Hoje, domingo, é um dia muito importante para o futuro de todos nós porque nos trezentos e oito concelhos deste país vão ser escolhidos os autarcas que os governarão durante os próximos quatro anos, como é de todos sabido.
Sabido é também que em democracias mais antigas, mais evoluídas e mais experientes não existem os pruridos que subsistem na democracia portuguesa onde após mais de quarenta anos persistem práticas, legalmente fundamentadas, que são verdadeiramente anedóticas.
Desde o dia de reflexão à proibição de um cidadão fazer campanha nas redes sociais no famigerado dia de reflexão e no próprio dia das eleições, enquanto noutros países, como os Estados Unidos por exemplo, a propaganda eleitoral é permitida até ao fecho das urnas.
Noutros países e noutras democracias, como a velha democracia inglesa que é das mais antigas do mundo, as eleições por vezes realizam-se em dias de semana (as presidenciais americanas são sempre à terça feira) com as pessoas a dirigirem-se aos locais de voto antes ou depois de irem trabalhar e sem que o cumprimento do dever cívico interfira com as responsabilidades laborais.
Noutros países, ainda, já existe o voto eletrónico e nalguns já se caminha (e lá chegarão) para que o cidadão possa exercer o seu direito de voto, via Internet, a partir de casa.
Democracias mais avançadas e eleitorados mais conscientes dos seus deveres e direitos.
Em Portugal, onde as más modas estrangeiras chegam à velocidade da luz e o que devia chegar à velocidade da luz chega a… carvão, mantém-se as práticas do tempo do 25 de Abril, como se a Terra não tivesse continuado a girar e as circunstâncias e condições do século vinte e um fossem iguais às de meio século atrás.
Somos um país «sui generis» e por isso nem admira que nas polémicas em volta das eleições, que se deviam circunscrever a programas e candidatos, o futebol tivesse sido apanhado e arrastado para uma esfera de que não tem de fazer parte.
Porquê?
Porque muito simplesmente a LPFP agendou jogos dos campeonatos para o dia das eleições.
É certo que o fez com alguma falta de jeito e sem o jeito necessário para não se pôr a... jeito, nomeadamente com os horários, mas ao fazê-lo não cometeu nenhum crime nem fez nada que não fosse sensato e admissível.
Porque pelo simples facto de haver eleições o país não para, nem o espectáculo do futebol contribui, por si só, para aumentar a abstenção que é o fantasma que paira sempre sobre os atos eleitorais.
Porque pelo simples facto de haver eleições o país não para, nem o espectáculo do futebol contribui, por si só, para aumentar a abstenção que é o fantasma que paira sempre sobre os atos eleitorais.
Então porque foram alguns embirrar com o futebol?
Pelo seu mediatismo?
Ou porque dá jeito a algumas pretensas elites e a alguns pretensos intelectuais aproveitarem esta coincidência para vazarem o habitual fel para um desporto cuja popularidade choca o seu elitismo?
Não sei.
Mas sei, isso sim, duas coisas:
Uma é que um futebol de estádios normalmente mais vazios que cheios (as exceções D. Afonso Henriques, Dragão, Luz, Alvalade e mais um ou outro apenas confirmam a regra) nunca será o responsável pela elevada taxa de abstenção que os atos eleitorais normalmente conhecem.
A outra é que se a Liga tivesse sido mais sensata na marcação dos horários dos jogos de hoje (domingo) ainda teria dado menos argumentos aos que criticam, sem sustentação válida, o haver jogos de futebol hoje.
Somos um país pequeno, com clubes perto uns dos outros (as exceções são Portimonense, Marítimo e, vá lá, Chaves) pelo que não teria sido difícil nos poucos jogos agendados para hoje ter encontrado horários mais inteligentes do que o absurdo de o Belenenses-Vitória e o Marítimo-Benfica serem jogados às 21.30h, que é uma hora em que já não se joga futebol em país nenhum do mundo.
A hora do Sporting-Porto é correta, permite aos adeptos do Porto votarem e seguirem para Lisboa, o Belenenses-Vitória poderia ser, por exemplo, às 18.00h, o que permitiria aos adeptos vitorianos votarem, irem a Lisboa e voltarem a casa a horas decentes para quem tem de trabalhar no dia seguinte, e o Braga-Estoril também tem uma hora adequada, até porque o clube estorilista praticamente não leva adeptos fora.
Quanto ao Marítimo-Benfica, também ele podia ser mais cedo porque os adeptos do Marítimo estão lá e os do Benfica que fazem a deslocação são em número residual e os que quiserem ver na televisão teriam muito tempo para votar antes do jogo.
Em suma, num país que adora «casos» e «casinhos», arranjou-se uma polémica e um problema onde não havia problema nenhum e fez-de do futebol o bombo de uma festa para a qual não foi chamado nem tinha nada que ir.
P.S.: Claro que a anunciada, e esperemos que nunca concretizada, intenção do governo em proibir jogos de futebol em dias eleitorais é uma ingerência absurda numa atividade em que não tem de interferir e cheira a demagogia por todo o lado.
Simplesmente lamentável!