Imagine um alpinista, equipado a rigor e preparado para escalar a mais alta das montanhas. Imagine esse alpinista a subir, metro após metro, ponto de referência após ponto de referência. E imagine esse alpinista a fazê-lo com segurança, talento e conhecimento. Agora imagine que esse alpinista talentoso está a um passo de alcançar o cume da montanha... e bloqueia, incapaz de terminar aquele último passo.
Agora imagine Rafa Silva. É a mesma história, só que aplicada a um campo de futebol. O avançado português do Benfica é um jogador talentoso, dotado de qualidades que o fazem importante numa equipa. Ainda que no Cartão de Cidadão conste que tem apenas 23 anos, a verdade é que aquela barba farta e as mudanças de velocidade fazem-no parecer um jogador feito. Mas não é.
E não o é por uma única razão: a fobia a balizas. É aflitivo ver Rafa num raio de cinco metros daquele retângulo que, afinal, é o objetivo máximo de um jogo de futebol. O talento, as qualidades técnicas e a confiança que denota nos primeiros dois terços do campo ruem que nem um castelo de cartas frágil e desequilibrado quando pela frente se ergue a parede das decisões. É aflitivo.
Peguemos como ponto de partida o encontro frente ao Desportivo de Chaves, porque o golo do campeão europeu é, ironicamente, um excelente exemplo daquilo que aqui se escreve. Depois de já ter evitado um par de vezes o contacto com a baliza, preferindo sempre, sempre e sempre assistir um colega (e muitas vezes de forma defeituosa), Rafa lá marcou, aos 50 minutos de um jogo que estava empatado.
Mas a forma como o fez, tímida, cheia de receios e sem segurança absolutamente nenhuma perante uma baliza escancarada, levou a que quase falhasse um golo cantado. António Filipe, guardião do Desportivo de Chaves, ainda evitou que o remate de Rafa tocasse nas redes, numa ironia fina sobre esta fobia: até quando marca a bola não toca nas redes; é aflitivo.
Resta a Rafa, de apenas 23 anos, combater o problema, porque o é, sem ponta de dúvidas. Não é preciso, para já, fazer soar os alarmes, ainda que com a temporada a correr para o fim não se registe qualquer sinal de melhoria nesse capítulo. Mas se o internacional português quiser subir aquele último patamar de qualidade vai ter de começar a acertar mais vezes na baliza. E em «casa» até tem bons exemplos para ir observando.