Uma década negra
A década de sessenta podia marcar uma página dourada no «livro de honra» do futebol inglês. Finalmente campeã do mundo em 1966, semi-finalista do Euro 1968, o futebol inglês vivia o seu período dourado.
Após 1970, ano em que foi eliminada pela Alemanha Federal no Mundial do México, a «seleção dos três leões» colecionou frustrações e tristezas, falhando a presença em todas as fases finais de grandes competições durante dez anos, fazendo da década de setenta do século passado, aquilo que os ingleses convencionaram chamar de "anos perdidos".
E tudo tinha sido tão rápido... Aquela seleção que apenas uns anos antes todo o mundo queria bater, tornara-se agora na seleção permanentemente arredada das grandes decisões, e a nova geração fora incapaz de manter o nível da geração campeã de 66, que entretanto pousara as botas...
Sendo assim, a qualificação para o Euro 80 em Itália era a grande oportunidade dos ingleses mudarem o sentido da história. Mas em abono da verdade, na década de 80 os resultados dentro do campo não foram a maior preocupação das autoridades britânicas e não foi pelo futebol da seleção inglesa (ou pela ausência dele) que a Inglaterra deu nas vistas em Itália.
Hooliganismo, uma doença inglesa
O Hooliganismo ia tomando conta dos campos ingleses, espalhando-se como uma doença contagiosa de norte a sul, acompanhando também as deslocações dos clubes ingleses nas competições europeias.
Pioneiros do futebol, os ingleses introduziram também o hooliganismo nas grandes competições de seleções no europeu disputado em solo italiano. O jogo contra a Bélgica, virou uma página na relação da seleção inglesa com os seus adeptos.
Tudo começou quando os adeptos italianos vitoriaram o golo do empate por intermédio dos belgas e os ingleses não gostaram, obrigando por momentos à interrupção do jogo.
Os distúrbios forçaram a entrada em cena da polícia, tendo esta rapidamente dispersado os adeptos com recurso a gás pimenta, mas todos pagaram pela mesma moeda, inclusive o guarda-redes Ray Clemence, incapaz de conter as lágrimas por culpa do gás, obrigando a nova interrupção de cinco minutos.
A imprensa inglesa não teve piedade para tão triste espetáculo. Palavras como "opróbrio", "ignomínia" e "infâmia" faziam as parangonas, enquanto os críticos qualificavam os adeptos como "escória da raça humana".
A «doença inglesa» como os continentais apelidaram o hooliganismo, atingiria o pico em 1990 durante o mundial, também ele disputado em Itália.
Seria
Bobby Robson, o selecionador inglês durante o mundial italiano, a resumir todo o sentimento que os amantes do futebol inglês tinham acerca dos hooligans:
«Tudo isto só provoca uma sensação de 'oh meu deus, eles não podem ser dos nossos, pois não?'... Eles seguem-nos e nós odiamo-los. Nós simplesmente odiámo-los.»