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    Primeira entrevista após controlo positivo

    Diego Cavinato na primeira pessoa: «Quero ser recordado pelo gajo que fazia golos»

    O primeiro contacto surgiu no início do mês de outubro, pouco depois de ter rebentado todo o caso que implicou Diego Cavinato num processo de controlo anti-doping. A resposta foi pronta e a disponibilidade surpreendente. Sem levantar quaisquer questões, o melhor marcador da história do Sporting aceitou o convite do zerozero.

    A marcação da conversa/entrevista, porém, não foi imediata. O zerozero, desde o primeiro contacto, mostrou disponibilidade total para falar com Diego Cavinato quando este assim o entendesse. E Diego Cavinato não falhou com a sua palavra.

    Numa conversa franca e muito emocional, muito mais centrada para a questão desportiva, aquela que ficará para a história do jogador e da sua passagem por Portugal, o ítalo-brasileiro deu a sua primeira entrevista depois da bomba rebentar. Eis Diego Cavinato, na primeira pessoa, em exclusivo ao zerozero.

    «Nesta altura só quero proteger a minha família»

    zerozero (ZZ): Já passou quase um mês daquele dia... Como tens vivido estas semanas?

    Diego Cavinato (DC): Tem sido difícil... (pausa) Mas vamos andando. Com o tempo tudo passa, tudo cura.

    ZZ: Vi nas tuas redes sociais que voltaste a ser pai muito recentemente. Como está tudo com o bebé?

    DC: Está tudo a correr bem. É o meu terceiro filho, tenho uma menina com 10 anos, um menino com cinco e o mais novo está quase a fazer dois meses.

    ZZ: Acredito que também seja um estímulo para ti nesta fase complicada.

    DC: Sim, claramente. É um momento complicado, mas quero seguir em frente. Estar a mexer na ferida é pior. No comunicado já falei o que queria, sobre tudo o que aconteceu. A minha filha já começa a entender um pouco do que se passou. Foi um erro da minha parte e já estou a pagar por ele.

    Foram tempos difíceis, tive bastante apoio dos adeptos, confesso que nem esperava tanto apoio, foi espetacular. Agora quem vai sofrer mais vai ser a minha família. Já passou um mês, foi uma bomba e é altura de falar das coisas boas. Agora estou bem, melhorei bastante, estou a ser seguido. Foi difícil, mas agora está tudo bem.

    ZZ: Pelo que estou a perceber continua a ser difícil falares do assunto.

    DC: Não tenho nada a esconder, escrevi tudo no comunicado. Foi um erro, mas as pessoas que me conhecem sabem que eu nunca quis tirar vantagem, nunca foi esse o meu objetivo.

    Nesta altura só quero proteger os meus filhos, a minha família. Daqui a uns anos, os meus filhos vão pesquisar e a internet é para o bem e para o mal. E não quero que eles fiquem com uma imagem errada por um erro da minha parte. Que pode estragar muitos anos.

    Quando fui falar com o doping admiti que errei. Eu fui bem claro com eles. Errar é humano e assumir o erro é ser homem. Dar a cara. Podia ter-me escondido, ter dito que não sabia de onde tinha surgido. Quis falar a verdade desde o início porque queria acabar rápido com o assunto. É para seguir em frente.

    «Devo uns 35% dos golos ao Merlim»

    ZZ: Vamos então falar de coisas boas: em oito anos de Sporting não tens uma média nada má: 340 jogos, 340 golos, 25 títulos, entre eles duas Champions... Numa palavra, como descreves esta história?

    DC: Acima de tudo é uma história bonita. Os anos mais felizes da minha vida foram aqui, tanto em termos profissionais, como pessoais. Dois dos meus três filhos nasceram em Portugal. Vou levar sempre coisas boas de Portugal, do Sporting e dos sportinguistas. Os meus oito anos de Sporting foram maravilhosos para mim e para a minha família.

    @Sporting CP

    ZZ: E o melhor momento no Sporting?

    DC: Foram muitos mesmo... mas acho que a primeira Champions foi o momento mais marcante. Fiz o 1-0 desse jogo e acaba por ser mais marcante por toda a pressão dos dois anos anteriores. Tínhamos chegado à final, estivemos tão perto e não conseguimos. À terceira acabou por ser de vez e tudo foi maravilhoso. No Pavilhão João Rocha, no Aeroporto, por toda a cidade... ainda tenho tudo bem presente na minha memória.

    ZZ: Até porque essa conquista acaba por ser o matar de um borrego do Sporting na Liga dos Campeões...

