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    zerozero esteve no Coimbrões 4-1 Candal

    Dérbi à moda de Gaia: camarote na janela, bifanas ao goleador e promessa de gozo durante a semana

    2024/03/05 18:50
    E5

    Caro leitor, comecemos este artigo com uma questão: sendo certo que esta é uma atividade extremamente prazerosa, o que há de melhor do que falar sobre futebol? Estamos longe de ser donos da verdade, mas acreditamos que a reposta 'ver futebol' ter-lhe-á passado pela cabeça.

    Pois bem, partindo deste pressuposto, não quisemos deixar o trabalho a meio e, depois de lhe termos apresentado a rivalidade entre o Coimbrões e o Candal, a mais próxima da redação do zerozero, deslocámo-nos até ao Parque de Jogos Silva Matos para assistirmos ao duelo entre os dois rivais gaienses, a contar para a Divisão de Elite da AF Porto.

    O espírito do 'futebol raiz' fez-se sentir no recinto de jogo, não só pelo apoio dos adeptos praticamente em cima da linha lateral, mas também pela presença de familiares de jogadores no meio da bancada (há lá espaço para camarotes no futebol distrital...) O resultado? O menos importante para o zerozero- mas o mais relevante para os adeptos de cada um dos clubes, assim o sabemos-: um esclarecedor 4-1 a favor do Coimbrões.

    Subida? Nem todos os adeptos a desejam

    Assistir a um jogo no Parque de Jogos Silva Matos é sinónimo de regresso a uma casa onde já tínhamos sido felizes. No passado mês de outubro, aquando da realização de uma reportagem sobre adeptos que conseguem ver futebol a partir da janela/varanda de casa, o nosso portal foi até Coimbrões, isto na medida em que sabíamos que existem apartamentos com vista privilegiada para o relvado do recinto.

    Na altura falámos com Margarida Domingues, sexagenária que não perde uma partida em casa do seu clube a partir da janela do 5º andar em que habita. Pois bem, como poderíamos fazer esta reportagem sem reencontrarmos esta nossa amiga? Desta vez subimos mesmo até ao apartamento da fervorosa adepta do Coimbrões e conversámos não só com ela, mas também com o seu marido, Eduardo Domingues. 

    A vista de casa de Margarida e Eduardo Domingues

    O encher das bancadas a uma hora do apito inicial contrasta com a manta que Margarida Domingues tem sobre os ombros. Já há vários anos que o casal assiste aos jogos a partir de casa, num cenário explicado por Eduardo Domingues. «Às vezes puxo a cadeira e estou a ver futebol inglês e o Coimbrões ao mesmo tempo. Eu sou sócio e tenho o ano todo pago, mas aqui não estou ao frio e posso ir ao quarto-de-banho quando quiser», começa por referir, abordando depois a rivalidade que nos levou até ao Silva Matos: «São dois clubes próximos, assim como o Vilanovense e o Canidelo. Dois ou três dias antes começa-se a falar do jogo. Neste momento o Coimbrões está melhor do que o Candal, mas houve sempre grandes jogos, com muita gente. Os adeptos não gostam um dos outros e às vezes havia até pancadaria na assistência.» 

    «Daqui também temos vista para o cemitério, mas não trocava por causa da vista que temos para o campo». Se D. Margarida, que faz questão de colocar um cachecol à janela sempre que o seu clube joga, não quer trocar de casa, o seu marido não quer que o Coimbrões troque de... divisão.

    «Hoje temos de ganhar porque estamos a disputar a subida, mas, sinceramente, eu não queria que o Coimbrões subisse. Estivemos no Campeonato de Portugal durante 13 anos e são muitas deslocações para longe. Nós até levávamos muita gente aos outros estádios, mas eles não traziam ninguém. Com equipas de mais perto, isso dá mais dinheiro aos clubes. Este ano fui ao Candal e ao Canidelo, se fosse outro tipo de deslocações já não conseguia ir», considera, de forma algo curiosa.

