placardpt
    Liga dos Campeões 2013/2014
    Grandes jogos

    Bayern x Real Madrid: Sonho para Ronaldo, pesadelo para Guardiola

    Texto por Jorge Ferreira Fernandes
    l0
    E0

    Gostando-se mais ou menos da personalidade, mais ou menos do futebol que preconiza para as suas equipas, das opções individuais que toma, a verdade é que é impossível negar a importância de Pep Guardiola na história do futebol. Um treinador marcante, pelos títulos, pelo estilo, pela filosofia, que poucas vezes sentiu o peso amargo da goleada, se quisermos de uma certa humilhação. A noite de 29 de abril de 2014 foi, quiçá, uma das poucas exceções. 

    O Bayern de Munique tinha perdido a primeira mão, por 1x0, mas a verdade é que tinha perdido. O Real Madrid de Ancelotti mostrava-se um coletivo muito poderoso em regime europeu, com Cristiano Ronaldo a chegar, outra vez, a números estratosféricos. A tarefa para os bávaros, portanto, não era nada fácil, mas poucos poderiam antever uma vitória merengue com aquela magnitude. Um 0x4 que entrou para a história daquela Champions, para a história de CR7 e para a história da carreira de Pep Guardiola. 

    Campeão europeu em título, o Bayern acabou por reagir bem ao choque da mudança entre filosofias do antigo e do novo treinador. Se com Heynckes a equipa era muito mais objetiva, vertical, rápida e vertiginosa, a entrada de Guardiola permitiu acalmar tudo aquilo. Mais paciência, mais posse, mais toques, mais passes, menos risco na tomada de decisão, a mesma capacidade para ser muito mais forte no futebol alemão e, em teoria, atacar o título da Champions

    Talvez a diferença de exigência doméstica tenha sido decisiva para o desfecho desta eliminatória. Ao contrário do seu adversário, o Real Madrid não se podia dar ao luxo de descansar, muito menos de poupar os melhores jogadores. Os merengues disputavam uma luta a três pelo título de campeão espanhol com o concorrente do costume, Barcelona, e com o novo intruso, Atlético de Madrid, e essa diferença de ritmo acabou por ficar bem patente no jogo de Munique. Dois coletivos brilhantes, é certo, mas se um se apresentava algo preso, o outro tinha resistência para dar e vender. 

    Benzema tinha feito o único golo da primeira-mão @Getty / Mike Hewitt

    Não se pode dizer que este resultado tenha aparecido por acaso ou por uma grande eficácia do Real Madrid. Desde muito cedo se percebeu que os merengues tinham a missão muito bem estudada do ponto de vista defensivo e que sabiam exatamente os caminhos mais fáceis para atacar a baliza de Neuer. Um cruzamento perigoso aqui, um movimento de Di María de trás para a frente ali, cortes de Boateng, hesitações de Dante, Benzema e Ronaldo muito presentes, Bale sempre à procura da explosão. O Bayern não estava só com dificuldades em marcar, estava mesmo com incapacidade para, sequer, controlar. 

    Quando, exatamente ao primeiro quarto de hora do jogo, Sergio Ramos subiu para mais um golo importante, ainda que não o mais decisivo de toda aquela edição, o Real Madrid já tinha feito mais do que o suficiente para marcar na Allianz Arena. O grande cabeceamento do central merengue foi apenas aquele momento de explosão que Ancelotti e companhia precisavam para avançar rumo a uma vitória tranquila, clara e humilhante. Até porque, menos de cinco minutos depois, o campeão do Mundo e da Europa voltou a marcar diferenças na bola parada, para um bis poucas vezes visto, mesmo para um defesa habituado a brilhar na área contrária.

    O Real, definitivamente, começava a matar o sonho de uma terceira final consecutiva da Champions para o Bayern e o cenário ficou ainda mais preocupante quando Cristiano Ronaldo decidiu entrar para a história, mais uma vez. Com 14 golos na conta pessoal, o internacional português precisava de apenas mais um para bater o recorde de concretização de um jogador numa só edição. Transição ofensiva perfeita, bom trabalho de Benzema, aceleração brutal e assistência primorosa de Bale, finalização fácil para CR7. Dez mais cinco, dez mais cinco. Foi assim que o craque de Madrid festejou um dos seus muitos e mais especiais recordes. 

    Apesar de ter jogado, com naturalidade, perto da área adversária durante quase toda a segunda parte, o Bayern de Munique, no último momento, na definição, mostrou sempre a mesma desinspiração revelada mais atrás. As oportunidades não foram assim tantas e, enquanto isso, o Real ia ameaçando o quarto, através de transições bem desenhadas e, acima de tudo, muito rápidas, demasiado para uma estrutura defensiva dos bávaros que tremia a cada nova velocidade de Bale, a cada recuo inteligente de Benzema e a cada desmarcação de Cristiano Ronaldo

    O Real Madrid já tinha feito o seu trabalho. Já tinha garantido a passagem à final de Lisboa, já tinha atirado o Bayern e o antigo rival Pep Guardiola ao tapete, mas encontrou espaço e tempo para mais um momento de genialidade pura. Tudo obra e graça de Cristiano Ronaldo. O português, que, como já leram, tinha entrado para a história da Liga Milionária ainda na primeira parte, decidiu variar na marcação dos livres diretos. Em vez de bater por cima da barreira e esperar o clássico efeito e queda da bola, rematou por baixo, junto ao relvado, e ninguém foi capaz de adivinhar, nem mesmo Neuer. A euforia, definitivamente, tomava conta do gigante espanhol. 

    Apesar do amarelo que retirou Xabi Alonso da final da Liga dos Campeões, nada podia impedir que aquela noite fosse mesmo perfeita para o madridismo, para Cristiano Ronaldo, para Ancelotti. O Real Madrid estava, uma dúzia de anos depois, no jogo mais importante do ano. E Pep Guardiola, que tantas vezes, no comando do Barcelona, tinha feito a vida negra ao rival, caía, com estrondo.

    Comentários (0)
    Gostaria de comentar? Basta registar-se!
    motivo:
    EAinda não foram registados comentários...
    jogos históricos
    U Terça, 29 Abril 2014 - 19:45
    Allianz Arena
    Pedro Proença
    0-4
    Sergio Ramos 16' 20'
    Cristiano Ronaldo 34' 89'
    Estádio
    Allianz Arena
    Lotação75000
    Medidas105x68
    Inauguração2005