Se perguntarmos a qualquer adepto do FCPorto qual o seu maior rival, a resposta é óbvia: Benfica. Se fizermos a mesma pergunta a um Sportinguista, a mesma palavra sairá da sua boca. E para o Benfica, qual é o maior rival? A resposta é difícil e pouco consensual.
Uns dirão que é o Sporting. É o rival da cidade, o rival histórico. As mesas de matraquilhos deste país afora dividem-se em bonecos de vermelho de um lado e verde do outro. Separados em poucos quilómetros por lados distintos de uma circular, enfrentam-se há mais de 100 anos. Reza a lenda que a rivalidade começou desde que o clube verde, mais abastado, veio-se reforçar no Sport Lisboa com 8 jogadores, quase “matando” à nascença um projecto que estava no seu início. Cresceram de forma paralela da cidade de Lisboa para o resto do país, dividindo paixões e facções. Até ao início dos anos 60 o Sporting, embalado pelos “cinco violinos” levava inclusivamente a melhor somando 10 Campeonatos contra 9 do Benfica no ano de 1959. Depois na década de 60 o Benfica disparou e não mais viu o Sporting à frente, mas a rivalidade ficou. Talvez por isso as faixas etárias mais avançadas dirão que “rival, rival é o Sporting!”. No sul do país também deverá ser essa a resposta maioritária.
Mas muitos outros dirão “não, não, o grande rival é o FCPorto”. Vivemos em 2019 e o clube que insiste há mais de 30 anos em negar a hegemonia ao Benfica é o clube do Norte. É com ele que nos temos de preocupar na grande maioria das fases decisivas dos títulos e troféus que disputamos todos os anos e assim continuará a ser nos próximos anos, parece fácil prever. Com todos os seus defeitos e (custa admitir) qualidades, Pinto da Costa virou o futebol Português do avesso desde os anos 80. Talvez por isso os Benfiquistas mais jovens concordem maioritariamente com esta teoria. Os que moram de Coimbra para cima dirão igual: “Rival, rival é o FCPorto!”.
Mas, mais uma vez, não há resposta óbvia. Não é claro qual o maior rival do Benfica. Haverá sequer isso de rival para o Benfica? Luís Piçarra já cantava em 1953 que este clube lutador, na luta com fervor, nunca encontrou rival neste nosso Portugal. É curioso pensar que no nosso clube tivemos jogadores como Bento que equipavam de azul ou Silvino que equipava de verde, sem que isso trouxesse confusão alguma. Em quase 30 anos a ver o Benfica no Estádio da Luz raramente ouvi cantar-se músicas anti-FCPorto ou anti-Sporting em jogos que não estejam presentes. Não é que não comentemos a vida dos outros, não celebremos as suas derrotas ou em alguns casos, não os odiemos. Mas é difícil olhar para o lado e dizer: é este!
Conheço Benfiquistas que defendem que isto é, aliás, um defeito do clube. Que somos demasiado felizes, que falta um pouco de raiva. A raiva, a inveja é uma excelente gasolina para ganhar títulos. O Benfica teve, aliás, esse exemplo em 2016 com Jorge Jesus. Ainda neste recente jogo com o FCPorto, polémicas de arbitragem à parte, voltou-me a parecer que o outro lado entrou mais aguerrido, mais determinado, mais “raivoso”. O Benfica devia ter melhores jogadores para não precisar dessa gasolina que lhe foge à matriz, mas, não tendo, ajudava ter mais lenha para pôr na fogueira.
Apesar disso, não me queixo. É bom ter dois rivais e nenhum ao mesmo tempo. Importante é ir vencendo-os. Por nós, de preferência. Contra eles, se necessário.