    A visita não é propriamente demorada porque o início do jogo aproxima-se, mas há ainda tempo para mais uma história do septuagenário: «Num jogo com a Sanjoanense, para o Campeonato de Portugal, o Coimbrões teve o campo interdito. Assim sendo, peguei pessoal amigo- eram 30 e tal pessoas-, eles deram 3 euros cada um para ajudar e fomos buscar cerveja, vinho, bifanas, moelas, castanhas... Para além disso, o Coimbrões ganhou, não podia ser melhor!»

    Uma enchente no bar

    Com a acreditação levantada na bilheteira, é hora de entrarmos no palco de todos os sonhos. Antes de nos instalarmos na bancada fazemos uma curta paragem no bar do Coimbrões, atualmente a ser explorado por David Pereira, também ele adepto do clube. 

    «É um dia muito intenso desde o momento em que acordas até ao final do jogo. É o maior dérbi de Gaia. Agora estou aqui a trabalhar e já não é como antes, também já não sou aquele jovem fanático e problemático [risos]. Já se sabe que o Coimbrões-Candal é sempre uma febre e há alguns problemas, mas espero que hoje seja um bom jogo», começa por nos contar.

    As mesas vazios no estabelecimento são nulas, num sinal claro de que as gentes de Coimbrões e do Candal deslocaram-se em massa até ao recinto onde o encontro se disputará em breve. De resto, a rivalidade entre os dois clubes obriga David a fazer alguns ajustes no bar: «Parece que vem tudo à bola, ainda para mais quando está bom tempo. Tenho de meter sempre mais uma ou duas pessoas a trabalhar: já estou eu, a minha mulher e a minha mãe, hoje meti aqui um jogador brasileiro dos juniores que está a viver nas instalações do Coimbrões. Prefiro ajudar os da casa.»

    O adeus é feito sobre a forma de prognóstico. «Não quero estar muito confiante, mas acredito que o Coimbrões vai ganhar 3-1, com dois golos do Neemias e um do Matheus», atira David.

    E tudo uma expulsão condicionou

    O microfone com a inscrição 'Zerozero' denuncia-nos na caminhada que fazemos até à bancada e as abordagens nas quais adeptos nos revelam que não sabiam que a nossa redação fica em Vila Nova de Gaia- aspeto dado a conhecer na reportagem que publicámos na semana passada- multiplicam-se.

    O modus operandi estava definido com antecedência: iríamos passar uma parte junto dos adeptos do Coimbrões e outra ao lado dos apoiantes do Candal. Dessa forma, é envolvidos num espírito de entusiasmo que nos instalamos junto da claque da equipa da casa. 

    Equipas no momento da entrada em campo

    O início do encontro é equilibrado, mas, à passagem do minuto 12, tudo muda: lançado na profundidade, o avançado Matheus Fornazari é travado pelo guarda-redes Miguel Guedes à entrada da área, num cenário que resulta na expulsão do guarda-redes do Candal.

    «Oh Miguel, vai arrumar caixas para o armazém! Nem carta de empilhador tens!»

    Eis um dos gritos que se ouve a partir da bancada dos adeptos da casa quando o guardião, ex-jogador do Coimbrões, se dirige para o balneário. Haverá maior sinal de que estamos no futebol distrital, contexto onde todos se conhecem?

    A partir daqui, e de forma natural, o Coimbrões assume as rédeas do encontro e acaba por chegar com naturalidade ao golo. Aos golos, melhor dizendo. Até ao intervalo, os visitados festejam por três ocasiões, sempre com um denominador comum: Neemias Barbosa. De cabeça (por duas ocasiões) e de pé direito, o avançado brasileiro, de 24 anos, dá uma vantagem confortável ao Coimbrões, num cenário que lhe viria a encher o estômago no final do encontro.

    Confuso? 

