Opiniões

O Sporting pediu um regresso antecipado de André Geraldes e de Ryan Gauld, que estavam a ganhar minutos em Setúbal. Eticamente reprovável? Sim, pois já se percebeu que foi na sequência de um jogo cujo resultado não serviu aos leões. Legítimo? Sem dúvida, o Sporting tem todo esse direito porque se salvaguardou previamente. E não pode ser condenável, simplesmente porque os clubes que recebem jogadores cedidos a isso se sujeitam.

Há um ponto claro em toda esta temática: em Portugal empresta-se muito. Muito mesmo. E o Sporting até é, dos três candidatos crónicos ao título, o clube que menos o faz. Por lei, os clubes estão proibidos de ceder mais do que três jogadores a um emblema apenas. Mas não é já isso um exagero? Não é já isso um grande atentado à verdade desportiva? Claro que é e qualquer leitor percebe rapidamente. Como pode o Tondela jogar na máxima força na Luz se Lystcov, Jhon Murillo ou o reforço Pedro Nuno não podem ir a jogo? Como pode o Moreirense apresentar-se com as mesmas armas diante do Sporting se não tem Podence ou Francisco Geraldes? Como conseguirá o Vitória de Guimarães discutir da mesma forma o jogo frente ao FC Porto sem ter Marega nem Hernâni?

Voltamos à questão dos números assombrosos de jogadores que pertencem aos quadros de Benfica, Sporting e FC Porto, vários deles sem nunca terem vestido a camisola principal, numa tendência que cresceu com as equipas B's e que se reflete em três etapas: começar na B, rodar num clube da Liga e, depois, ou ter oportunidade na equipa principal, ou rumar ao estrangeiro perante algum encaixe - sendo que todo reverterá para o "grande" e nada para o "pequeno" que potenciou o jogador.

A questão é que os clubes de dimensão mais pequena/média em Portugal estão cada vez mais reféns destas cedências e, pior ainda, parecem conformados com esse cenário. Como poderão depois alegar que o fosso em relação aos grandes são ainda maiores se se deixam subjugar a esta tendência? É que há bons exemplos de jogadores que, pelo finca-pé dos clubes, foram vendidos por somas astronómicas: Diogo Jota saiu por sete milhões, Rafa foi vendido por 16 milhões...

Numa altura em que tanto se fala de arbitragem (em boa verdade, em qualquer altura se fala de arbitragem), há muitos outros temas pertinentes para a realidade do futebol português e para a defesa dos clubes menos endinheirados. E, não tenho dúvidas, não será difícil que estes possam tomar medidas para limitar um pouco mais esta questão dos empréstimos. Difícil será comungarem dessa ideia, até porque uma decisão mais radical trará maiores dificuldades a curto prazo. Mas, de certeza absoluta, os benefícios a longo prazo são evidentes.

Sou bastante radical neste aspeto: a meu ver, deviam ser proibidos quaisquer empréstimos a equipas do mesmo escalão. O Benfica assinar com Candeias a custo zero e lucrar com empréstimos ao estrangeiro? Totalmente a favor. O Benfica (ou qualquer outro) adquirir jogadores para que estes andem de empréstimo em empréstimo no campeonato? Discordo na totalidade, mas é legítimo porque os clubes que recebem jogadores assim o permitem.

Acredito que poderia ser muito drástica uma medida de proibição total. Mas medidas são necessárias. Ou os clubes vão continuar a permitir posturas como a que aconteceu entre Sporting e Vitória de Setúbal?