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van Gaal: Génio de Punho de Ferro

Texto por Vasco Sousa
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O futebol sempre produziu grandes e inovadores treinadores. Louis van Gaal é um dos principais exemplos desta afirmação, numa carreira vencedora em que passou por quatro países.

Nascido em Amesterdão, van Gaal teve toda uma carreira ligada ao futebol. Chegou a passar pela segunda equipa do Ajax, sem nunca ter alinhado pela equipa principal. A sua carreira de futebolística acabou por ser passada maioritariamente no Sparta Roterdão, onde realizou quase 300 jogos na Liga Holandesa.

Ao mesmo tempo que tinha a carreira de futebolista, van Gaal formou-se em Educação Física, e durante toda a carreira conciliou o futebol e o ensino.

De adjunto a principal

Pendurou as botas em 1987, com 35 anos, e logo iniciou a sua carreira de treinador, como adjunto do AZ, clube onde encerrou a carreira. Em 1988, rumou ao Ajax, também para ser adjunto. No gigante do clube de Amesterdão, trabalhou com Leo Beenakker e em 1991 foi convidado a assumir o cargo de treinador principal, após o regresso de Beenaker ao Real Madrid. Logo nessa época lutou pelo título de campeão holandês, terminando o campeonato em igualdade pontual com o PSV de Bobby Robson.

Logo em 1990/91 lançou o guarda-redes van der Sar, e o defesa Reiziger, iniciando aqui uma tendência que viria a ser uma das suas imagens de marca: a aposta forte na juventude.

Em 1991/92, na sua primeira temporada completa no Ajax, conquistou a Taça UEFA e em 1992/93 a Taça da Holanda. Em 1993/94 conquistou o título de campeão holandês, que escapava ao clube desde 1990. Mas foi 1994/95 a época de sonho de van Gaal e que marcaria toda a sua carreira.

O topo europeu

Ao longo de 49 jogos nessa época, o Ajax só perdeu um, sagrando-se campeão holandês e conquistando a Champions. Em Viena, van Gaal devolveu o título de campeão europeu ao Ajax, numa final frente ao Milan. O golo do jovem Kluivert valeu o triunfo dos holandes, que assim voltavam a ser os reis da Europa 22 anos depois. Na equipa, juntava-se a experiência de Rijkaard e Blind, a qualidade de van der Sar , dos irmãos De Boer, de Litmanen ou Finidi e a juventude Overmars, Davids, Seedorf, Kanu ou Kluivert, numa das mais espetaculares equipas da história do clube holandês.

Com a Lei Bosman, aos poucos a grande equipa do Ajax foi sofrendo uma sangria. Seedorf foi o primeiro a abandonar e na época seguinte também Kanu, Davids, Reiziger e Finidi também abandonaram o clube. Ainda assim, o Ajax conquistou o tricampeoanto holandês em 1996, chegou novamente à final da Champions (perdeu no desempate por grandes penalidades para a Juventus) e conquistou a Supertaça Europeia e a Taça Intercontinental. A sua última no clube foi a pior: quarto classificado no campeonato e a sensação que grande parte dos jogadores já não tinha motivação depois de tantas conquistas.

Títulos e desilusões

Por esta altura, van Gaal era considerado o melhor treinador do Mundo e sem surpresa rumou ao Barcelona, clube com tradição na aposta em treinadores holandeses. Os catalães não eram campeões há três épocas e a aposta era na reconquista do título, não só espanhol como europeu.

Apesar de se ter sagrado bicampeão espanhol em 1998 e 1999, a sua passagem pelo Barcelona não foi pacífica. Os insucessos europeus (o Barça caiu na fase de grupos da Champions nessas duas épocas) e a relação conflituosa com vários jogadores (um dos exemplos foi Vítor Baía, que acabou por abandonar o clube). No final da época 1999/2000, perdido o título espanhol para o Deportivo, acabou por sair do clube, proferindo uma célebre frase para os jornalistas: “Amigos da imprensa, vou-me embora. Parabéns.”, após temporadas com duros choques com a imprensa espanhola.

Fechada a etapa Barcelona, van Gaal foi apontado como selecionador holandês. A equipa holandesa tinha chegado às meias-finais do Mundial 98 e do Euro 2000 e contava com uma equipa muito talentosa. Contudo, a sua passagem pela seleção foi o seu maior fiasco, já que falhou a qualificação para o Mundial 2002 – os holandeses não estavam ausentes do Campeonato do Mundo desde 1986.

Apesar do insucesso na seleção, van Gaal voltou a ser aposta do Barcelona, numa decisão que desagradou a muitos adeptos da equipa catalã. Apesar da excelente campanha na Champions, a equipa não conseguiu apresentar resultados na Liga e acabou por ser despedido em janeiro de 2003, deixando a equipa a 20 pontos da liderança.

Os insucessos consecutivos motivaram uma pausa na sua carreira de treinador, tendo em 2004 voltado ao Ajax como diretor desportivo.

Renascimento no AZ e dobradinha germânica

Contudo, acabou por voltar ao banco de suplentes pela mão do AZ em 2005/06, substituindo Adriaanse. Depois de duas épocas em que terminou o campeonato em segundo lugar e de uma bem modesta (11.º lugar), levou o clube, de forma surpreendente, ao título de campeão holandês.

A carreira de treinador que parecia adormecida renasceu, e van Gaal voltou a um clube de topo europeu, o Bayern. O início da sua aventura na Baviera não foi fácil e o despedimento chegou a ser noticiado, mas a época terminou em beleza, com a conquista da dobradinha e a derrota frente ao Inter de Mourinho (seu adjunto no Barcelona) na final da Champions. A época seguinte não correu tão bem, e o treinador holandês acabou por não terminar a temporada no banco dos bávaros.

O regresso à seleção

Seguiu-se o regresso à seleção holandesa. Van Gaal tinha a oportunidade de se redimir da sua primeira passagem e fê-lo com tremendo sucesso. A Holanda terminou o Mundial no 3.º lugar, numa prova em que goleou a então campeão do Mundo Espanha por 5x1 e bateu o anfitrião Brasil por 3x0. Van Gaal foi muito elogiado pela componente tática apresentada pela equipa holandesa e por uma decisão surpreendente e que ficou para a história dos Campeonatos do Mundo: nos quartos de final, frente à Costa Rica, trocou o guarda-redes Cillessen por Tim Krul apenas para o desempate por grandes penalidades, num decisão acertada – os holandeses ultrapassaram a Costa Rica e Krul foi decisivo.

O último trabalho de van Gaal foi o Manchester United, numa decisão comunicada ainda antes do Mundial do Brasil. Em Inglaterra esteve duas temporadas, com muitas transferências realizadas, uma FA Cup conquistada e muitas polémicas com a comunicação social inglesa.

Van der Sar. Seedorf. Kluivert. Xavi. Iniesta. Rashford. Estes são apenas alguns dos jogadores lançados por van Gaal, um técnico igualmente conhecido por conflitos com jogadores e jornalistas, pelo cariz disciplinador, bem como por decisões e atitudes fora da caixa. Mas o treinador holandês foi muito mais do que isso. 20 títulos e decisões táticas e técnicas arrojadas fazem dele um dos melhores treinadores de sempre.

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