    Manuel Jesus já trabalhou no clube

    «Prometi que lhe pagava uma bifana se marcasse um golo, ao intervalo já vai com três...». É desta forma que se inicia a conversa com Manuel Jesus, adepto do Coimbrões. Agora a vibrar fora do recinto de jogo, partilha que já serviu o clube durante vários anos. «Andei quatro anos como massagista, fui seccionista, fui diretor... Eu saía às 14 horas da empresa e só chegava a casa às 22h. E mesmo assim diziam 'isto e aquilo' de nós. As pessoas andam aqui por carolice, não podem andar aqui por interesses. Tenho o que tenho à minha custa, não do Coimbrões. Ou melhor, tenho um casaco que me deram, mas nem ando com ele [risos].»

    O apito para o início da segunda parte precipita o fim do diálogo, mas há uma certeza dada por Manuel Jesus: «O Coimbrões tem equipa para subir!»

    A etapa complementar é passada junto dos adeptos do Candal, que tiveram de fazer um curta viagem até ao Parque Silva Matos. Na bancada encontramos Serginho, antigo avançado do clube com quem tínhamos conversado na semana anterior. Perante a desvantagem no marcador, é num tom bem humorado que ouvimos um «Serginho, aquece que vais entrar» dirigido ao nosso entrevistado por parte de um adepto.

    Os segundos 45 minutos, vividos do lado de cá da vedação, são muito menos animados. Aliás, o único vislumbre de festa surge quando o Candal faz o 4-1 final (o Coimbrões tinha marcado mais um golo no início da segunda parte), num cenário que deixa os fãs candalenses resignados. 

    José Gomes joga nos juniores do Candal

    «A expulsão a abrir condicionou a estratégia para o resto do jogo. São duas equipas com objetivos diferentes, mas não achava que ia descambar desta forma. No entanto, a expulsão com o 0-0 no marcador encaminhou a equipa para a derrota», diz-nos José Gomes, jogador dos sub-19 do Candal. Ainda assim, apesar da derrota, o orgulho por apoiar o Candal não sai minimamente beliscado: «É um dérbi que desperta sentimentos de raiva. Na formação, quando fazemos jogos com o Coimbrões é mesmo para «matar». Todas as bolas e todos os lances... É mesmo para rebentar. Haver este tipo de rivalidades é o que permite que o futebol se mantenha vivo, é algo importante. Hoje vimos uma diferença entre as duas equipas, mas historicamente é mais equilibrado.»   

    A questão que fica é agora uma: como será esta semana depois de um resultado tão desnivelado? «O pessoal aqui de Coimbrões passou a semana a dizer que iam ganhar e agora sei que vão gozar comigo, mas faz parte. Vai haver jogos em que vou ser eu a gozar com eles, portanto não há problema.»

    Cai assim o pano sobre o dérbi, mas um coisa é certa: tão perto da redação, não há forma de o zerozero não se sentir em casa.

    Comentários

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    motivo:
    Charles
    2024-03-06 08h00m por ago
    Se não me engano, dragões Sandinenses, foram duas vezes até aos quartos de finais . E foram eliminados pelo Sporting e Benfica.
    Algo histórico.
    Equipas de Gaia
    2024-03-06 06h17m por moumu
    Que me lembre e tenho quase a certeza não jogou nenhuma na 2ª liga na história do futebol Português, como dizem abaixo Coimbrões, Vilanovense e Dragões Sandinenes estiveram várias épocas na extinta 2ª divisão B-
    derby
    2024-03-05 19h27m por Tobin
    Sempre bom ver o pessoal a apoiar os clubes da sua terra.
    Boa reportagem
    2024-03-05 19h14m por dp_69
    Mas custa sempre lembrar que no meio de dezenas de equipas gaienses, não há uma com história nos escalões profissionais. Lembrar que estamos a falar de um dos concelhos mais populosos do país.
    Acho até que seria um bom tema para uma futura reportagem aqui no zerozero.

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