Não é propriamente uma novidade, até porque já chegou a ser considerada uma das melhores do mundo, que a academia do Sporting tenha produzido vários futebolistas de renome ao longo de vários anos. Isso deve-se, também, ao trabalho de prospeção realizado pelos responsáveis do clube.
Entre muitos que chegaram, outros que poderiam ter chegado e promessas adiadas, há um nome que chegou a ser recomendado aos leões e que hoje é uma das maiores figuras do futebol mundial: Erling Braut Haaland, que vai defrontar os leões na próxima terça-feira (28 de setembro) para a segunda jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões.
A história ficou conhecida este ano quando Tomás Pereira, então coordenador do scouting do Sporting no futebol escandinavo, revelou ter indicado o jogador ao emblema verde e branco em 2018, em conversa com o MaisFutebol.«Indiquei o Haaland em 2018, pouco depois de ele sair do Byrne para ir para o Molde. Naquela altura o futebol norueguês não era de todo interessante. Começou a aparecer o fenómeno Odegaard, que trouxe alguma paixão aos noruegueses, mas o país ainda estava num estado de dúvida. Tinham um bom jogador, sim, mas o que apoiavam mesmo era o futebol inglês», disse.
«Imediatamente o indiquei ao Sporting, já para integrar a equipa principal, e a partir daí a bola passou para os meus superiores, que podiam ter ou não interesse no jogador. O meu chefe de então achou que podia ser um jogador interessante, mas achou que era demasiado caro. Na altura falava-se de um preço a rondar os 2,5 milhões de euros e ele considerou que era demasiado dinheiro», acrescentou.
Com o passar dos anos, o futebol nórdico começou a ganhar muitos interessados face às pérolas que foram despontando, com Odegaard à cabeça, tal como Haaland e a sua ascensão meteórica. Depois de 2018 saiu para Salzburgo, depois para Dortmund... E o resto continua a ser história.
Ora, nem de propósito, o Sporting conta, nas suas fileiras, com um jovem ponta-de-lança norueguês. Tem 18 anos e tem percorrido as camadas jovens do clube desde 2017/18, estando, atualmente, nos sub-23. Chama-se Nikolai Skoglund e é conhecido como... O 'Haaland de Alvalade'.
O avançado chamou à atenção quando, em novembro de 2020, foi chamado ao plantel principal face à ausência de vários jogadores internacionais e marcou dois golos numa goleada imposta à equipa B (5x0), sendo que chegou mesmo a ser inscrito na Liga.
O passado do Skoglund é curioso: jogava no Nordby, ganhou uma bolsa para estudar num colégio internacional e foi para Banguecoque, capital da Tailândia, por causa da parceria da instituição com a Cruzeiro Academy BISP, e chamou à atenção dos olheiros do Sporting ao atuar na academia do emblema brasileiro. Desde aí, percorreu vários escalões até chegar, atualmente, aos sub-23 com 18 anos.Quem conhece bem Skoglund é Luís Pimenta, selecionador dos sub-19 da Noruega, que começou por descrever o seu perfil.
«O Skoglund é um jogador que seguimos e que já teve internacionalizações pelas seleções jovens. Tem algumas características pouco habituais comparando com os jogadores aqui na Noruega como, por exemplo, a arrogância que tem em ir para cima dos defesas, sendo que muitos noruegueses jogam, por norma, pelo seguro. Isso é bom. É lógico que ele tem ótimas capacidades e um bom potencial. Agora, dizer que é o ‘Haaland de Alvalade’… [risos]. É colocar uma pressão desnecessária. Têm que seguir a carreira, dar os passos de desenvolvimento corretos e não o que o outro fez com a mesma idade», apontou ao zerozero.
Para o técnico, o jogador dos leões tem capacidade para, no futuro, subir à equipa principal e à seleção AA.
«Não vejo porque não. Se não tivesse qualidade não estava num clube como o Sporting. Por isso, se está no Sporting, se tem dado passos dentro do clube, se agora está nos sub-23 e, inclusive, marcou um hat-trick recentemente contra o Belenenses SAD é um sinal. Ele tem qualidade e costuma estar nas contas quando sai uma convocatória. Ainda assim, é difícil porque o ano dele, 2003, tem muitos jogadores de qualidade no grupo da frente que jogam em grandes clubes, como o Oscar Bobb no City e o Fiabema no Chelsea. A Noruega, tendo em conta o que falámos antes, está com um problema neste momento que antes não tinha: ter jogadores em boas academias e às vezes não serem convocados porque a concorrência é muito maior», disse.
A evolução do futebol escandinavo e norueguês em particular é evidente e tem atraído cada vez mais interesse das grandes potências. Para além do trabalho realizado pela Federação daquele país, o aparecimento de estrelas como Martin Odegaard e Erling Haaland ajudou nesse aspeto.
«O Martin [Odegaard] mostrou-se na I Liga noruega muito cedo, ao serviço do Stromgodset, e o talento dele era inquestionável. Desde muito cedo, a capacidade de ele estar numa primeira Liga e a jogar bem logicamente que atraiu a atenção de grandes clubes. O Real Madrid foi um deles e fizeram o acordo», esclareceu, antes de apontar o caso de Haaland.
Apesar de ambos terem sido referenciados pelo Sporting, o talento não passou despercebido, na altura, a outros colossos.
«É uma ponte fácil de fazer. Da mesma forma que eles foram referenciados para o Sporting, foram, também, para outros clubes. Quem acompanha de perto o futebol escandinavo já os conhecia. O que acontece, de forma geral, é o jogador escolher o passo certo. O Haaland, por sua vez, tem o pai que foi futebolista, o Alf-Inge Haaland que jogou no futebol inglês, inclusive. Eles têm muita calma na hora da decisão. Se já tinham confiança nas capacidades dele, quando era muito mais novo, agora ainda mais porque está num nível altíssimo. Esse aconselhamento e essa calma são vitais. Não basta um clube grande demonstrar interesse e, imediatamente, dar-se esse salto. Há que analisar o projeto de desenvolvimento e as oportunidades futuras», atirou, finalizando com um futebol norueguês que já é «visto com outros olhos».«Sem dúvida. Só não vê com outros olhos quem não acompanha de perto. Porque há o caso do Jens Peter Hauge, que foi para o AC Milan e depois para o Eintracht Frankfurt, mas há muitos mais casos. Vários jovens da seleção estão em grandes clubes como Chelsea, Manchester United e Manchester City. Apesar de não estarem nas primeiras equipas, são jogadores com imenso talento e isto vem de um trabalho ao longo dos anos que a Federação Norueguesa teve ao restruturar muito a formação e os seus processos. Não só na Federação, mas também, por exemplo, de ajuda aos clubes que apostam mais nas camadas jovens. Logicamente que os frutos estão a ser colhidos. Agora, Martin Odegaard e Haaland não são a norma [risos]… No entanto, a norma está muito superior à anterior e a atenção de grandes emblemas para o mercado norueguês mudou completamente. Nos jogos dos escalões jovens da Noruega estão sempre muitos olheiros e isso deve-se, também, a esta aposta na formação e à mentalidade de treino dos noruegueses. São muito leais e disciplinados. O Schjelderup, que joga na I Liga dinamarquesa ao serviço do Nordsjaelland, é de 2004 e joga quase sempre a titular, por exemplo».
1-0 | ||
Donyell Malen 37' |