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    Jesus Correia: atleta ideal

    Texto por João Pedro Silveira
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    Sobre ele escreveu um dia o mestre Cândido de Oliveira:«Consideramo-lo o mais assombroso dos extremos da tática moderna: velocidade incontrolada e rematador inigualável». Juntamente com Travassos, Peyroteo, Albano e Vasques, era parte integrante da mais famosa linha avançada do futebol leonino e português, os famosos Cinco Violinos. Com Emídio Pinto, António Raio, Edgar e o seu primo Correia dos ##Santos a formou um quinteto que espalhou magia pelos rinques nacionais e internacionais, conquistando o primeiro campeonato do mundo do hóquei patinado português e iniciando um período de profundo domínio das cores lusas na modalidade.

    Vocação atlética

    António Jesus Correia, familiarmente conhecido como Necas, nasceu em Paço de Arcos, concelho de Oeiras, a 3 de Abril de 1924. Habilidoso, desde pequeno que se apaixonou pela prática desportiva, ora jogando futebol com uma bola de trapos que perseguia com os amigos, ora pegando em paus que usavam para bater na mesma bola, numa versão muito adaptada de hóquei.

    Entre os jogos de hóquei e futebol na Rua do Forte ou no areal da praia da Sardinha, o pequeno Jesus demonstrava ser um atleta nato, vencendo todos em corridas em terra ou no mar, sendo também um exímio saltador aquático. 

    Começou por jogar na Académica de Paço de Arcos com apenas 13 anos. Só mais tarde é que começou a jogar hóquei com patins emprestados. Entretanto, com 15 anos, prestou provas no Belenenses, clube do seu coração, mas não ficou. Era muito novo e em Belém mandaram-no voltar quando já tivesse 16 anos. Voltou às Salésias mais tarde, mas não impressionou Mariano Amaro e voltou a não ficar. O Clube da Cruz de Cristo não imaginava o erro histórico que acabara de cometer...

    De leão ao peito

    Entretanto, o treinador do Sporting, Joseph Szabo, viu-o jogar e treinar hóquei no Paço de Arcos. Reparou no grande atleta que era, na velocidade de raciocínio e execução, considerou-o o atleta ideal. Juntamente com o seu primo, Correia dos ##Santos, era uma das referências da equipa de hóquei em patins do Paço de Arcos, e no pós-guerra seria uma das estrelas da seleção nacional de hóquei em patins.

    Mas antes, em 1943, quando ainda era um hoquista em ascensão, tentou mais uma vez a sua sorte no futebol. Um o dos seus chefes no Grémio dos Armazenistas de Mercearia era um diretor do Sporting, propôs-lhe ir treinar ao Lumiar, mas o Estoril-Praia antecipou-se e convenceu-o a assinar pelos canarinhos, com a promessa de receber cinco contos e a carta de condução, além da vantagem de ficar mais perto de Paço de Arcos.

    O Sporting reagiu prontamente. Francisco Silva, o dirigente leonino que o contactara falou com Szabo e a direção sportinguista, os leões negociaram com os estorilenses e pouco depois, Jesus Correia estava às ordens de Szabo.

    Máquina de vitórias

    Muito já se falou e escreveu sobre os Cinco Violinos. As suas conquistas, as vitórias, as exibições memoráveis. Quando Jesus Correia chegou ao clube ainda não estava formado quinteto. Travassos e Vasques só chegariam uns anos depois. No Sporting conquistou sete campeonatos nacionais e duas Taças de Portugal, brilhou marcando 157 golos em 210 jogos, e para história, acima de todos os outros grandes momentos, esteve a histórica vitória leonina em Madrid, em contra o Atlético Madrid por 3x6, onde Jesus Correia marcou seis golos. A vitória teve grande impacto dentro e fora do país, ganhando o Sporting uma aura de equipa temida no panorama europeu, que nunca viria a ser confirmada na Taça Latina, onde os leões, ao contrário do rival Benfica, nunca foram felizes.

    Na seleção conseguiu 13 internacionalizações, estreando-se no Jamor, num empate a duas bolas com a Suíça em 1947. Despediu-se numa derrota com a França no Stade de Colombes (3x0) em 1952. jogou na célebre vitória sobre a Espanha em 1947 (4x1), a primeira sobre nuestros hermanos que é reconhecida pela FIFA. Apontou um golo, a 4 de maio de 1947, na sua quarta internacionalização, em Dublin contra a Rep. Irlanda, um jogo que ficou na história do futebol português, por ter sido a primeira vitória lusa a jogar fora de casa (0x2).

    Em 1952 resolveu abandonar o futebol, contava apenas 28 anos. O Sporting lançara um ultimato, ou futebol, ou hóquei. Oferecia-lhe um contrato melhor, mas a paixão pelo hóquei em patins falou mais alto.

    Crónico campeão

    Se no futebol era uma máquina de vitórias, no hóquei não era muito diferente. Ao todo conquistou oito títulos nacionais com a camisola do Paço de Arcos. Na seleção fez parte da histórica equipa, que nesse ano de 1947, conquistou pela primeira vez o Campeonato do Mundo de hóquei em patins. Durante os anos seguintes, ajudou a elevar o nome de Portugal bem alto, vencendo mais cinco edições do Campeonato do Mundo, ajudando Portugal a transformar-se na maior potência da modalidade. Como treinador, lideraria a equipa das quinas à conquista de mais dois títulos de Campeão do Mundo, estando ligado a mais de metade dos títulos mundiais conquistados por Portugal (1).

     

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    (1) - À data da publicação deste texto Portugal contava com 15 títulos de Campeão Mundial de Hóquei em Patins. 

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