Em Wembley, no último suspiro, um golo de Robben impediu o título do Dortmund. Em Kiev, uma exibição desastrosa de Karius permitiu que o Real conquistasse a Liga dos Campeões pelo terceiro ano consecutivo. Jurgen Klopp, ao mesmo tempo que foi ganhando prestígio e importância dentro do Velho Continente, teve sempre pouca sorte nas finais europeias. O valor do alemão nunca esteve em causa, mas faltava alguma coisa para completar uma carreira, até aquele junho de 2019, altamente meritória. Faltava chegar ao topo do futebol europeu, faltava o dia mágico do Liverpool em Madrid.
Os reds, que procuravam o primeiro título desde o milagre de Istambul, passaram por muito até chegar ao jogo decisivo, mas, diante do Tottenham, precisaram apenas dos serviços mínimos para poder festejar. Uma final 100% inglesa que tinha tudo para ser espetacular e que desiludiu bastante, ao contrário do percurso e de quase todas as eliminatórias, feitas de momentos emocionantes, surpresas, grandes defesas, golos assombrosos e heróis improváveis. Não faltou nada à Champions 2018/2019, apenas uma final memorável.
Uma das equipas que se viu impotente para travar o Liverpool foi, mais uma vez, o FC Porto. Mas antes de cair perante os reds, os dragões viveram uma fase de grupos praticamente irrepreensível, com 16 pontos conquistados, cinco vitórias, um empate, zero derrotas, 15 golos marcados e 6 sofridos. Um autêntico passeio. Só na Alemanha a equipa de Sérgio Conceição foi verdadeiramente testada, pois o resto da competição assentou em exibições consistentes, de muita eficácia à frente e de segurança atrás. Seis jogos que foram suficientes, também, para mostrar à Europa do futebol todo o potencial e qualidade de Éder Militão.
Quanto ao Benfica, conseguiu limpar parte da péssima imagem deixada na última época, mas não garantiu o objetivo de seguir para os oitavos. Os encarnados ultrapassaram duas pré-eliminatórias e, na fase de grupos, não conseguiram lidar com o poder do Bayern, saindo derrotados na Luz e goleados na Allianz Arena, tiveram muitas dificuldades em vencer os dois jogos com o AEK, sendo que, na deslocação a Atenas, Alfa Semedo vestiu o papel de herói improvável, e não foram além de um empate contra o Ajax, no duelo verdadeiramente decisivo. Em solo holandês, a equipa de De Ligt e de Frenkie De Jong foi quase sempre mais forte, mas o golo só apareceu nos descontos; em Lisboa, o Benfica realizou a sua melhor exibição, mas o campeão do país das Tulipas garantiu um empate precioso.
Se faltou alguma emoção até ao final nos grupos das equipas portuguesas, ela apareceu noutros locais. Desde logo no grupo de Barcelona, Inter e Tottenham. Os catalães garantiram a qualificação muito cedo, mas foi a luta do segundo posto a deixar amantes do futebol presos até ao último segundo. Futuro finalista da prova, o Tottenham fez apenas um ponto nos três primeiros jogos, conquistando sete na segunda volta e garantindo, com os mesmos pontos dos nerazzurri, a passagem aos oitavos. O outro participante da final de Madrid, o Liverpool, também passou por um valente susto, ao acabar a primeira fase com os mesmos 9 pontos do segundo classificado Nápoles. O grupo foi equilibrado e a decisão ficou adiada para a última jornada, com os reds a receberem Ancelotti e companhia e a precisarem de um triunfo para seguirem em frente. Já depois de Salah ter inaugurado o marcador, Alisson, no período de descontos, com uma bela mancha, impediu o golo do empate dos italianos e consequente eliminação do Liverpool. Aqueles pormaiores que fazem a diferença...
Os oitavos de final chegaram para colocar frente a frente dois velhos conhecidos: Cristiano Ronaldo e Atlético de Madrid. Os adeptos colchoneros não ficaram a morrer de amores pelo craque português e fizeram questão de lembrar isso mesmo no jogo do Metropoliano, com um role de insultos que custariam caro. Em casa, o Atlético foi igual a si próprio. Intenso, físico, forte nos duelos, eficaz na frente, o conjunto de Simeone conseguiu garantir uma vantagem importante de 2x0 para a segunda-mão. Mas, em Turim, CR7 foi absolutamente gigante. Que exibição! Três golos, dois de cabeça e um, decisivo, de grande penalidade para calar as vozes mais dissonantes da capital espanhola. Um fenómeno da Liga dos Campeões Europeus, se é que era preciso mais uma exibição destas para o provar. A vecchia signora, que já tinha perdido três finais neste século, via-se agora com um craque de dimensão mundial para atacar, por fim, a Liga dos Campeões. Estava para chegar um mágico Ajax para estragar os planos.