    DC: Sim, foram dois anos a bater na trave. Era um desejo de todos e aquela pressão de ter de ganhar acaba por nos bloquear. E esse foi um dos anos em que nos sentimos mais leves, mais livres. Alguns tinham passado pelas duas derrotas, outros eram novos, como o Erick, o Guitta, o Rocha, o Alex, e os mais antigos tínhamos a pressão dos outros anos. Mas nessa estávamos mais confiantes em nós mesmos e aproveitámos o momento.

    O Kairat, por jogar em casa, tinha a pressão do lado deles e nós, nas meias-finais, tínhamos eliminado a nossa besta negra [Inter Movistar] e já não tínhamos tanto peso nessa final.

    ZZ: E com tantos títulos conquistados ficou a faltar ganhar alguma coisa no Sporting?

    DC: Acho que não... Ganhei bastante, muito mesmo. Fomos até fora da curva, não é fácil manter uma regularidade vencedora como a que tínhamos. Trocávamos jogadores ao longo dos anos, mas a base mantinha-se sempre. Continuámos sempre a ganhar, tínhamos sempre essa ambição de ganhar, de continuar a ganhar. Foi sempre o nosso ponto forte e incutíamos isso aos que chegavam. 

    ZZ: Quando chegaste, em 2015, o Sporting já estava na era Nuno Dias. É justo dizer que tu e o Merlim criaram uma nova era?

    DC: Acho que ajudámos a criar, sim. Com toda a equipa. Eu e o Merlim já nos conhecíamos de Itália, de termos jogados juntos no Augusta 1986 e na seleção. Éramos muito novos na altura, mas já tínhamos uma grande afinidade, dentro e fora da quadra. E depois destes anos todos... foi bom, muito bom. Ele ajudou-me a crescer muito como jogador, assim como o Nuno [Dias]. Conseguimos ajudar o Sporting e vice-versa. Uma coisa levou a outra. A cereja no topo do bolo foi no Sporting.

    ZZ: Numa entrevista que deste ainda na época passada dizias que 20 por cento dos teus golos tinham crédito do Merlim..

    DC: É verdade... mas vamos aumentar isso. Agora que já não somos colegas, posso dar uma moral para ele. [risos] Agora coloco essa percentagens nuns 35 por cento. Na altura ainda jogávamos juntos e não podia dar muita moral para ele, mas agora posso falar a verdade. [risos]

    Sempre tivemos química, éramos como irmãos. No treino discutíamos um com o outro... [pausa] Essa parte vai-me fazer falta, as discussões, as brigas, de puxarmos um pelo outro... É o que me está a custar mais. Fui hoje ao treino, dar um abraço a toda a gente, e isso está-me a custar. Mas bola para a frente.

    ZZ: Tens conseguido ver futsal ou preferiste desligar totalmente?

    DC: Os jogos do Sporting vejo sempre. Se calhar se te disser que ajuda neste processo não acreditas, mas é a verdade. Ajuda porque vejo que estão bem e fico muito feliz por isso. Criámos uma química tão boa que fico feliz em ver que eles estão bem. Eu quero que eles estejam bem, felizes! [pausa] E se eles estiverem felizes eu vou estar feliz.

    ZZ: Em oito anos de Sporting só não foste melhor marcador da equipa em dois... Como se consegue tanto golo?

    DC: Não sei se é treino, se é dom, se é não desistir de nenhuma bola... Eu sempre fui um cara que, até nos treinos ficava bravo se errava um lance, sempre me cobrei bastante. Nunca ficava satisfeito.

    Se fizesse um golo, queria fazer dois. Se fizesse dois, queria o terceiro. É de mim, eu sou assim. Eu não tinha o drible do Merlim ou do Pany. E se queria sobressair perante os outros tinha de fazer golos. Se não fosse assim, só seria mais um.

    Sempre tentei dar o meu máximo nos golos. Muitas vezes o Pany gritava comigo para ter calma! E sempre lhe disse que queria mais e mais. Tive sempre uma cobrança muito grande sobre mim mesmo. Era uma coisa boa que eu tinha.

    Era algo pessoal, um desafio comigo mesmo. Não sou tão talentoso como os outros, fui sempre mais um jogador de trabalho, que precisava de trabalhar para estar bem. Tinha de ficar sempre alguém de fora e não queria ser eu. Era uma forma de me motivar.

    ZZ: E isto tudo sendo ala de raiz...

    @UEFA
    DC: É faro de golo, mesmo. Nos treinos dizia muitas vezes ao Zicky, quando ele queria brincar um pouco, para ele não brincar com o golo, para fazer golo. Não é superstição, mas não se brinca com coisas sérias! Nunca quis sair da ala, para falar a verdade. O pivot é mais parado, protege a bola, não gosto tanto.

    ZZ: Olhando para os teus números época a época... Não passas dos 40 golos apenas em dois anos e num deles passas os 50... Tinhas metas pessoais?

    DC: Sim, tinha. E posso dizer-te que a maioria ficou por cumprir.

