 pela Société des Courses de Colombes, foi durante a Belle Époque, palco de corridas presenciadas por elegantes plateias, as elites da «Cidade das ##Luzes», que vestidas a rigor, se deslocavam aos Domingos pela tarde à zona de Colombes para passear no campo e participar em atividades desportivas.
     
    Em 1981, Hugh Hudson realizou «Momentos de Glória», o épico que narra a gesta vitoriosa dos velocistas britânicos na pista de atletismo de Colombes durante os Jogos de Paris em 1924.
    Em 1907, o jornal Le Matin adquiriu o hipódromo, que adoptou para poder receber provas de atletismo e partidas de râguebi e futebol, batizando-o de Stade du Matin.
     
    Depois da guerra, em 1920, o Racing de France muda-se de armas e bagagens para Colombes, como inclino. Muitas vozes se levantaram contra a escolha do recinto, lembrando a distância relativamente ao centro da cidade, apontando o Bois de Vincennes ou o Parc des Princes como melhor apostas, mas o clube «alviceleste» manteve a escolha inicial, tornando-se inclino do Stade des Colombes que entretanto fora escolhido para ser o palco das Olimpíadas de 1924. 
     
    As Olimpíadas de 1924
     
    No quadriénio que antecedeu as Olimpíadas, o estádio recebeu melhoramentos e viu a sua lotação aumentar para 40 mil lugares sentados, se bem que um projeto inicial aponta-se para cem mil lugares. Contudo, a crise económica que a França atravessava, ainda recuperando do fim da Guerra, levou a que se pusessem de lado a ideia de um aumento megalómano.
     
    Os Jogos de 1924 são recordados como o apogéu de uma era dourada do desporto amador, um amadorismo desde sempre defendida pelo Barão de Coubertin, o pai das Olimpíadas modernas, que em Paris se maravilhou com as prestações de Paavo Nurmi na pista e de Johnny Weissmuler - o futuro Tarzan - na piscina. Também nos Jogos da «Cidade Luz» nasceu o mote que ainda hoje é o lema olímpico: citius, altius, fortius. (3)
     
    La Celeste Olímpica, a seleção uruguaia, vencedora da medalha de ouro nos Jogos de 1924.
    Durante os Jogos, o Estádio Olímpico de Colombes recebeu as provas de atletismo, equitação, algumas corridas de ciclismo, além do concurso de ginástica, jogos de ténis, futebol, râguebi e dois eventos do pentatlo moderno (corrida e esgrima).
     
    O Presidente Gaston Doumergue abriu os jogos que ficaram na história pelos resultados obtidos pelos finlandeses voadores, liderados pelo super Paavo Nurmi, vencedor de cinco medalhas de ouro na pista e no corta-mato. Também em destaque estiveram os velocistas britânicos  Eric Liddell e Harold Abrahams, eternizados em «Momentos de Glória», película vencedora do óscar de Melhor Filme em 1982 e que teve na banda sonora da autoria do grego Vangelis, um dos discos mais vendidos do ano, sendo líder da tabela nos Estados Unidos por quatro semanas.
     
    Além dos heróis da pista, Colombes assistiu às fabulosas exibições da Celeste Olímpica, a mítica equipa uruguaia que ganhou a medalha de ouro do torneio olímpico. Curiosamente, seria também em Colombes que Portugal conquistou a primeira medalha olímpica da história, uma medalha de bronze na prova de saltos por equipas.

    Mudança de nome e o mundial de 38
     
    Em 1928, o estádio é rebatizado com o nome de um jogador de râguebi do Racing e da seleção gaulesa, Yves du Manoir, que com 24 anos faleceu num acidente de avião.
     
    Quatro anos depois, o Racing mudou-se para o Parc des Princes (4) que entretanto tinha sido renovado, deixando Colombes sem nenhuma equipa de futebol como anfitriã, mas sem nunca perder o estatuto icónico de «casa» do desporto gaulês. Provas de Atletismo, jogos da seleção francesa de futebol, palco dos jogos em casa do XV francês durante o Torneio das Cinco Nações em râguebi, Colombes tinha o pedigree necessário para ser eleito o local da final do Campeonato do Mundo, quando a França recebeu a competição em 1938.
     
    Italianos e húngaros, momentos antes da final do mundial de 1938.
    Ali tiveram lugar três encontros: o confronto entre a França e a vizinha Bélgica (3x1) dos oitavos-de-final, o França - Itália (1x3) nos quartos e a final que opôs a Itália à Hungria (4x2). Para a história ficou a saudação fascista com que os italianos saudaram o público e a tribuna, que retribuiu o cumprimento. 

    O fim de uma era
     
    Com a chegada da guerra, a derrota da França e a ocupação militar alemã, o Estádio serviu os propósitos dos conquistadores, mantendo-se como palco exibições desportivas e militares durante a ocupação alemã.
     
    Até ao final dos anos 70 seria palco de diversas finais da Taça de França, assim como casa da maioria dos jogos da seleção francesa de futebol. Em 1972, com a remodelação do Parc des Princes, Colombes perdeu a sua importância, enquanto o novo estádio brilhava com as finais da Taça, os jogos da seleção e o Torneio das Cinco Nações. 
     
    Após reestruturação e reorganização do espaço, Colombes ficou reduzido a 14 mil espetadores, que assistem regularmente aos jogos do RC Paris (futebol) e Racing Metro 92 (râguebi). (5)
     
    Passagem pelo grande ecrã
     
    Em 1981, Colombes saltou para a grande tela, resgatado ao passado, como o palco privilegiado de dois dos filmes mais vistos do ano. «Momentos de Glória», Chariots de Fire no original, um clássico que recorda a história da presença dos atletas britânicos nos jogos de Paris em 1924, e o «Fuga para a Vitória», que conta a história de um hipotético confronto entre uma seleção alemã e uma equipa formada por prisioneiros de guerra aliados, detidos em campos de concentração alemães.
     
    A equipa dos prisioneiros aliados no filme «Fuga para a Vitória». Entre outros destacam-se Michael Caine, Sylvester Stalone e os ex-jogadores Bobby Moore, Osvaldo Ardilles, Kazimier Deyna e Paul Van Himst, além do incontornável Pelé.
    No filme, o personagem interpretado por Michael Caine - um suposto jogador do West Ham United antes da guerra - convence o oficial alemão responsável pelo campo (interpretado por Max Von Sydow) a organizar um jogo de futebol.
     
    Após muitas peripécias e um projeto de fuga, o jogo acabar por realizar-se em Colombes - se bem que a bancada central que se vê no filme seja do Hidegkuti Nándor Stadion em Budapeste, na Hungria.
     
    No encontro, que termina com a heroica defesa de Sylvester Stalone, brilharam diversos jogadores (e ex-jogadores à epoca) como Pelé, Bobby Moore, Osvaldo Ardiles, Kazimierz Deyna e Paul Van Himst.
     
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    (1) - Escape to Victory, de John Huston, Estados Unidos, 1981.
    (2) - Chariots of Fire, de Hugh Hudson, Reino Unido, 1981.
    (3) - Mais rápido, mais alto, mais forte.
    (4) - O Parc des Princes já existia desde 1897, mas foi reconstruído como o conhecemos somente em 1972.
    (5) - Entre 1985 e 2000 o Racing usou o Parc des Princes como estádio, antes de regressar novamente a Colombes.

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    Estádio
    Stade Olympique Yves-du-Manoir
    Lotação14000
    Medidas105x68m
    Inauguração1907