O futuro campeão holandês, que já tinha deixado água na boca durante os seis primeiros jogos, apresentou-se como o adversário do Real Madrid, tricampeão europeu em título. É certo que os merengues não estavam propriamente bem, já tinham substituído Lopetegui por Solari, mas o que o antigo clube de Cruyff fez perante uma equipa com melhores individualidades ficará marcada na história recente do jogo. A derrota por 1x2, na primeira-mão, não tirou ambição a estes jovens, que por e simplesmente, calaram o Santiago Bernabéu com um estrondoso 1x4. Para lá dos dois grandes talentos, começavam a aparecer um grande Tadic no papel de falso ponta de lança, Ziyech a desequilibrar da direita para o meio, Schone a dar consistência e qualidade ao meio-campo e um Van de Beek muito perigoso a partir de trás para a frente. O trabalho de Ten Hag merecia todos os elogios.
Se o que já tinha feito o Ajax era merecedor de todos os elogios possíveis, então o desempenho da equipa holandesa nos quartos de final convenceu o mais céptico dos adeptos. Mesmo contra uma Juve recheada de estrelas, mesmo com alguma falta de sorte na primeira-mão, o conjunto de Amesterdão deu uma demonstração cabal de competência e qualidade, especialmente na deslocação até Turim. Depois de um empate a uma bola, algo mentiroso, tendo em conta a superioridade da equipa da casa, o futuro campeão do país das Tulipas seguiu para Itália e, diante de Cristiano Ronaldo e companhia, deu, mais uma vez, espetáculo. De Ligt, num cabeceamento imperial, carimbou a passagem às meias e deixou ainda mais a Europa do futebol convencida face ao seu talento.
Apesar de todos estes brilharetes do Ajax, o que é certo é que poucos duelos da Champions 2018/2019 juntaram tanta qualidade de jogo e emoção como aquele protagonizado entre Manchester City e Tottenham. À terceira época, Guardiola queria levar a sua equipa ao topo do futebol europeu, mas a primeira-mão, no novíssimo estádio dos Spurs, não correu bem, com Son a dar a vitória, que era, ainda assim, curta, face ao habitual poderio dos citizens nos jogos em casa. A partida do Etihad é para a história. Aos 21, minutos, Sterling já tinha marcado dois, Bernardo Silva um e Son também dois, num resultado assombroso, surpreendente e que mostrava bem a capacidade ofensiva dos dois conjuntos. Aguero, à hora de jogo, deixou, pela primeira vez, a sua equipa em vantagem, antes de Llorente restabelecer um lugar de superioridade para os londrinos. No final, já dentro do período de descontos, Aguero ainda colocou em delírio mais de 55 mil, mas o VAR veio para fazer o papel de desmancha-prazeres. Por um par de centímetros o Tottenham seguia em frente e o City caía, novamente, nos quartos.
Ultrapassados os quartos, era o tempo das meias-finais invadirem quatro estádios (Tottenham, Amesterdão, Camp Nou e Anfield). E que meias-finais. O Barcelona, que tinha caído aos pés da Roma há um ano atrás, apresentava alguns problemas coletivos, mas a qualidade de Messi fez toda a diferença. O Liverpool deu uma boa imagem na Catalunha, mas saiu derrotado com um praticamente irreversível 3x0. Praticamente porque, na cidade dos Beatles, os adeptos podem mesmo fazer a diferença. Num ambiente absolutamente mágico, o Liverpool viveu uma das grandes noites europeias da sua história, ao virar a eliminatória e ao ganhar por 4x0, sem precisar, sequer, do prolongamento. E se os três primeiros golos foram marcantes, o que dizer do quarto e decisivo? Quem estava nas bancadas ou quem via pela televisão não esquecerá o canto batido por Alexander Arnold de forma rápida e o golo de Origi, perante uma defesa do Barcelona completamente petrificada. Genial!
Na capital espanhola, quando se esperava que o duelo 100% inglês pudesse ser uma conclusão perfeita desta edição única, assistiu-se a uma das finais mais pobres da Liga dos Campeões. O Liverpool entrou praticamente a ganhar e, a partir daí, quis mesmo garantir que esta Taça não fugiria, mesmo que isso significasse uma postura bem mais conservadora e defensiva. Atrás, Van Dijk e Alisson iam resolvendo os poucos problemas que Son e Eriksen iam criando - Kane esteve em dúvida e passou ao lado da partida - e, na frente, aparecia o talismã Origi para resolver a questão na reta final. Klopp, finalmente, podia festejar e a Europa era, de forma totalmente justa, vermelha.
0-2 | ||
Mohamed Salah 2' (g.p.) Divock Origi 87' |