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    Os Invincibles de Highbury

    Texto por Jorge Ferreira Fernandes
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    Apesar de ser um dos clubes de referência em Inglaterra, o Arsenal viveu poucos anos tão maravilhosos como aqueles do início do século XXI. Se Arsène Wenger começou ainda na década de 90 a construir a sua equipa, à sua maneira, com a sua filosofia, então bem se pode dizer que foi nos 2000 que os resultados desse trabalho ficaram mais à vista. 

    Para lá do futebol espetacular e ofensivo, dos métodos de trabalho inovadores, da qualidade individual que era para lá de muita, entre 2001 e 2004, os gunners marcaram esses tempos com a conquista de duas Taças de Inglaterra, duas Supertaças e duas Ligas, uma delas ganha na casa do rival Manchester United e a outra ganha sem qualquer derrota no percurso. 

    Importa, para contar esta história mágica, recuar até 1996, quando o Arsenal apostou na contratação de um treinador francês. Quando Wenger chegou a Londres, o treinador estrangeiro era uma exceção, não uma regra, e, por isso, as dúvidas sobre se aquela era a pessoa ideal para conduzir os destinos do clube eram muitas, mesmo que o trabalho no Mónaco tivesse sido positivo. Desconfiança que durou alguns meses, apenas, porque os gunners revolucionaram-se, modernizaram-se, apresentaram muita qualidade, contrataram estrangeiros de grande talento e a consequência acabou por ser a conquista da Dobradinha. 

    Até 2001, o Arsenal perdeu uma final de Taça UEFA, acabou três vezes consecutivas em segundo lugar, mas o trabalho estava a ser bem feito. Quando o último verão antes do regresso aos títulos apareceu, o plantel já era fortíssimo. Seaman guardava a baliza, Sol Campbell tinha em Keown uma referência como parceiro de setor, Ashley Cole começava a ser um caso sério na lateral esquerda, Parlour, Gilberto Silva e Vieira davam consistência, Ljungberg e Pires qualidade no último terço e Bergkamp/Henry constituía-se como uma das grandes duplas de ataque da história do clube londrino. 

    Henry, rei entre vários príncipes @Getty / Clive Mason

    Se quase todos recordam este Arsenal pela campanha de 2003/2004, aquilo que aconteceu dois anos antes merece umas palavras, elogiosas, por sinal. Os gunners perderam, ao contrário dessa mítica equipa, mas praticaram um futebol tão ou mais ofensivo e espetacular. Os seis golos marcados a mais e os 10 golos sofridos a mais mostram que esta formação não era tão consistente do ponto de vista defensivo, mas era criativa como poucas foram nos anos de Premier League. A vantagem de sete pontos face ao segundo classificado Liverpool acabou por ser o resultado de um campeonato que acabou em Old Trafford, numa vitória por 0x1 e num golo de Wiltord que permitiu uma festa de sonho no Teatro de Manchester. 

    Entre os que mais fizeram por esse título, destaque claro para o nome de Henry. Bateu por um golo (24 contra 23) Van Nistelroy, conquistou o título de melhor marcador e começou, definitivamente, a entrar na história do clube. O entendimento com Bergkamp e com Pires foi marcante, a capacidade para arrancar com a bola e decidir jogos sozinho ainda hoje é recordada e se uma estátua junto ao Emirates foi construída para celebrar o talento deste avançado, então o internacional francês tem e muito que agradecer ao seu treinador, que, com a sua filosofia atacante, encontrou o espaço perfeito para o rei do norte de Londres espalhar todo o seu talento. 

    Foi com a lenda Henry e com muitos outros que o Arsenal entrou na temporada 2003/2004 com legítimas aspirações de regressar ao título, perdido na época anterior para o Manchester United de Ferguson. A vitória na FA Cup, a manutenção da base e a aquisição de jovens talentosos, como Van Persie ou Fabregas, colocavam os gunners como um dos favoritos à conquista da Premier League. Henry mantinha-se pelo clube, Bergkamp dava sinais de poder ainda render ao mais alto nível durante um par de épocas, os assistentes Ljungberg e Pires jogavam cada vez mais de olhos fechados. Pequenas mudanças seriam necessárias, como é óbvio, mas o clube estava no bom caminho e isso iria ficar bem provado durante os meses seguintes. 

    O que dizer do percurso do Arsenal em 2003/2004? Acabar uma Liga invicto é digno de registo, mas cumprir tal feito numa Inglaterra cada vez mais competitiva e virada para o exterior e para a modernização é ainda mais impressionante. É verdade que os gunners nem sempre massacraram, é verdade que sofreram, é verdade que contaram com aquela pontinha de sorte, especialmente nas inúmeras reviravoltas que a formação de Wenger operou, é verdade que não atingiram os níveis exibicionais de 2001/2002, mas o principal objetivo foi conseguido de uma forma imperial. Passar 38 jogos sem perder e acabar como melhor ataque e melhor defesa deitam por terra qualquer tipo de interrogação. Uma equipa para a história. 

    No meio de um percurso tão longo, destaque, sobretudo, para o confronto em Old Trafford. Não que o Arsenal não tenha tido dificuldades noutros campos, apenas este jogo acaba por ser paradigmático. As dificuldades diante do campeão em título foram muitas, mas, no final daquele jogo, percebeu-se que seria mesmo muito complicado bater o conjunto londrino. Já quando jogava com 10 unidades, os gunners sofreram uma grande penalidade, mesmo no final do jogo. Van Nistelroy falhou e toda a equipa adversária, em jeito de vingança, caiu em cima do holandês. Teriam mesmo que se superar para derrotar aquela equipa lendária. 

    Craques, filosofia, método, trabalho, espírito vencedor, personalidade. Entre 2001 e 2004, o Arsenal juntou todos estes predicados e construiu uma das histórias mais impactantes do futebol moderno. Wenger acabou por estar no norte de Londres até 2018. Mas se saísse naquele 15 de maio de 2004, quando os gunners garantiram um título invencível, também ia satisfeito e de consciência plenamente tranquila. 

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