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    A preto e branco
    Luís Cirilo Carvalho
    2017/07/17
    E9
    "A Preto e Branco” é uma coluna de opinião que procurará reflectir sobre o futebol português em todas as suas vertentes, de uma forma frontal e sem tibiezas nem equívocos, traduzindo o pensamento em liberdade do seu autor sobre todas as questões que se proponha abordar.

    Não é segredo para ninguém, antes pelo contrário, que o mundo do futebol faz girar nos dias de hoje verbas gigantescas em torno de jogadores, treinadores, competições, infraestruturas e também nas apostas.

    Que são já a área do futebol que entre legalidade e clandestinidade movimenta maiores somas.

    E é precisamente nessa dicotomia entre o que é legal e o que é clandestino que se encontra a maior ameaça que o futebol hoje defronta enquanto modalidade desportiva que encanta multidões com base nas suas características, das quais a incerteza no resultado é uma das principais.

    Porque é perfeitamente legal apostar num resultado, no número de golos, em quantas substituições são feitas, em haver ou não grandes penalidades, no número de pontapés de canto, no resultado ao intervalo, no numero de cartões amarelos ou vermelhos, em que equipa e jogador vai recair o pontapé de saída, em quantas vezes as equipas médicas entram em campo, no resultado ao intervalo e em muito mais variáveis de um jogo de futebol.

    Mas já faz parte do reino da clandestinidade, e aí são a tal grave ameaça ao futebol, existirem organizações criminosas que se dedicam a combinar resultados através do suborno aos mais diversos agentes desportivos.

    E essa praga criminosa, espalhada por todo o mundo mas com “sedes” principais a Oriente, face ao interesse pelas apostas nessas paragens, é responsável por um cada vez maior número de resultados falsificados e de competições desvirtuadas na sua verdade desportiva.

    Ao que se sabe, e, passe a publicidade, ainda este fim de semana a revista do semanário Expresso publicou uma excelente reportagem sobre o assunto, também em Portugal essas organizações criminosas operam numa escala já muito significativa com viciação de resultados em competições de jovens e de escalões inferiores, essencialmente, mas também com incursões identificadas na Segunda liga e suspeitas (que neste momento não passam disso) de já terem “operado” também a nível de liga principal.

    É um assunto que de ha anos a esta parte acompanho com muito interesse, analisando especialmente resultados que fogem ao normal, fruto de uma experiência pessoal que passo a contar.

    Em 2012, pouco depois de a lista que integrava ter vencido as eleições para os orgãos sociais do Vitória, fui contactado por uma pessoa de Guimarães que conhecia vagamente como um adepto sempre presente e que me pediu se recebia dois amigos para me falarem de um assunto com muito interesse para o clube em termos financeiros.

    Embora na direção a minha responsabilidade fosse como vice-presidente para a área desportiva (futebol e modalidades), naqueles tempos de sufoco financeiro herdados do passado todas as ajudas eram bem vindas, pelo que não tive qualquer problema em agendar a reunião para dois ou três dias depois (não podia ser antes porque os tais “amigos” vinham do estrangeiro) na expectativa de receber, quem sabe, futuros investidores para a SAD que então ainda estava apenas em projecto.

    No dia marcado, apareceram-me dois espanhóis na casa dos quarenta e poucos anos, simpáticos e bem falantes, como é normal nessa nacionalidade, cuja primeira preocupação ao entrarem no meu gabinete foi o de se certificarem que a porta ficava bem fechada.

    Após isso, apresentaram-se pelos seus nomes que, ainda hoje, sabendo o que sei, desconfio que eram falsos.

    Nem tive tempo de estranhar a preocupação com o fecharem a porta porque, ao fim de dois ou três minutos de conversa, já tinha percebido que o que os trazia não era nenhuma intenção de ajudarem o Vitória fosse no que fosse, mas sim tentarem levar o clube para a órbita desse mundo das apostas viciadas.

    Depois de alguns minutos de conversa pseudo-justificativa das razões pelas quais o Vitória teria muito a ganhar (!!!) com o aderir aos esquemas que propunham, passaram a propostas concretas:

    - Para inicio de atividade, chamemos-lhe assim, era preciso dar um sinal aos “patrões” (termo deles) do Oriente de que as coisas estavam devidamente tratadas e por isso o Vitória devia agendar para a pré-temporada que se avizinhava um jogo de preparação com um clube espanhol de razoável dimensão (não era, obviamente, Barcelona, Real Madrid, Atlético de Bilbao ou Atlético de Madrid, mas era do patamar logo a seguir) cujo resultado devia ser de 4-0 a favor do Vitória!

    Perguntei, para perceber melhor como as coisas se desenvolviam, embora já razoavelmente enojado com a conversa, como era isso possível, ao que me responderam que do lado espanhol o assunto já estava tratado, pelo que o “trabalho” do lado português seria meter quatro golos (nem mais nem menos), já que os espanhóis nem à baliza rematariam.

    Claro, e aí avançaram na explicitação do esquema, que seria preciso ter o treinador do lado de “cá” ou, se isso fosse de todo impossível, identificar três ou quatro jogadores que se prestassem ao esquema e que no futuro garantissem, sempre que fosse preciso, a “colaboração” necessária à obtenção dos resultados combinados.

    Naturalmente que os “patrões” se encarregariam de recompensar o treinador e/ou os jogadores em função dos serviços prestados.

