placardpt
      Mattia nasceu no mês «das noites mágicas» de Totò

      Filho do herói do Itália-90 vive no Porto e joga no INATEL

      Notti magiche
      Inseguendo un goal
      Sotto il cielo
      Di un'estate italiana

      Junho de 1990, não há quem não se encante com a voz rouca de Gianna Nannini e com os golos, muitos golos, de Salvatore Schillaci.

      O olhar inflamado de Totò é a marca de água do Itália-90. As finalizações selvagens, os festejos endiabrados, a figura-revelação do torneio, surpresa-mor do selecionador Azeglio Vicini.

      @Getty / Billy Stickland
      Schillaci chega à icónica prova para ser, em teoria, apenas suplente de Andrea Carnevale, Roberto Baggio, Gianluca Vialli e Aldo Serena. Poucos o conhecem fora da Serie A e nem um espaço na caderneta oficial da Pannini lhe é atribuído.

      Tudo muda num par de semanas. Do quase anonimato ao estrelato, do esquecimento no banco ao caminho dos golos. Um, dois, seis, até a Squadra Azzurra cair nas meias-finais.

      Salvatore, o siciliano, resolve logo a abrir o jogo contra a Áustria, no Olímpico de Roma. Carnevale sai lesionado, Vicini lança a velocidade de Schillaci e um golo aos 78 minutos chega para a primeira notte magica.

      A titularidade espera pelo terceiro duelo. Vialli vive um momento infértil e Totò Schillaci anda na lua, por culpa do nascimento do primeiro filho, Mattia, dias antes.

      Entusiasmo máximo, golos à Checoslováquia, ao Uruguai, à Rep. Irlanda, à Argentina e a Inglaterra.

      33 anos depois, todos os astros se alinham e o zerozero abre a porta para receber Schillaci. Mattia Schillaci, o bebé nascido entre o primeiro e o segundo jogos do Mundial das Noites Mágicas do pai.

      Coincidências da vida.

      Herança, ADN, Porto, Medicina Dentária e futebol, claro.

      Um encontro mágico.  

      Dois Schillaci, o mesmo calcio no Santa Catarina FC

      Mattia Schillaci, 33 anos, apaixonado por futebol, cidadão portuense. Como? Porquê?

      A conversa nos estúdios do zerozero cruza-se com uma moldura do pai, Totò, e acaba a dar as respostas a estas questões. Encaixe cósmico. 

      «Em 2018, vim estudar Medicina Dentária na Universidade Fernando Pessoa. Sou muito feliz no Porto, é uma cidade espetacular. Iniciei este percurso há cinco anos e já me sinto em casa», explica Mattia, os mesmos olhos vivos do pai, o mesmo sorriso ininterrupto.  

      @Vasco Rocha
      «Gosto da comida, gosto da cerveja (risos), passo os meus dias entre a universidade e os treinos de futebol. Nós temos aulas práticas diariamente e são muito exigentes, o empenho é total», conta Mattia, o Schillaci júnior do título desta conversa.

      À Medicina Dentária, Mattia junta mais dois prazeres na Invicta: a pesca, «em Espinho e em Leça», e o futebol no popular Santa Catarina FC, clube fundado numa papelaria na rua mais turística e comercial da cidade do Porto, sala de visitas no centro.

      Sérgio Oliveira, dirigente do clube que compete no campeonato do INATEL, acompanha Mattia Schillaci e recorda o dia em que se conheceram.

      «Estávamos a treinar num campo no centro do Porto e ao lado, num campo de futebol de cinco, estava um grupo de italianos. Pediram para jogar connosco, perguntaram as condições e aí surgiram os dois manos Schillaci», recorda, entre sorrisos.

      Dois Schillaci? É verdade, além de Mattia, também Alberto veste a dala altura o preto e branco listado do Santa Catarina. «Era bom jogador, mas agora dedica-se ao fitness», complementa.

      «O Mattia é aguerrido, trata bem a bola para este nível, nota-se que tem escola.»

      A ideia de Sérgio Oliveira coincide com o auto-retrato de Schillaci júnior.

      Spillo
      2023/2024
      0 Jogos  0 Minutos
               2x

      ver mais �
      «Comecei a jogar no centro desportivo da minha família em Palermo. Temos vários escalões, dos mais pequenos aos maiores. Depois tive uma experiência na Eccellenza [5º escalão], com o Atletico Luceoli Cantiano, uma equipa siciliana, e mais tarde joguei em pequenos clubes da ilha e em dois no norte de Itália.»

      Em 2015, Mattia ainda apanha o avião para jogar seis meses em Malta, no San Gwann, do segundo escalão. «Tive um percurso pouco importante no futebol, também porque na infância tive alguns problemas de crescimento e musculares.» 

      Nada que incomode o mundo do Santa Catarina. Nos sintéticos nortenhos, de sábado a sábado, a missão é simples: diversão máxima, vitórias e a terceira parte à mesa com os camaradas de causa.

      «Há compromisso, há paixão, a atmosfera é espetacular. Jogamos, jantamos a seguir, até jogamos padel e outros desportos juntos. É um prazer», continua Mattia, antes de se tentar comparar ao pai Totò, um avançado irrepetível na Squadra Azzurra.

      «No passado, eu era lateral, de características ofensivas. Nos últimos anos passei a jogar mais no centro, a defesa central ou médio. Jogo onde o mister do Santa Catarina pretender.»

