O povo catalão saiu à rua este Domingo para exercer o seu direito de voto num referendo que, apesar de não ter qualquer tipo de validade legal, serviu para reforçar a sua pretensão de permanecer ou sair da atual Espanha. Tudo isto apesar de terem sido alvo de atos de repreensão violentíssimos pela polícia espanhola como pudemos, infelizmente, acompanhar nas imagens televisivas.
A Catalunha é uma comunidade autónoma espanhola com uma língua, uma cultura e um território muito próprios. Em Espanha, concorde-se ou não com a questão da independência da Catalunha e do País Basco (não é o que está em questão aqui), entende-se a importância do combate ao centralismo e do reforço do poder local.
É uma questão de equilíbrio, de equidade e, acima de tudo, de identidade.
Já “nós por cá”, nesse mesmo dia, voltamos a provar que não somos capazes de reforçar a nossa identidade local ao contribuirmos para resultados de leitura nacional.
O PS conquistou uma vitória local exacerbada fruto de uma governação nacional muito positiva. Nada tem a ver com o facto de ser o PS, o PSD ou outro partido qualquer mas sim com a mentalidade portuguesa e o seu historial de eleições. Sempre foi assim.
Portugal é um país profundamente centralista e desigual. Dificilmente se encontrará outro país, com índices de desenvolvimento iguais ou superiores ao nosso, tão centralista como Portugal. Para isso contribuíram consecutivamente a maior parte dos governos do pós 25 de Abril e a maioria dos portugueses dado não entenderem que a descentralização acarreta também responsabilidades.
A nossa responsabilidade enquanto cidadãos no reforço da identidade local não se limita ao exercício do voto na altura das eleições mas, sobretudo, ao apoio das políticas económicas, sociais e culturais locais.
O futebol serve perfeitamente como barómetro desta escabrosidade.
Os portugueses preferem assistir confortavelmente a um jogo na televisão de um clube que tem a sua sede a 200 ou 300 quilómetros de sua casa do que sair de casa e ir assistir ao vivo a um jogo do clube da sua terra.
Algo está profundamente errado nesta gente que se apregoa como defensora de um clube com o qual não partilha qualquer tipo de traço identitário.
Estes não são os verdadeiros adeptos de futebol, são uns hipócritas.
É este o motivo pelo qual eu sinto uma profunda admiração e respeito pelo espirito catalão, portuense, vimaranense, entre outros, - porque acima de tudo está a nossa identidade.
Futebol é muito mais que os três “estarolas”. Apoia o clube da tua terra.