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    Mais que futebol... : Argentina x Inglaterra

    Texto por João Pedro Silveira
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    Apesar da grande distância geográfica que separa a Argentina da Inglaterra, as suas seleções nacionais compartem uma intensa rivalidade, que se renova há muitos anos, remontando à segunda metade do século passado.

    É pouco comum existirem rivalidades futebolísticas intercontinentais, pois por norma, os «rivais» costumam estar ao lado um do outro, como sucede em outras rivalidades históricas como um «Portugal x Espanha», «Argentina x Brasil», «Inglaterra x Alemanha» ou um «França Itália»... O «Argentina x Inglaterra é a exceção, um clássico intercontinental em que os dois países estão separados por mais de 10 mil quilómetros, merece uma análise aturada...

    Ao longo dos anos, a «Alviceleste» e a «Equipa dos Três Leões» lograram criar uma rivalidade tão forte que é talvez a mais reconhecida de todas as as rivalidades entre seleções que existem no mundo: desde a expulsão de Rattín nos quartos-de-final do mundial de 1966, com Alf Ramsey a apelidar os argentinos de serem «animais», chegando até ao penálti duvidoso convertido por Beckham no mundial de 2002, não esquecendo o golo com a mão de Maradona em 1986 ou a expulsão de Beckham no mundial de 1998, a verdade é que os dois países já se encontraram durante esse período por quatro vezes em Campeonatos do Mundo - já se tinham encontrado antes em 1962 - além de se terem defrontado na Guerra das Malvinas - ou Falkland - em 1982, que deixou para sempre marcas nas relações entre os dois países, marcas essas que ainda perduram e prometem «azedar» a convivência entre Londres e Buenos Aires. 

    Os ingleses levam o futebol para a Argentina

    É comum dizer-se que a Argentina é um país de italianos que falam espanhol e pensam como ingleses. De facto, há quem sugira que os argentinos não passam de europeus perdidos nos confins da América do Sul. Outros, falam da Argentina como uma Alemanha da América Latina, fria, racional, por oposição aos seus vizinhos e rivais, exemplos de calor, paixão e cor, que tornam a América do Sul um dos mais apaixonantes continentes do planeta.

    Desde tempos imemoriais que a Argentina atraiu emigrantes provenientes da Europa, em particular a Espanha e a Itália, mas no fim do século XIX, Buenos Aires era também a «casa» de uma considerável comunidade de expatriados britânicos. Esse grupo, que rondaria as 10 mil pessoas, foi o responsável pela introdução do futebol na terra das Pampas.

    O primeiro jogo de futebol disputado na Argentina foi organizado pelo Buenos Aires Cricket Club de Palermo, colocando frente-a-frente, duas equipas de britânicos que trabalhavam nos caminhos-de-ferro, que se dividiram em dois «onzes» que usaram bonés de cor azul e vermelha, pois nesses tempos, eram os bonés - em vez das camisolas - que eram usados para distinguir as duas equipas. 

    The national football teams of the two countries played out a few friendlies in the 1950s. In 1951, Argentina also became the first team apart from Scotland to play England at Wembley. But these were incident free friendly games.
     
     
     
    The first competitive match took place in the 1962 World Cup with England winning it 3-1 thus knocking Argentina out in the group stage itself.O futebol faria o seu caminho em terras argentinas e com o tempo libertou-se dos ingleses, tornando-se nacional, sem nunca rejeitar as influências britânicas.
    O futebol faria o seu caminho em terras argentinas, perdendo aos poucos a sua ligação aos ingleses e tornando-se 100% argentino, sem contudo nunca rejeitar as influências britânicas. 
     
    Primeiros jogos
     
    Seria só na década de 50 que os dois países se enfrentariam pela primeira vez num campo de futebol. Em 1951, a Argentina tornou-se a primeira equipa - depois da Escócia - a defrontar a Inglaterra em Wembley, num encontro que acabou com a «esperada» vitória dos anfitriões (2x1).
     
    Dois anos passados, uma equipa de segundas linhas inglesas visitou Buenos Aires e saiu vencida por (3x1). Os ingleses nunca consideraram o jogo oficial - ao contrário da FIFA - mas os argentinos nunca esqueceram o dia em que pela primeira vez bateram o pé aos inventores do futebol. No calor da vitória, houve até um deputado que proferiu no parlamento que os «argentinos haviam nacionalizado o futebol». Ainda no mesmo ano, os ingleses regressaram a Buenos Aires - desta feita com o primeiro «onze» - e empataram a zero.
     
    O primeiro encontro em competição, decorreu durante o mundial de 1962 com os europeus a levarem a melhor por 3x1, ajudando assim a deixar os argentinos eliminados ainda na primeira fase. 
     
    El Robo del Siglo
     
    É assim que os argentinos se referem ao jogo dos quartos-de-final do mundial de 1966, entre ingleses argentinos. Literalmente significa «o roubo do século», baseando-se na ideia de que os argentinos foram «empurrados» para fora da competição, tudo para ajudar a levar os ingleses em direção ao título.
     
