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    Jules Rimet: o Pai do mundial

    Texto por João Pedro Silveira
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    Filho de um humilde merceeiro, neto de um pequeno agricultor, Jules Rimet nasceu em Theuley no Franco Condado, no leste de França, a 14 de outubro de 1873. A sua família há muito que se dedicava ao cultivo da terra, mas a França vivia tempos difíceis. No rescaldo da derrota na Guerra Franco-Prussiana de 1871 (1), depois da ocupação de Paris pelos alemães e da Comuna parisiense, a Monarquia caíra e a III República fora instaurada. 

    O pai de Rimet muda-se para Paris, à procura de emprego, tentando ultrapassar a crise que se abate sobre a província francesa. Radicado na «Cidade da Luz», trabalha arduamente até juntar o dinheiro suficiente para mandar vir a família. Aos 11 anos, Jules reencontra o pai, ajudando a família com pequenos trabalhos e fazendo os cursos noturnos, estudos esses que concluíram com um bacharelato em direito.

    Nasce o dirigente

    Sem nunca praticar futebol, desde cedo que se mostrou apaixonado pelo jogo, ao ponto do jovem bacharel dedicar-se muito à causa do jogo, apoiando sempre que podia os atletas que conhecia. A 21 de fevereiro de 1897, juntamente com o irmão Modeste e alguns amigos, funda o Red Star Club Français de Paris, um clube polidesportivo, onde inicia a sua longa carreira no dirigismo.

    Um ano mais tarde, somente com 25 anos de idade, funda o La Revue, um pequeno jornal que se assumia como cristão, democrata e republicano, que passado um ano se funde com  Le Sillon de Marc Sangnier, revista que queria romper as ligações entre as elites católicas e a monarquia. 

    Como dirigente do Red Star, integra a direção da Union des Sociétés Françaises de Sports Athlétiques (USFSA) (2) e está presente na fundação da FIFA (1904), em Paris, tornando-se num dos seus primeiros dirigentes e um dos principais impulsionadores.

    A Guerra e o nascimento da FFF

    Em 1910, funda a Liga Francesa depois de deixar o comando do Red Star. É por essa altura que começa a advogar a criação de uma grande competição internacional entre seleções. A eclosão da I Guerra Mundial, travou esses desígnios e adiou os planos para o pós-guerra. 

    Participa na Guerra como tenente de Infantaria, lutando nas trincheiras da Frente Ocidental. A sua bravura foi reconhecida, ganhando uma Croix de Guerre (3) pelos seus méritos em combate contra os alemães.

    Uma vez terminado o conflito, dedicou-se de «alma e coração» ao seu tão amado jogo. Olhando para o exemplo inglês e de outros países, defendia que a autonomia organizativa do futebol seria fundamental para o desenvolvimento do futebol gaulês. Com isso em mente, fundou a Federação Francesa de Futebol (FFF), de que se tornou o primeiro presidente e liderou até 1949.

    A liderança da FIFA e a Taça Jules Rimet

    Representante da França na FIFA, em 1921 foi designado presidente do organismo que tutela o futebol mundial. Experiente, apaixonado pelo jogo, abraçou desde o primeiro dia o objetivo de recuperar a instituição, adormecida, que estava em ponto de rutura, muito perto da dissolução. Com a salvação da FIFA em mente, trabalhou arduamente para recupera-la, apoiando a realização de jogos entre as diversas seleções nacionais.

    Promovendo os torneios olímpicos de futebol de 1920, 1924 e 1928, ciente que a presença do futebol nos jogos era fundamental para o desenvolvimento da modalidade e a sua massificação a nível global.
     
    O sucesso das competições e a expansão do jogo por mais e mais países, levou-o a ponderar a criação de um torneio internacional só para seleções. Nascia o sonho da Taça do Mundo. 
     
    Durante os Jogos Olímpicos de 1928, que se realizaram em Amesterdão, a FIFA organizou um congresso onde ficou finalmente agendada a realização do primeiro Campeonato do Mundo de futebol. Diversos países europeus se candidataram à organização da prova, mas Rimet desde a primeira hora que apoiou a ideia do Uruguai organizar a competição. Vencedor dos dois últimos torneios olímpicos, faria 100 anos como nação independente em 1930 e a realização do evento seria uma justa homenagem à sua história. 
     
    Apesar do boicote de muitas nações europeias, devastadas com a grande depressão e o custo da viagem, o torneio realizou-se com treze países e consagrou o Uruguai como o primeiro campeão mundial de futebol.
     
    A saga dos mundiais, a guerra e o regresso
     
    Com o sucesso da prova uruguaia, Rimet não teve dificuldade em conseguir organizar - à imagem dos Jogos Olímpicos - a competição de quatro em quatro anos. Em 1934, concedeu à Itália de Mussolini a honra de organizar o torneio, mas em 1938 viu a sua França natal ter o privilégio de ser o anfitrião da competição. 
     
    As ações de Hitler na II Guerra Mundial pararam o mundo e impediram a realização das edições de 1942 e 1946. Um ano depois do fim da guerra, em 1946, no congresso que se realizou no Luxemburgo, os diversos delegados resolveram denominar a Taça de Campeão do Mundo, Taça Jules Rimet, e assim seria até 1970, ano em que o Brasil, ao vencer o seu terceiro título mundial, conquistou o direito a guardar definitivamente o troféu.
     
    Seria também no Brasil que se realizaria a primeira edição do mundial depois do conflito, em 1950. Quatro anos depois, a competição regressou à Europa para se disputar na Suíça. Seria nesse mesmo ano que Rimet, então já com 81 anos, abandonava a direção da FIFA, tornando-se presidente honorário.
     
    Da FFF saíra em 1949, em sequência de uma polémica em torno da admissão do Säarbrucken no campeonato francês, de que ele era o principal defensor, perante a oposição de todos os clubes que preferiam a presença do Bordeaux entre os grandes, do que o clube do Sarre. Jules Rimet faleceria em 1956, depois de ter visto uma proposta para torna-lo prémio Nobel da Paz ser rejeitada pelo comité norueguês. 

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    (1) - Guerra Franco-Prussiana foi um conflito que opôs o Império Francês e o Reino da Prússia, que terminou com a vitória prussiana e consequente proclamação do Império alemão na Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes. Nascia a Alemanha e a França via na abdicação de Napoleão III o fim da Monarquia e a instauração da III República.
    (2) - USFSA - União das Sociedades Francesas de Desportos Atléticos - é um antigo organismo que regia o desporto francês. Durante as décadas de 1890 e 1900, era responsável por diversos desportos como o atletismo, ciclismo, hóquei em campo, esgrima, croquet e natação. Contudo, é mais conhecida por ter sido o organismo regente do futebol e do râguebi em França até à fundação da FFF e da FRF.
    (3) - Cruz de Guerra - É uma condecoração militar francesa que honrava a conduta excecional durante a Grande Guerra de 1914-18.

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    Fotografias(3)

    Jules Rimet entrega o troféu a Giuseppe Meazza

    Comentários

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    motivo:
    JU
    Erro
    2013-03-01 16h23m por Junior99
    No segundo parágrafo do 4º subtema "A saga dos mundiais, a guerra e o regresso" diz não se realizaram as provas de 1950 e 1954.

    Errado. As edições que não se realizaram foram as de 1942 e 1946. Como afirma mais abaixo, a de 1950 foi no Brasil e a de 1954 na Suíça.
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