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Bayer Leverkusen

Texto por João Pedro Silveira
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O Bayer Leverkusen é um caso raro no panorama do futebol alemão. Conta-se certamente entre uma das equipas mais temidas da Alemanha, crónica candidata aos lugares cimeiros e a boas prestações na Europa, onde é reconhecido como um dos emblemas mais fortes do velho continente, mas que contudo, e para surpresa de muitos leitores, só conquistou dois troféus ao longo da sua longa história centenária. É essa estranha e desajustada correlação entre a grandeza do clube e o seu palmarés, que esta história tentará deslindar...

Do laboratório para o campo

Corria o ano de 1897, quando um laboratório farmacêutico alemão conseguiu, após anos e anos de tentativas, conjugar quimicamente o ácido salicílico com acetato, criando assim o ácido acetilsalicílico. O ácido acetilsalicílico tornou-se no primeiro fármaco a ser sintetizado na história da humanidade, um passo pioneiro para a indústria farmacêutica, que até então se resumia a pequenos laboratórios que conjugavam ingredientes recolhidos na natureza. 

Esta primeira criação da indústria farmacêutica tornou-se no primeiro fármaco vendido em tabletes, que dois anos depois já era vendido em todo o mundo. Essa empresa que em breve se tornaria na mais famosa indústria farmacêutica do planeta era a Bayer, o fármaco, nada mais nem menos que mundialmente famosa Aspirina.  

A empresa rapidamente foi ganhando dimensão, empregando cada vez mais trabalhadores. Em fevereiro de 1903, Wilhelm Hauschild escreveu uma carta aos diretores da Friedrich Bayer, procurando apoio para fundar um clube desportivo na empresa. Em novembro do mesmo ano, nova missiva, assinada por 170 colegas voltava a apelar à Friedrich Bayer para abrir uma secção desportiva na empresa. Desta feita, os diretores mostraram abertura para com a ideia e após alguns meses, a 1 de julho de 1904, nascia o Turn-und Spielverein Bayer 04 Leverkusen.

A cisão

Seria preciso esperar quase três anos, para ver finalmente ver a luz do dia a secção de futebol do Bayer, no dia 31 de maio de 1907.

Apesar da boa vontade inicial entre os atletas das diversas modalidades, as rivalidades dentro do clube entre os praticantes de ginástica - que era a principal atividade do clube - e os apoiantes das diferentes modalidades foram ganhando força com o tempo, conduzindo a uma rutura definitiva a 8 de junho de 1928.

Futebolistas e juntamente com eles as secções de andebol, fistball, atletismo e boxe, abandonaram o clube, fundando o Sportvereinigung Bayer 04 Leverkusen, levando consigo as cores tradicionais vermelho e preto, enquanto os ginastas mantinham o nome original do clube e mudavam as cores para azul e amarelo.

Um novo começo

Entre 1928 e o primeiro troféu oficial - não incluindo títulos em escalões regionais e inferiores - distam longos 60 anos, em que o Bayer Leverkusen cresceu até se tornar uma força inquestionável do futebol teutónico.

As primeiras décadas foram passadas nos escalões inferiores, disputando as ligas regionais, até à restruturação das competições desportivas em 1933, consequência da ascensão dos nazis ao poder.

O Bayer manteve-se na 2ª divisão regional da Gauliga até ao fim da II Guerra Mundial, passando a disputar após o fim do conflito o campeonato regional: a Oberliga West. Numa divisão regional com adversários com a valia do Schalke, Dortmund e Colónia, o Bayer não conseguia qualificar-se para a fase final, acabando por ficar fora da Bundesliga, aquando da fundação da mesma em 1963, sendo colocada no segundo escalão, onde disputou a Regionalliga West.

Subida e reunião

Após ter vencido a sua série regional em 1968, o Bayer falhou a subida à Bundesliga, ao ser afastado nos play-offs, não conseguindo assim chegar ao «clube dos grandes», um sonho, já há algum tempo acalentado por dirigentes, adeptos e atletas.

Durante os anos seguintes, o Bayer nunca esteve perto de subir, acabando descer de divisão, caíndo para o terceiro escalão em 1973. O regresso seria imediato, com o Bayer a regressar à então renomeada Bundesliga 2, logo no ano seguinte. 

A estreia na Bundesliga chegaria em 1979/80, e aos poucos, o Bayer foi subindo na classificação, tornando-se presença habitual na primeira metade da tabela em pouco tempo. 

Em 1984, os dois Bayer Leverkusen que se tinham separado em 1928, voltaram a reunir-se num só, surgindo assim a atual denominação: TSV Bayer 04 Leverkusen eV.

Sucesso europeu

Dentro do campo, o sucesso chegava com a contratação do técnico Erich Ribbeck, que conduziu os negro-rubros à sua primeira qualificação europeia, após o 6º lugar em 1985/86. A carreira europeia acaba na 2ª eliminatória às mãos do Dukla de Praga.

Duas épocas depois, o Leverkusen chega aos quartos-de-final da UEFA para defrontar o Barcelona. Um empate a zero no Ulrich-Haberland Stadon deitava tudo a perder, mas os «farmacêuticos» surpreenderam meio mundo e foram bater o todo-poderoso Barcelona por 0x1 em pleno Nou Camp.

Nas meias finais, foi o WerderBremen que ficou pelo caminho (1x0 e 0x0), voltando o Bayer à «Cidade Condal», desta vez para enfrentar o Espanyol, no Estádio Sarrià, onde os catalães ficaram com mão e meia na Taça UEFA, depois de vencerem por expressivos 3x0. 

