André Villas-Boas detém o recorde de ter sido o mais jovem técnico de sempre a vencer uma prova europeia. O feito foi conquistado em Dublin, após o triunfo sobre o SC Braga, na final da Liga Europa, com 33 anos. Relembre o percurso do jovem treinador.
Dos anos ao lado de Mourinho à primeira experiência em Coimbra
O percurso do jovem André começou precisamente junto desses, os jovens. Entre 1998 e 2000, Villas-Boas esteve na formação portista pela mão de Bobby Robson, mais precisamente nos juniores C e B, antes de rumar à primeira, e por muitos desconhecida, viagem internacional, orientando a seleção das Ilhas Virgens Britânicas em 2001.
Dá-se depois o regresso a «casa» para trabalhar junto de Ilídio Vale e Domingos Paciência na equipa B do FC Porto, já no papel de observador. No ano seguinte, em 2002, José Mourinho chega ao clube e André passa a integrar a estrutura técnica da principal equipa dos dragões.
Fica com Mourinho durante oito longos anos, sempre como observador, primeiro no FC Porto, depois no Chelsea, por fim no Internazionale, onde passa a treinador adjunto de Mourinho no último ano deste nos neroazzurri.
No entanto, em 2009, André decide partir. Deixa para trás anos de experiência ao lado do à data melhor treinador do mundo e ruma a Portugal. É na Académica de Coimbra, em 2009/2010, que o então treinador de 32 anos faz a estreia como treinador principal ao mais alto nível.
André Villas-Boas conduz a Briosa ao 11º lugar e na Taça da Liga cai apenas nas meias-finais, aos pés do FC Porto, clube que na época seguinte receberia de braços aberto um filho da casa, 12 anos depois de ter chegado para os escalões jovens dos dragões.
Um ano de sonho no FC Porto
A temporada de 2010/2011 escreveu-se então em letras douradas sobre o azul portista. O jovem André, amparado pelo mítico Pinto da Costa, conquista a Supertaça ao Benfica (2x0), sagra-se campeão nacional de forma indiscutível, ergue a Taça de Portugal com uma goleada sobre o V. Guimarães (6x2).Mas o momento alto viveu-o em Dublin, frente ao SC Braga, na final da Liga Europa. Villas-Boas ganhava tudo em apenas um ano, jurou amor eterno ao clube do coração mas acabaria tentado pelos milhões de Roman Abramovich.
Oito meses de pesadelo em Londres
Villas-Boas chegava, então, a Stamford Bridge, num percurso impossível de não ser associado ao de José Mourinho, figura de peso no Porto e em Londres, e cujo legado na invicta foi o motivo da saída de Villas-Boas, como explicou o próprio presidente Pinto da Costa.
Ora, no Chelsea, a «sombra» do Special One não foi menos intensa e André desde cedo percebeu que não teria dias fáceis no clube. A Liga foi-se perdendo aos poucos, as exibições eram tristes e a derrota em Nápoles, na Liga dos Campeões, deixou o português em maus lençóis.
Ainda se manteve à frente do Chelsea por mais algumas semanas, mas a derrota frente ao West Bromwich Albion, no dia 3 de março de 2012, por 1x0, foi o último jogo de Villas-Boas no banco do Chelsea.
A mudança para o vizinho de Londres
Os meses de pouco sucesso no Chelsea não destruíram a reputação do jovem André, que não precisou de muito tempo para voltar ao ativo. Depois de uma intensa cobiça de alguns emblemas italianos, com a Roma à cabeça, o Tottenham levou a melhor, garantindo a contratação do treinador português, no início do mês de julho.
Londres acabou por não ser mesmo a sua praia e ao serviço dos Spurs alcançou o 5º lugar na sua primeira temporada e sendo eliminado bastante cedo nas Taças inglesas e nos quartos de final da Liga Europa. Teve, contudo, mais uma oportunidade e ficou no Tottenham em 2013/14, mas um conjunto de resultados menos positivos e a constante falta de títulos (e de luta pelos mesmos) acabou por ditar a sua saída e a viragem para terras mais frias e distantes.
Falhou o domínio na Rússia e China
Villas-Boas não ficou sem trabalho muito tempo e ainda foi a tempo de acabar a temporada no Zenit de São Petersburgo, da Rússia, conseguindo mesmo o impressionante registo de oito vitórias em dez jogos e ficando a apenas dois pontos do título de campeão, que ficou entregue ao CSKA Moskva.
Os dois anos seguintes foram, de melhor sorte, embora não com o domínio que os adeptos do Zenit costumam pedir, especialmente desde o início da década passada. Em 2014/15, Villas-Boas logrou em ser campeão nacional russo e na época seguinte arrecadou a Supertaça e a Taça russa, mas acabou por ficar em 3º no campeonato e isso não foi o suficiente para a direção.
Seguiu-se a sua primeira experiência de treinador no continente asiático, para assumir o comando dos milionários do Shangai SIPG, que contavam no seu elenco com jogadores como Óscar ou Hulk, mas aí apenas ficou uma temporada. O Shanghai SIPG terminou o campeonato chinês na segunda posição, logo atrás do Guangzhou Evergrande, equipa treinada por Luiz Felipe Scolari, e a direção até pretendia continuar com André Villas-Boas no comando, mas este acabou por optar pela saída.
Férias e o calor de Marseille
Apesar de ter sido apontado a vários cargos ao longo do tempo, a verdade é que foi preciso esperar cerca de ano e meio para voltar a ver o técnico português no comando de uma equipa, embora este se tenha mostrado bastante confortável com essa «pausa» e até se tenha aventurado no momento dos Rallys de carros.
O passo seguinte surgiu apenas em maio de 2019, altura em que assumiu o comando do histórico francês Marseille. Desportivamente, o português esteve bem na primeira época e apenas terminou atrás do milionário Paris SG na Ligue 1, embora a prova tenha sido interrompida pela pandemia de covid-19 que assolou o mundo, o que lhe permitiu voltar a colocar o Marseille no caminho da Liga dos Campeões.
Contudo, assim que se começava a vislumbrar o final da época, também o lugar de Villas-Boas ia ficando mais incerto. A saída de Andoni Zubizarreta, antigo diretor desportivo do clube francês, colocou logo a hipótese de este sair e o próprio admitiu não saber como seria o seu futuro.
Depois de um verão de alguma especulação, as duas partes acabaram por continuar a sua ligação, embora Villas-Boas tenha recusado renovar o contrato que o ligava ao Marseille, o que significava que sairia do clube francês no final da época. A saída acabou por acontecer mais cedo.
Com o clube a atravessar uma grave crise de resultados, Villas-Boas colocou o seu lugar à disposição da direção e aí começou o rebuliço. No final de janeiro, várias centenas de adeptos do Marseille tentaram invadir o centro de treinos do clube francês, contestando as exibições da equipa principal e exigindo a demissão do presidente Jacques-Henri Eyraud.
Logo de seguida, Villas-Boas acabaria mesmo por apresentar a sua demissão, depois do clube ter contratado, por empréstimo, o médio francês Olivier Ntcham sem que o português soubesse de nada. Nesse mesmo dia, o clube gaulês anunciou ter suspendido preventivamente o técnico português devido à «repetição recente de atitudes que prejudicam gravemente a instituição Olympique de Marseille e os seus assalariados que a defendem diariamente.»
A saída acabaria mesmo por ser oficializada nos dias seguintes, estando André Villas-Boas sem clube desde fevereiro de 2021.