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    Supertaça em Paris
    À volta do jogo

    Finalíssimas da Supertaça: duas vezes que se jogaram em França

    Texto por Ricardo Gonçalves
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    Portugal pode não ser vasto em território, mas não é por isso que deixa de ter uma grande variedade de cidades (e estádios) onde se possa disputar uma Supertaça. A primeira aproximação à competição como a conhecemos hoje ocorreu no Jamor em 1944, na inauguração do Estádio Nacional. Vinte anos depois foi no Restelo. Mas o que ninguém pensava mesmo era ver uma prova do futebol português ser decidida em... França.

    A Supertaça Cândido de Oliveira é, já há muito tempo, a competição que dá o pontapé de saída numa nova temporada no futebol português, colocando frente a frente o campeão em título e o vencedor da última edição da taça. Mas nem sempre se disputou num só jogo. Desde que a prova surgiu oficialmente, com o mesmo nome que leva até hoje, e até 2000, a Supertaça foi disputada a duas mãos, casa e fora, com o vencedor a surgir do resultado agregado dos dois jogos. A situação que se levantava era como proceder em caso de empate, onde os critérios não admitiam regras de golos fora, nem prolongamento, nem desempate por grandes penalidades, mas sim um terceiro jogo a ser disputado em campo neutro: a finalíssima.

    A finalíssima acabou por ocorrer em cinco ocasiões: 1991, 1993, 1994, 1995 e 2000. Em três destes anos, o jogo decisivo foi disputado em Coimbra, mas as edições de 94 e 95 viram uma inesperada passagem para um cenário internacional, com o ponto de encontro para a terceira partida marcado para o Parque dos Príncipes, em Paris.

    Porquê Paris?

    É conhecida como a "Cidade da Luz", ou até por "Cidade do Amor", mas a verdade é que facilmente poderia ser a "Cidade do Mundo", tal é a multiculturalidade que reina na capital francesa. Outro título que Paris poderia ter era o de segunda maior cidade portuguesa, como é frequentemente apelidada em tom de brincadeira. No meio de todas as nacionalidades representadas na cidade, a comunidade portuguesa é a maior e mais evidente, devido a uma longa tradição de emigração. Hoje são mais, mas mesmo em 1994 já havia mais de meio milhão de pessoas nascidas em Portugal a residir em França, um número que não está perto representar a totalidade da comunidade lusa no país, mas que chega para justificar o interesse de ter um clássico do futebol português a ser disputado em Paris.

    Domingos deu a primeira ao FC Porto @Getty / PASCAL PAVANI
    Atualmente, já não é estranho ver uma partida de competições internas de futebol serem disputadas num país diferente. Num desporto cada vez mais governado por dinheiro e interesses exteriores, começa a ser comum a disputa de jogos importantes longe de casa. Existe o interesse financeiro, claro, para além da possibilidade de publicitar a liga ou de dar a oportunidade a adeptos estrangeiros de ver jogos ao vivo, quando de outra maneira seria difícil. Ao início soou mal, mas com o tempo tornou-se um hábito.

    Pela natureza da competição, a Supertaça acaba por ser a prova mais adequada para esta ação, e é isso que tem vindo a acontecer. Nas grandes ligas, só faltam duas converterem-se e talvez sejam as mais improváveis, devido à cultura futebolística inglesa e alemã. A Supercoppa Italiana já é disputada no estrangeiro desde 2009, quando o jogo anual passou a alternar entre China, Qatar e Arábia Saudita, numa tentativa de valorizar a competição. Também em França a ideia surgiu no mesmo ano, e desde aí a competição já passou por vários continentes, tendo passado por países como o Canadá, os EUA, Marrocos, Gabão, Áustria e por três ocasiões na China. Em 2018 foi a vez da Espanha tentar valorizar a sua Supertaça, disputando-a em Tânger, Marrocos, antes de expandir a prova para a edição de 2019, que passou a ser uma final four na Arábia Saudita e renderá 40 milhões de euros anualmente. Ainda assim, por mais sucesso que estas medidas tenham, Portugal terá estado sempre mais de uma década à frente.