Na segunda mão, o verdadeiro milagre no Ulrich-Haberland, com três golos no segundo tempo que levaram o jogo para prolongamento, onde a ausência de remates certeiros, obrigou ao desempate através da marca de grandes penalidades, onde a sorte sorriu ao Bayer, que assim levantou o primeiro grande troféu da carreira. 

Novos craques e a Taça

Ainda em 1988, Rainer Calmund tornou-se um dos dirigentes do clube, revolucionando o departamento de prospeção do clube. Em 1990, aquando da reunificação alemã, Calmund foi célere a ir buscar alguns dos mais promissores jogadores que despontavam do outro lado do Muro: Ulf Kirsten, Andreas Thom e Jan Melzig.

Para se juntar ao trio ex-DDR, chegaram de terras brasileiras craques como Jorginho e Paulo Sérgio, a que se juntaram velhas referências do futebol alemão como Bernd Schuster e Rudi Völler. Com os reforços, o Bayer tornou-se pela primeira vez na sua história num forte candidato à vitória final na Bundesliga.

Os bons resultados e as estrelas ajudaram a cimentar a reputação do clube, atraindo cada vez mais adeptos ao Ulrich-Haberland. Em 1993, o Leverkusen bateu o Hertha BSC II (amateur) de Berlim na final da Taça da Alemanha, garantindo a primeira grande conquista nacional do seu palmarés. 

Os quase campeões...

Após uma quase despromoção em 1996, o novo treinador Christoph Daum renovou a equipa com o trio brasileiro Lúcio, Emerson e Zé Roberto, e o novo menino bonito do futebol alemão: Michael Ballack. 

Entre 1996/97 e 2001/02, o Bayer terminou o campeonato por quatro  vezes em segundo lugar, perdendo por duas vezes o campeonato nos instantes finais. Primeiro em 2000, quando um empate com o Unterhaching valia um título inédito, mas muitos nervos provocaram uma inesperada derrota por 0x2, com autogolo de Ballack de permeio, enquanto o Bayern de Munique ganhava o seu jogo e roubava o título.

Dois anos depois, os negro-rubros fizeram uma época quase perfeita, liderando a Bundesliga desde cedo e avançado eliminatória a eliminatória na Taça e Champions, até conseguir chegar às duas finais. O campeonato parecia ganho, quando o Bayer levava cinco pontos de avanço sobre o Borussia Dortmund a somente três jornadas do fim, mas duas derrotas deitaram tudo a perder. Dias depois, a final da Taça com o Schalke 04, aprofundou a desilusão, com uma derrota por 2x4. A «tragédia» ficaria completa, quando na semana seguinte o Bayer Leverkusen perdeu a final de Glasgow com o Real Madrid (1x2). O Bayer perdera tudo em poucos dias... para cúmulo, ainda perderia Ballack e Zé Roberto para o rival de Munique.

Sem as suas referências e na ressaca do ano das três derrotas, o Bayer arrasta-se na classificação, pairando inclusive o fantasma da despromoção. Tão má foi a campanha, que o mentor do grande Leverkusen do novo milénio, Klaus Toppmöller, perdeu o seu lugar para Thomas Hörster. Mas seria o carismático Klaus Augenthaler, a liderar o clube nos dois últimos encontros e a garantir a manutenção.

Após alguns anos incaracterísticos, o Bayer chegaria pela quinta vez no seu historial ao segundo lugar na época de 2011, assegurando mais uma presença na Champions. Contudo o tão ambicionado título ficou adiado mais uma vez....

A pesada herança de Heynckes

Após o ano do quase, Jupp Heynckes rumou ao Bayern e deixou para trás uma pesada herança que resultou numa troca de cadeiras ao longo de três temporadas - Robin Dutt, Sami Hyypiä e Sascha Lewandowski foram os três técnicos -, apesar de continuarem entre a elite do futebol alemão e terem atingido os oitavos da Liga dos Campeões em duas das ocasiões.

A era de instabilidade prometia chegar ao fim com a chegada de Roger Schmidt em 2014/15 e contagiou tudo e todos com o seu estilo pressionante que resultou em duas temporadas de alto nível (4º e 3 lugar e oitavos da Liga dos Campeões numa das temporadas). Mas o que parecia ser o início de uma parceria duradoura – o núcleo jovem prometia um futuro risonho -, teve um final precoce em 2016/17, depois de um início complicado.

Seguiram-se apostas em Tayfun Korkut e Heiko Herrlich, também sem entusiasmar, até que chegou Peter Bosz. O técnico holandês que brilhou no Ajax, mas falhou no Dortmund devolveu o futebol positivo e identificou-se com a estratégia de evoluir os vários jovens já presentes no clube. O bom trabalho e uma reta final impressionante – cinco vitórias e um empate nos último seis duelos da temporada – permitiram aos farmacêuticos terminar na quarta posição, garantindo a presença na Liga dos Campeões, em 2018/19, e o 5º lugar na época seguinte. Contudo, em 2020/21, um mau arranque na Bundesliga acabou por ditar o fim da ligação ao neerlandês.

Hannes Wolf foi o escolhido para terminar a época, mas foi a chegada do suíço Gerardo Seoane, em 2021/22, que conduziu os farmacêuticos a um 3º lugar na Bundesliga, a sua melhor classificação desde 2015/16.

Comentários (1)
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motivo:
PU
correção
2014-08-29 17h06m por Punkt
texto muito bom mas com um pequeno erro. o Bayer Leverkusen venceu a Taça de 92/93 não contra o Hertha mas sim contra a equipa B do Hertha!
Agradecimento
hm por zerozero.pt
Muito obrigado, tem razão. O texto foi retificado.