    ZZ: Como assim?

    DC: A meta era sempre 50 golos por temporada... Só consegui uma vez. Eu era meio obcecado, colocava as metas, tentava motivar-me...

    ZZ: Este ano acabas por fazer apenas um jogo, o da Supertaça. Acredito que isto tudo seja um grande amargo de boca...

    DC: Queria sair de outra forma, claro. Não foi isto com que sonhei. Mas Deus quis assim e não vamos conseguir entender agora o porquê de tudo isto, mas vamos acabar por perceber.

    «Falei com os meus colegas cara a cara. Era o mínimo»

    ZZ: Sei que continuas em Portugal. É para continuar por mais algum tempo?

    DC: Tinha vontade de ficar, mas com tudo isto vou acabar por voltar ao Brasil. Sempre quis voltar ao Brasil. Saí muito cedo, com 17 anos, do meu país, já foi há muito tempo. Mas é sempre a nossa casa e preciso de desligar de tudo. Voltar para a minha cidade... (pausa). E a vida segue. Com outros objetivos, mas sempre com a mesma vontade e intensidade na vida do dia-a-dia.

    Vou voltar ao Brasil no próximo dia 28. Vai ser tudo uma novidade para os meus filhos e para mim mesmo. Voltar àquela cidade pequenina, vai ser um choque de realidade bem grande. Mas vão estar perto dos avós, dos padrinhos, da família toda... Vamos ter um apoio familiar que nunca tivemos até aqui e vai ser bom para eles. Acabamos por voltar sempre a casa.

    ZZ: E já decidiste se isto vai significar o fim da tua carreira?

    DC: [pausa] Ainda não sei. Vou acabar por anunciar. Não quero falar já sobre isso. Profissionalmente não sei, mas vou acabar por falar sobre isso mais à frente. Vamos ver, ainda não sei. Ainda é tudo muito recente.

    Raio X [Jogador]
    na/o
    Diego CavinatoSporting
    340Jogos
    340Golos Marcados
    297Vitórias
    20Empates
    23Derrotas
    ZZ: «Tive um erro, pagarei por ele, mas espero que o tempo ajude a recordar tudo o que de bom sempre dei e fiz neste país que sempre tão bem me acolheu». No comunicado escreveste isto; agora pergunto-te: como gostavas de ser recordado no futsal português?

    DC: Quero ser recordado pelas coisas boas que fiz. Pelo gajo que fazia golos, pela pessoa que sou. As pessoas que me conhecem melhor sabem do meu coração imenso. Queria ser recordado assim... [pausa] Era isso.

    Queria que me recordassem assim, pelas coisas boas, e não por um erro besta que está a pesar em mim e na minha família. Não acho que tenha havido muito julgamento, mas queria que as pessoas me recordassem pela parte boa.

    ZZ: E acredito que as mensagens públicas dos teus colegas também te tenham emocionado.

    BS: Muito, muito. Quando falei com eles, cara a cara, foi dos dias mais difíceis da minha vida. Inicialmente fechei-me na minha bolha, sozinho. E quando fiquei a saber tudo falei com eles antes dos comunicados saírem. Cara a cara.

    Não quis publicar nada antes. Era um dever meu, uma responsabilidade minha. Depois de tudo o que vivemos juntos, era o mínimo. Foi dos momentos mais difíceis da minha vida. Disse mesmo à minha esposa que se não morresse naquele dia não morria mais.

    Foi muito, muito difícil. Para todos, acho. Porque eu tinha algum peso no balneário, no grupo. Com brincadeiras, de me chamarem velhote, brincadeiras boas. Agora eles vão seguir a vida, estão bem, estão felizes. E isso é que é o importante. E não esquecer o Nuno [Dias]. Foi muito difícil dizer-lhe adeus.

    Agradeci tudo o que fez por mim, acolheu-me muito bem nestes anos. Devo-lhe muito, ao Casca [ndr. Paulo Luís, adjunto de Nuno Dias] também. Foi fundamental. Se estou aqui há oito anos grande parte foi graças a ele.

    @Sporting CP



    Itália
    Diego Cavinato
    NomeDiego Simoni Cavinato
    Nascimento/Idade1985-05-06(39 anos)
    Nacionalidade
    Itália
    Itália
    Dupla Nacionalidade
    Brasil
    Brasil
    PosiçãoAla

    Comentários

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    motivo:
    VA
    Ahahaha
    2023-10-19 21h41m por vasconeves08
    Drogado!
    Cavinato
    2023-10-19 11h17m por Aleaotejano
    Pelos sportinguistas serás sempre recordado como uma lenda. Dos melhores goleadores de sempre do campeonato português. Inúmeras conquistas. É pena que a história tenha terminado assim e não com a festa do possivel tetra.
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