    Foi a 17 de agosto de 1994 que se jogou em Coimbra a finalíssima da Supertaça anterior, depois do empate a duas mãos entre o Benfica e o FC Porto na edição de 1993, que tinha ficado um ano sem decidir o vencedor. Sete dias depois, as duas equipas voltaram a encontrar-se para a primeira-mão da nova edição do troféu, na Luz. Um golo de Vítor Paneira aos 75 minutos deu aos encarnados o empate, apenas três minutos depois do golo do FC Porto que veio dos pés de Rui Filipe, ele que foi um dos cinco jogadores a serem expulsos no encontro. A segunda-mão surgiu um mês mais tarde, mas não passaria do 0x0.

    Bobby Robson esteve nas duas @Getty / Aubrey Washington - EMPICS
    Com o resultado empatado, não havia alternativa senão disputar uma nova finalíssima, mas tão cedo não haveria oportunidade de jogar a partida decisiva, devido ao calendário de uma época que já tinha começado. A busca por um campo neutro ficou encravada na possibilidade da finalíssima voltar a surgir já em cima da edição seguinte, algo que dificultava a operação, e foi aí que surgiu uma final no estrangeiro, como forma de angariar mais dinheiro, mas também satisfazer o desejo dos milhares de portugueses que residiam fora do país. A logística ditava um jogo na Europa, enquanto que público nas bancadas não deixava de ser uma necessidade, de maneira que estava decidido: a Supertaça Cândido de Oliveira ia a Paris.

    Havia a expectativa de dar a oportunidade ao grande número de emigrantes portugueses na capital francesa de ir ver um jogo das suas equipas favoritas e daí surgiu a oficialização de uma finalíssima que seria disputada nove meses depois do empate entre as duas equipas, fora de Portugal.

    Os dois jogos... Dos anos anteriores

    Foi então a 20 de junho de 1995 que o Clássico entre FC Porto e Benfica deu o pontapé de saída em Paris, perante bancadas lotadas de locais, dos quais a grande maioria eram os residentes portugueses, que aderiram em força ao jogo disputado, de certa forma, em sua honra. Após o jogo, ambas as equipas voltaram para Portugal, mas os dragões traziam a bagagem mais pesada, pois foram eles que garantiram o troféu, depois de Domingos Paciência anotar o único golo da partida, no início da segunda parte.

    Sá Pinto bisou na de 1996 @Getty / Matthew Ashton - EMPICS
    O ano seguinte surgiu para fazer uma pausa na hegemonia que oo portistas começavam a ter na prova. Apenas dois meses depois dos azuis e brancos voltarem de França, já estavam novamente a empatar o segundo jogo consecutivo da Supertaça, dessa vez frente ao Sporting, o que significou a terceira finalíssima consecutiva.

    Tal foi o sucesso do jogo em Paris, que à primeira oportunidade voltou a acontecer. Um resultado agregado de 2x2 em agosto levou FC Porto e Sporting ao Parque dos Príncipes a 30 de abril de 1996, em mais um jogo que não deixou lugares livres. Em França, não se verificou o equilíbrio dos dois anteriores encontros, e os verde e brancos, comandados por Octávio Machado, conquistaram a Supertaça com um expressivo 3x0 sobre a equipa de Bobby Robson, num jogo em que Ricardo Sá Pinto foi rei leão com um bis na primeira parte, antes de Carlos Xavier fixar o resultado final através de uma grande penalidade.

    Depois desse dia, nunca mais um jogo do futebol português saiu além-fronteiras. A possibilidade de finalíssima já não existe (a partir de 2001, passou a jogar-se apenas a um jogo), mas não é de todo impossível que um dia a Supertaça Cândido de Oliveira se volte a aventurar por esse mundo fora.

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    jogos históricos
    U Terça, 30 Abril 1996 - 00:00
    Parc des Princes
    Juvenal Silvestre
    0-3
    Sá Pinto 9' 38'
    Carlos Xavier 86' (g.p.)
    Estádio
    Parc des Princes
    Lotação48583
    Medidas105x68
    Inauguração1897