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    Liga Portuguesa 1954/55
    Grandes jogos

    Belenenses x Sporting: Martins gelou as Salésias...

    Texto por João Silveira
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    O Belenenses estava a poucos minutos de conquistar o tão almejado segundo título da sua história. Os foguetes estouravam nas Salésias, os adeptos cantavam e aplaudiam cada troca de bola dos «azuis», mas eis que, num ataque que parecia inofensivo, o leão Martins dispara um remate indefensável para José Pereira. Faltavam quatro minutos para o fim do jogo - e do campeonato - e os leões roubavam o título ao Belém para entregá-lo de mão beijada ao Benfica que, nesse exato momento, batia o Atlético em casa por 3x0.

    Um longo caminho para o segundo título...

    Após quatro vitórias consecutivas na 1ª Divisão, o Sporting desde cedo não pareceu ter força para revalidar o título, «perdendo gás» no caminho para o «penta».

    Os dérbis entre os homens da «Cruz de Cristo» e os leões apaixonavam os adeptos do futebol.
    A primeira volta mostrou um Benfica dominante, perseguido de perto pelo Sporting de Braga e, a uma certa distância, por Belenenses, Sporting e FC Porto... Com o avançar do «Nacional», o Braga ia atrasando-se e a luta ficava reduzida a Benfica e Belenenses, com o Sporting à espreita.

    Em fins de março, o Belenenses ultrapassou o Benfica, que fora derrotado nas Antas pelos azuis-e-brancos (3x0), e assumiu finalmente a liderança que guardou ciosamente até à última jornada, dia em que recebia os leões, enquanto as águias jogavam em casa contra o Atlético.

    O sonho azul

    Desde que fora campeão em 1945/46, o melhor que o Belém atingiu foram três terceiros lugares sempre atrás dos rivais Sporting e Benfica e sempre longe do primeiro.

    Mas, nesta época, a noventa minutos do fim da prova, o sonho de conquistar pela segunda vez a competição maior do calendário desportivo português estava bem vivo. Os azuis só dependiam de si, mas tinham de se precaver, pois tinham pela frente o tetracampeão, que ainda contava com remotas possibilidades de chegar ao título.

    O Belenenses comandava com 38 pontos, o Benfica era segundo com 37 e os leões tinham 36 pontos acumulados ao longo de 25 intensas jornadas. A esperança desta vez era claramente azul...

    Antes do jogo, o Belenenses fora estagiar para Colares, tentando respirar os bons ares da vizinha Serra de Sintra. Os azuis descansaram, foram a banhos e ainda fizeram passeios de «charrete». Tudo corria sobre rodas...

    Finalmente o grande dia...

    Lisboa acordou com o dérbi na cabeça. O grande jogo estava nas conversas de todos: de Alfama ao Rossio, passando obviamente por Carnide, Campo Grande e Belém. Sportinguistas, benfiquistas, belenenses, todos só falavam da mesma coisa. Todas as conversas desse 24 de abril só iriam dar à Ajuda, mais concretamente às Salésias.

    Matateu, o grande craque do Belém nos anos cinquenta.
    O Belenenses começou o jogo lançando-se para cima do Sporting e tentando chegar cedo ao golo. Os leões aguentavam os ataques contrários até que o argentino Pérez abriu o marcador.

    Entretanto, o Sporting reagiu prontamente, mostrando não querer dar-se por vencido. Travassos, que durante a semana que antecedera o dérbi fora acusado pelos benfiquistas de que iria falhar o jogo para prejudicar o Benfica, magoado com a injustiça das críticas que colocavam o seu bom nome em causa, foi à linha, cruzou e viu a bola ser cortada pela mão de Peres. Penálti! Domingos Miranda não hesitou em apontar para a marca dos onze metros.

    Albano, que era com Travassos um dos dois «violinos» que restavam na equipa leonina, pegou na bola e bateu o guardião azul, empatando a partida. Perto do intervalo, Matateu recolocava os da «Cruz de Cristo» na frente do marcador e do campeonato.
     
    Os mais longos 45 minutos do Belém...
     
    Com apenas um golo de vantagem, o segundo tempo pareceria interminável para o Belenenses, com os minutos a arrastarem-se e o golo a teimar em não aparecer...
     
    O Benfica ia vencendo confortavelmente, mas o Sporting parecia incapaz de dar a volta ao resultado. Os azuis iam adiando o 3x1. Matateu teve o golo nos pés, mas viu o guarda-redes Carlos Gomes deter uma bola sobre a linha de golo. O fiscal de linha, que acompanhava o ataque do Belém, ainda começou a correr para o centro do terreno, dando a impressão que validara o golo, mas o árbitro nada apontou.
     
    João Martins, o autor do golo que matou o sonho dos «azuis».
    Pouco depois, quando os foguetes já estouravam, o Sporting lança um ataque sem grandes pressas quando, perante a apatia da defesa da casa, João Martins remata e faz o golo do empate para o Sporting. Silêncio sepulcral nas Salésias. A reação imediata de Martins é aproximar-se de Carlos Silva, pedindo-lhe desculpas pelo acabara de fazer. 
     
    Os jogadores azuis, incrédulos, perceberam que o sonho ruiu. Alguns começaram a chorar, soluçando como crianças. Os leões, atónitos, nem festejam. Quando o árbitro apita para o fim, um adepto, de cabeça perdida, tenta agredir o árbitro. Jogadores do Sporting evitam a agressão, enquanto os azuis se deixam cair pelo chão, chorando descontroladamente. Martins ainda esboça um festejo, mas rapidamente percebe as consequências do seu tento. No gesto imediato que se seguiu ao golo pede desculpa a Carlos Silva, que chorava como um menino...
     
    As Salésias entraram em pranto coletivo, enquanto do outro lado da cidade, no Estádio de Carnide, começava a explosão de alegria, já que pelas ondas da rádio chegavam as notícias do golo de Martins. O Benfica era campeão. Nunca um golo dos leões foi festejado por tanta águia... 

    Comentários

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    motivo:
    VL
    Martins
    2013-04-24 20h55m por VladPRO
    Made In Sines
    Parabéns
    2013-04-24 15h43m por adolfosapinho
    Parabéns pelo texto. Muito bem escrito.
    jogos históricos
    U Domingo, 24 Abril 1955 - 00:00
    Campo das Salésias
    Domingos Miranda
    2-2
    Ricardo Pérez 3'
    Matateu 41'
    Albano Pereira 11'
    João Martins 86'
    Estádio
    Campo das Salésias
    Campo das Salésias
    Portugal
    Ajuda - Lisboa
    Lotação500
    Medidas-
    Inauguração1927