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    Maccabi Haifa

    Texto por Ricardo Miguel Gonçalves
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    Poucas palavras são tão poderosas como aquela que dá o nome a este gigante israelita: «Como tu não há entre os deuses».

    É esse o significado de «Maccabi», que também se refere à típica Estrela de David que ornamenta o escudo do clube, em representação do movimento sionista, que defende o direito à autodeterminação do povo judeu. É, também, essa a frase que resume o amor e devoção dos adeptos deste clube.

    Hoje é parte integrante dos quatro grandes deste país, mas o Maccabi Haifa nem sempre beneficiou desse estatuto, sendo, provavelmente, aquele que mais cresceu ao longo das últimas décadas. O primeiro título de campeão nacional chegou 71 anos depois do ano de fundação, mas, desde esse primeiro passo, os verdes ainda não olharam para trás. 

    Antes de Israel, o Maccabi

    Foi no Mutasarrifato de Jerusalém, distrito otomano cujo território pertence hoje a Israel, que nasceu a cidade de Haifa e, mais tarde, o Maccabi Haifa Football Club.

    Fundado no ano de 1913. Mas uma vez que a Palestina (à qual o território de Israel pertenceu até ao final da II Guerra Mundial) ainda não tinha uma associação ou qualquer tipo de estrutura ligada ao futebol, o clube jogou apenas amigáveis durante vários anos.

    Depois de ter cedido a um período de inatividade, o Maccabi foi reorganizado em fevereiro de 1923. Nesse ano, participou na primeira edição da Taça Hebraica, um troféu que os clubes hebreus criaram para si em forma de consolo, após os britânicos não terem deixado as suas equipas competir na Taça Eretz Israel, fundada um ano antes. 

    Nove equipas receberam um convite para a prova, quatro de Tel Aviv e cinco do resto do território hebraico, mas o Maccabi Haifa beneficiou de um ligeiro «empurrão». Por ser a equipa mais distante, a organização poupou as viagens às restantes equipas e adeptos e colocou o Maccabi diretamente na final. Depois de jogadas as restantes rondas, ficou definido o adversário, Maccabi Nes Tziona, e a formação de Haifa acabou derrotada por 2-0.

    Usurpar rivais, um de cada vez

    Nos anos seguintes, já com futebol oficial em marcha desde 1928, o clube cresceu e ganhou fama pela sua identidade específica, preferindo jogadores mais técnicos que a sua oposição, mas rapidamente caiu na sombra do seu rival original, o Hapoel Haifa.

    A rivalidade entre os dois clubes tem uma história quase tão longa como os próprios. O Hapoel Haifa era associado ao Partido Trabalhista de Israel e a um ponto de vista socialista, enquanto o Maccabi era conhecido pelos torcedores da classe média. 

    Mais tarde, com o Maccabi a crescer ao ponto de usurpar o rival e tornar-se num dos principais emblemas do país, as diferenças políticas desapareceram quase por completo.
    Hoje a rivalidade mantém-se, entre duas equipas que partilham o segundo maior estádio do país - o Sammy Ofer Stadium, com lugar para mais de 30 mil adeptos -, sendo que os jogos do Maccabi têm tendência para atrair um número superior de adeptos.

    Devido a esse crescimento, feito via a conquista de títulos aos quais chegaremos no capítulo seguinte desta história, o Maccabi Haifa nutriu uma nova rivalidade no futebol israelita, com o gigante Maccabi Tel Aviv.

    Hoje é considerado o Dérbi de Israel, ou, de forma um pouco mais apropriada, o Clássico de Israel. A equipa da capital ainda é dona do estatuto de melhor clube do país, mas é o homónimo de Haifa que procura mudar isso, jogo após jogo e época após época. O «agigantar» do Maccabi Haifa ficou evidente pela primeira vez em 1988, numa goleada por 10-0 sobre o maior clube do país, após várias goleadas sofridas em décadas anteriores.

    A ascensão de outro clube da capital, o Hapoel Tel Aviv, resfriou um pouco a até aí crescente rivalidade dos dois Maccabis, mas a formação de Haifa nunca deixou de lutar pelo estatuto de maior do país e, sendo considerado um dos «quatro grandes», nunca verá a rivalidade morrer.