      «O meu pai estava no Mundial e eu a nascer»

      Efeito boomerang, a conversa é atirada para as coisas do Porto e volta sempre a Itália, ano de 1990. Teimosa. Mattia Schillaci fala orgulhoso do pai, peito cheio, o apelido a saltar de confidência em confidência.

      «Nasci em 1990, em junho. O meu pai estava a fazer o segundo jogo de Itália no Mundial e eu estava a nascer no hospital», prossegue o filho mais velho de Totò.

      @Vasco Rocha
      «Esse Mundial é falado até hoje em minha casa. O meu pai diz sempre que provou emoções únicas, com os golos por Itália e com o nascimento do primeiro filho: eu. Tudo ao mesmo tempo. Em Itália dizemos que nesse torneio vivemos as Notti Magiche [noites mágicas]. A expressão até aparecia no hino oficial, cantado pela Gianna Nannini», lembra Mattia, voltando à abertura deste artigo.

      Tiffoso da Juventus e do Palermo, Mattia Schillaci surge na base de dados do zerozero através da alcunha, Spillo. A tradução à letra leva-nos a «alfinete», palavra outrora aplicada a outro goleador, Alessandro Altobelli.

      «Em Itália, Spillo significa ‘homem baixo’», brinca, envolvido por um cenário de futebol, o enquadramento onde mais à vontade se sente.

      Pergunta obrigatória: como é que os colegas ficaram a saber que Spillo é Schillaci, filho do eterno Totò?

      «Com as redes sociais é difícil haver privacidade», ri-se Mattia. «O Sérgio [Oliveira] foi dos primeiros a saber. Eu não gosto de dizer quem sou, prefiro que a notícia se espalhe naturalmente.» 

      Da indústria mecânica à medicina dentária

      Futebol, indústria mecânica, medicina dentária. O percurso de Mattia Schillaci é raro, mas determinado. Em junho de 2024, passará a ser o dr. Schillaci, outra influência familiar.

      «Temos uma clínica de medicina dentária em Palermo. A minha namorada também trabalha na área. Eu trabalhava antes na indústria mecânica e foi um desafio grande trocar de vida», assume Mattia, no tradicional gesticular dos italianos.

      Mattia Schillaci é o segundo a contar da esquerda, em cima - Santa Catarina FC, 2021 @Santa Catarina FC
      «Não foi simples, porque mudei de área e de país. Este é o meu último ano na universidade e espero que em junho já possa ser o doutor Mattia Schillaci.»

      No futuro, Mattia tem «muitas opções» e tanto pode voltar a Palermo, como mudar-se para Milão ou continuar no Porto. Por agora, quer aproveitar o curso, o futebol no santa Catarina e as visitas dos familiares mais próximos.

      «A minha mãe já cá veio visitar-me e agora tenho a minha avó de 85 anos comigo. Vai ficar até ao Natal, é uma cozinheira maravilhosa. Estou a fazer um trabalho com ela na clínica», confidencia ao zerozero, antes de se despedir.

      E o pai, Salvatore, quando estará no Porto para abraçar o filho e, talvez, Rui Barros, antigo companheiro de equipa na Juventus?

      «Ele estará cá no final do ano, tem de vir visitar-nos. Sei que gosta muito de Portugal. No meu segundo ano ele tinha viagem marcada, mas a covid interrompeu tudo. Depois teve alguns problemas de saúde e a viagem tem sido adiada. Falei com o Rui por mensagem e temos de marcar encontro para conhecer-nos. Quando o meu pai estiver cá, de certeza que vamos jantar fora.»

      O conto dos Schillaci, do Itália-90 à cidade do Porto, 33 anos depois. Improvável e belo.  

      Itália
      Totò Schillaci
      NomeSalvatore Schillaci
      Nascimento/Idade1964-12-01(59 anos)
      Nacionalidade
      Itália
      Itália
      PosiçãoAvançado (Ponta de Lança)

      Fotografias(2)

      Totò Schillaci

      Comentários

      Gostaria de comentar? Basta registar-se!
      motivo:
      EAinda não foram registados comentários...
      Tópicos Relacionados

      OUTRAS NOTÍCIAS

      Sporting
      Destaque
      Técnico leonino próximo de fazer história
      «Não tenho dúvidas que Matheus Nunes vai pagar Rúben Amorim» Rúben Amorim fez o que parecia impossível e inviável. Depois de um período ...

      ÚLTIMOS COMENTÁRIOS

      Platinum-Returns 09-05-2024, 09:57
      JotaFer 09-05-2024, 09:56
      Sir_jaof 09-05-2024, 09:42
      Platinum-Returns 09-05-2024, 09:22
      JS
      jsilva77 09-05-2024, 09:19
      AL
      Alvibranco 09-05-2024, 09:18
      pedrorosa107 09-05-2024, 09:18
      tcpor 09-05-2024, 09:06
      ricardocunha251 09-05-2024, 08:23
      JS
      jsilva77 09-05-2024, 08:13
      ruipereira_ 09-05-2024, 07:20
      moumu 09-05-2024, 04:31
      moumu 09-05-2024, 04:27
      moumu 09-05-2024, 04:19
      moumu 09-05-2024, 02:42
      moumu 09-05-2024, 02:40