    E mais: se o “acordo” corresse bem, podia ser estendido à equipa B e aos juniores, escalões onde as coisas eram mais “fáceis”, segundo a sua experimentada opinião, porque dava menos nas vistas e saía mais barato recompensar os “aderentes”.

    Obviamente que a minha colaboração, se tudo corresse como esperado, seria “agradecida” por verbas que anualmente podiam ultrapassar a centena de milhar de euros, segundo o que me disseram com um ar de satisfação que não partilhei.

    A titulo de “rebuçado”, até adiantaram que esse jogo inicial, com os espanhóis, podia valer-me logo uma “lembrança” de dez ou quinze mil euros, já não me recordo do valor exato.

    A conversa durou os vinte minutos a que a boa educação obriga.

    Após o que os conduzi à porta, esclarecendo-os que o Vitória nunca participaria em esquemas desses e que se os voltasse a ver pelas redondezas das instalações do clube o assunto passaria para o domínio da polícia.

    Foi a última vez que os vi.

    E acredito que talvez tenham ido bater a outras portas, uma vez sabedores que dali não levavam nada.

    Mas “eles”, e outros como eles, andam por aí.

    A aliciarem, a subornarem, a adulterarem resultados de competições desportivas em prol dos chorudos proventos que essa atividade permite e que tornam o futebol um alvo apetecível dessas organizações criminosas.

    E o futebol tem de se saber defender deles.

    Porque é a sua sobrevivência enquanto modalidade desportiva que está em causa.



    Comentários

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    motivo:
    clandestinidade ???
    2017-07-22 16h00m por rafa11
    As casas de apostas estao todas legais . . . tem licencas para operar !!
    Na clandestinidade so se eu apostar com o Manel da esquina que o Tondela vai ganhar ao Feirense, e dai ???? qual o problema ??? Alguem tem a ver alguma coisa com isso ? Que palhacada de coluna de opiniao . . . ate parece que todas as apostas dao lucro. . . vai la fazer apostas !!! Ate o Estado pensava que ia descubrir petroleo e afinal acabou com ese mercado para dar tudo a Santa Casa, mas que em POrtugal ja nao m...ler comentário completo »
    GE
    Cada mentiroso
    2017-07-18 17h04m por Geromel
    este senhor não tem credibilidade nenhuma em Guimarães. Mas alguém acredita nesta historia? é só mais uma de tantas que por aqui conhecemos. Por algum motivo só esteve uns meses no vitoria, foi logo corrido. espero é que a PJ vá agora trás dele para ver se ele diz que a historia é verdadeira. E o zero zero dar espaço a um tipo destes também é surreal.
    1King
    2017-07-18 03h42m por A_verdade_pura
    Não é por ser inteligente, é porque li o artigo todo ao contrário de ti. . . se tivesses lido terias percebido que ele não chamou as autoridades, mandou-os embora e disse que da proxima vez chamava as autoridades

    Se afinal chamou é MENTIROSO. . . entre isso e ser cumplice dos gajos, em nenhuma das duas este senhor fica bem na fotografia.
    Fica a dúvida no ar!
    2017-07-17 22h53m por asoccerkids
    Ainda estou para perceber como é que em 2006/07, o Rio Ave, que tinha 47 pontos à 25ª jornada (6 de avanço sobre o terceiro classificado (Santa Clara) e 8 sobre o quarto(!!) classificado, Vitória de Guimarães), não conseguiu a subida de divisão. . .

    Na altura, caiu no esquecimento, mas em Vila do Conde, sempre se achou muito estranho aquele "cair a pique" que levou à subida da equipa de Guimarães.
    verdade-pura
    2017-07-17 22h32m por 1King
    Olha lá ó inteligente, por acaso sabes se contactou as autoridades ou não? Depois é contra as SADS? Então se esteve na direcção que criou uma, a SAD do Vitória. Por fim podes não gostar da pessoa mas vir para aqui insinuar que é mentira só se compreende porque o fazes de forma anónima e, logicamente, cobarde.
    Luis Cirilo Carvalho
    2017-07-17 21h38m por A_verdade_pura
    As crónicas deste homem são uma palhaçada. Mentalidade retrógrada, atrasada. . . opinião muito condicionada. Não parecem simples artigos de opinião, parece o espaço publicitário do Vitória de Guimarães. Ainda me lembro ha uns tempos de um artigo magistral da sua autoria que colocava o Vitória DESTACADO no aproveitamento das equipas B, quando existe Maritimo ha muitos anos em termos de quantidade, e Benfica e Sporting MUITO á frente em lucros e qualidade (e o Porto este ano também deu o s...ler comentário completo »
    Luís Cirilo Carvalho
    2017-07-17 18h59m por Benlhevai
    Mais uma grande prova que ao contrário dos nossos rivais nós somos um clube digno. . .
    Se querem um exemplo de um jogo combinado investiguem o Tondela-Braga.
    O futebol está podre
    2017-07-17 18h28m por ispeakwiththetrue
    N tenham duvidas q muitos dos jogos q existem por aí estão d algum modo combinado e quem já tem uma noção e q já pesquisou sobre o assunto sabe detetar esse tipo d jogos ou pelo menos desconfiar deles, e a desconfiança é uma coisa muito má no futebol. . . é importante trabalhar para q nunca esses casos cheguem a portugal, o q é dificil qd até as próprias competições da fifa e da uefa chegam. . .
    Da próxima vez?
    2017-07-17 18h04m por dilios
    Uma crónica interessante, que vem demonstrar o que já toda a gente sabe.
    A questão que coloco, foi porque não, contactar de imediato as autoridades?

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