    Títulos e mais títulos!

    O primeiro título do Maccabi Haifa chegou em 1961/62. Foi a Taça Estado, como é conhecida a Taça de Israel, depois de uma vitória por 5-2 frente a um Maccabi Tel Aviv que, então, ainda não era considerado rival. No ano seguinte a equipa voltou a chegar à final, que perdeu por 1-0 diante do Hapoel Haifa, mas os títulos estavam guardados para os anos 80.

    Foi nessa década que o Maccabi se cimentou entre os «campeões». Conquistou o primeiro título em 1984 e no ano seguinte repetiu a façanha, sempre sob o comando de Shlomo Sharf. O futebol extremamente atacante resultou em algumas derrotas, mas também foi o que, de goleada em goleada, empurrou a equipa para os títulos. Se não foram três consecutivos, foi porque, segundo se diz em Haifa, o golo que deu o título ao Hapoel Tel Aviv foi marcado por um jogador que estava em fora de jogo. Polémica que nunca ficou esquecida...

    Foi só alguns anos depois, em 1989, que o terceiro título chegou, sob o comando de Amazzia Levkovic. Seguiu-se um ano de pausa, antes da primeira dobradinha (Liga e Taça) da história do clube. 

    Essa época precedeu a compra do clube por parte de Yaakov Shahar que, como dono e presidente, deu estabilidade financeira e elevou os padrões de profissionalismo do clube, colocando-os a par com os maiores clubes da Europa. Assim construiu uma equipa capaz de ir longe na Taça das Taças e, um ano depois, registar uma série de 48 jogos invencíveis com um dos melhores plantéis na história do futebol israelita.

    Subiram alto, o que significou que a queda que se seguiu foi bem mais dolorosa para os adeptos, que não esperavam uma série de sete anos sem vencer o campeonato, vendendo os melhores jogadores. À exceção de uma Taça e uma chegada aos quartos de final na Taça das Taças, foi tudo muito difícil, até à chegada de um certo treinador...

    Um hiato entre sucessos

    Avram Grant é um dos nomes grandes no futebol israelita e quando chegou ao Maccabi Haifa tinha já algum estatuto no país. A expectativa era alta, mas foi alcançada, com o treinador a impor o futebol atacante que os adeptos tanto procuravam e criou uma equipa capaz de voltar a vencer o título, em 2001/02. Youssi Benayoun tornou-se na grande figura dessa equipa, antes de, tal como treinador, rumar às maiores ligas. 

    Mas Grant ainda durou mais que o criativo, e em 2003 conquistou o título novamente, antes de assumir o comando da seleção nacional. Nesse ano de bicampeonato, o Maccabi foi a primeira equipa israelita a jogar a fase de grupos da Liga dos Campeões, onde somou vitórias sobre Olympiacos e Manchester United. A prestação valeu um terceiro lugar e queda para a Taça UEFA.

    Com mais títulos pelo meio (2004, 2005, 2006 e 2009), o clube continuou a tentar impor-se no futebol continental. Caiu muitas vezes na qualificação, mas chegou aos quartos de final da Taça UEFA em 2007 e em 2009/10 voltou, finalmente, à fase de grupos da liga milionária. A prestação de qualificação foi imaculada, eliminando três adversários, mas seis derrotas em seis jogos ditaram eliminação, frente a Bayern, Juventus e Bordeaux.

    Seguiu-se uma década muito dura a nível de resultados, até que em 2021, na temporada pós-pandemia, os adeptos celebraram a conquista do título de campeão nacional, depois de uma vitória por 3.2 sobre o Hapoel Beer Sheva. Barak Bakhar foi o treinador do ano nesse país. 

    Derrotados na qualificação para a Liga dos Campeões, o Maccabi Haifa caiu para a Conference League, onde chegou à fase de grupos e, assim, disputou a primeira edição da prova, sendo eliminado com apenas quatro pontos. Enquanto os resultados europeus ficavam aquém, a nível doméstico era celebrado o bicampeonato e em 2022/23, por fim, chegou a terceira participação na fase de grupos da Champions League.

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