    Muita da polémica se deve ao golo da vitória apontado por Geoff Hurst que os sul americanos consideraram fora de jogo, mas seria a expulsão do capitão António Rattín que faria os alvicelestes «perderem a cabeça».
     
    Na Argentina ainda hoje se considera que o alemão Rudolf Kreitlin expulsou o capitão argentino porque não gostava da sua cara, enquanto em Inglaterra, todos falam da linguagem excessiva de Rattín, se bem que o árbitro não entenderia uma palavra de espanhol. Imagens da época dão a ideia de que Rattín queria chamar um tradutor, apontando para a sua braçadeira, referindo que era o capitão e queria falar com o árbitro. A verdade é que foi expulso, facto que o deixou furioso, recusando-se a sair de campo, o que obrigou o árbitro alemão a chamar a polícia para resolver a questão.
     
    No final do encontro Alf Ramsey, treinador dos ingleses, não permitiu que os seus jogadores trocassem camisolas com os inimigos, indo mais longe na conferência de imprensa, onde afirmou com todas as letras que os argentinos eram uns «animais».
     
    A Guerra das Malvinas
     
    Em 1982 a Argentina atacou as Ilhas Malvinas - as Falklands em inglês - ocupando a colónia inglesa que se encontrava militarmente desguarnecida. Como resposta, a Primeira-Ministra de Inglaterra, Margaret Thatcher, enviou os seus rapazes a cruzar o mar até ao Atlântico Sul, onde 74 dias depois da invasão, as últimas tropas argentinas se renderam ao exército de Sua Majestade. O Reino Unido vencia o conflito e a ditadura argentina ficava com os seus dias contados, em Londres rejubilava-se com a última grande vitória do Império. 
     
    Meses depois, ingleses e argentinos assistiram ao mundial em Espanha, pairando a ameaça de um confronto duríssimo entre os dois, que nunca chegou a realizar-se, com a eliminação de ambos na segunda fase de grupos.
     
    A «mão de Deus»
     
    Quatro anos volvidos, o tão aguardado reencontro entre as duas equipas teve finalmente lugar, debaixo do sol inclemente da Cidade do México, no dia 22 de Junho de 1986. Um jogo que ficou na história pelos dois golos de Maradona.
     
    Um primeiro, que o próprio considerou como um golo de outro mundo, apontado com a «mão de Deus» e um segundo, tão maravilhoso que não pareceu terreno, que ficou para a eternidade como o melhor golo apontado em fases finais de Campeonatos do Mundo, numa jogada em que deixou para trás meia equipa de Inglaterra, antes de empurrar o esférico para a baliza deserta de Peter Shilton. 
     
     
    Se o golo foi apontado com a «mão de Deus» como disse El Pibe, ou se foi apontado pela mão do diabo, como defendeu Bobby Robson, pouco importou a Diego Armando Maradona, que mais tarde diria que dos dois golos, preferiu o apontado com a mão, porque sentiu que de certa forma, foi como «roubar a carteira aos ingleses».
     
    Mais tarde, ainda escreveu que «foi como se tivéssemos batido um país, não apenas uma seleção... Apesar de termos dito que o jogo não tinha nada a ver com a Guerra das Malvinas, todos nós sabíamos que eles tinham morto muitos rapazes argentinos, que os tinham mortos como passarinhos. E isto era a vingança!».
     
    A loucura de ##Beckham
     
    Doze anos depois, em França, as duas velhas rivais encontravam-se novamente num jogo a eliminar. A vitória dava acesso aos quartos-de-final e tudo parecia correr bem quando Batistuta colocou a Argentina na frente, após a marcação de uma grande penalidade. Também de penálti, Shearer repôs a igualdade aos 10 minutos, e seis minutos depois Owen fez um golo à la Maradona, colocando a Inglaterra na frente.
     
    A Argentina empataria, mas o momento do jogo seria a expulsão de Beckham, após ter reagido a uma provocação de Simeone. Os ingleses aguentaram o 2x2 até aos penáltis, onde a sua proverbial falta de sorte falou mais alto...
     
    Os ingleses não perdoaram a sua jovem estrela, com o Daily Mirror a titular na manhã seguinte: «dez leões heroicos e um rapaz estúpido».
     
    E a redenção...
     
    Volvidos quatro anos, Inglaterra e Argentina tiveram novo encontro dramático no maior palco do Mundo. Desta feita os europeus levaram a melhor, vencendo por 1x0, golo de Beckham na transformação de uma grande penalidade. Mais uma vez, a arbitragem seria contestada, desta vez pelos sul-americanos, que consideraram inexistente a falta que permitiu o penálti que deu o golo aos ingleses e que acabou por ajudar a prematura eliminação argentina ainda na primeira fase da prova. 
     
    Primeiro marcou um golo com a mão. A tão famosa mão que Maradona atribuiu a Deus e Bobby Robson, treinador Inglês ao Diabo. Depois, uma sublime jogada em que o pé esquerdo de Maradona subjugou meia equipa Inglesa, Peter Shilton incluído. Foi provavelmente o golo mais bonito da história dos Mundiais. No final, como alguém diria mais tarde: Maradona 2- Inglaterra 1.

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