placardpt
    Desastre de Libreville
    Tragédias

    A queda do avião da Seleção Nacional da Zâmbia

    Texto por João Pedro Silveira
    l0
    E2

     A 27 de abril de 1993, o avião que transportava a equipa nacional da Zâmbia e restante comitiva, com destino a Dakar, no Senegal, caiu no Oceano Atlântico, a 500 metros da costa, poucos minutos depois de levantar voo do aeroporto internacional de Libreville, no Gabão. 

    Entre os que perderam a vida encontrava-se o treinador Godfrey Chitalu e ainda 18 jogadores, entre eles Kelvin Mutale, o autor de um hat-trick no jogo que os zambianos haviam disputado na véspera, contra as Maurícias, a contar para a fase de qualificação da CAN.

    Depois da vitória nas Maurícias, os chipolopolo deslocavam-se para o Senegal para jogar mais uma partida da qualificação para o Mundial de 1994 e eram os grandes favoritos não só a vencer o jogo, como a conseguir o apuramento, algo que aconteceria pela primeira vez na sua história.

    A seleção zambiana estava rotulada como «geração dourada». Liderada pela estrela do PSV, Kalusha Bwalya, e repleta de jovens craques, os chipolopolo eram a equipa do momento no continente e os grandes favoritos para a conquista da CAN, tendo espantando o mundo nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, aplicando uma humilhação à «toda-poderosa» Itália com um sonoro 4x0. 
     
    Bwalya tinha combinado com os dirigentes federativos ir ter diretamente a Dakar, mas sem imaginar que tal decisão lhe salvaria a vida. Também de fora tinha ficado Charles Musonda, ele que se lesionara num jogo do Anderlecht e fora, por isso, dispensado da seleção, acabando por permanecer na Bélgica. Por último, Bennett Mulwanda Simfukwe, que era suposto estar no avião, tivera a sorte de ter sido impedido de se juntar à seleção pelo seu clube.

    O acidente

    O voo fora especialmente organizado pela Força Aérea da Zâmbia com o intuito de transportar a seleção nacional de Lusaca até Dakar, onde os chipolopolo se preparavam defrontar o Senegal em jogo do Grupo B da fase final da qualificação africana para o Mundial de 1994 nos Estados Unidos da América. Era o mesmo De Havilland Canada DHC-5D Buffalo, conduzido pelo mesmo piloto, que havia transportado a equipa na véspera das Maurícias para Lusaca. 

    A viagem tinha agendada três paragens para manutenção e reabastecimento em Brazzaville, no Congo, Libreville, no Gabão, e Abidjan, na Costa do Marfim, antes da chegada a Dakar.
     
    Em Brazzaville, aquando da primeira escala, o motor esquerdo do avião da Força Aérea da Zâmbia deu os primeiros sinais de mau funcionamento, mas, após uma rápida inspeção, o comandante resolveu seguir viagem.
     
    Já depois da segunda escala para reabastecimento em Libreville, e momentos depois do avião levantar voo, um pequeno incêndio começou no motor esquerdo, tendo sido prontamente controlado pela tripulação. O piloto tentou resolver a situação desligando o motor em questão, mas, por cansaço ou distração, desligou antes o motor direito, fazendo com que a aeronave perdesse altitude e caísse no mar, a aproximadamente 500 metros da capital gabonesa.
     
    Todos os 30 passageiros, incluindo jogadores, restante comitiva e tripulação tiveram morte imediata. A investigação das autoridades gabonesas apontou para erro humano provocado pelo cansaço da tripulação, além de diversos problemas mecânicos da envelhecida aeronave. O estado zambiano pagaria cerca de 1 milhão de dólares de indemnizações aos familiares das vitimas do desastre.
     
    Os 18 jogadores e a restante comitiva foram enterrados num memorial conhecido como «Heroes Acre», situado em frente ao Independence Stadium, na capital Lusaca.
     
    O depois...
     
    Após o desastre, a Federação zambiana percorreu o país e a diáspora com o intuito de encontrar um conjunto de jogadores que, juntamente com Bwalya e Musonda, pudesse terminar a campanha de qualificação para o Mundial, que no fim, escaparia por apenas um ponto.
     
    O antigo treinador do Chelsea, Ian Porterfield, foi contratado para liderar a nova seleção e conseguiu, para espanto de todos, conduzi-los à final da CAN, depois de uma caminhada em que os chipolopolo tinham levado de vencida a Costa do Marfim, o Senegal e o Mali. Com África a torcer pelos heróis zambianos, estes não foram capazes de levar a melhor sobre a experiente seleção nigeriana, perdendo por 1x2.
     
    Terminada a competição, a Zâmbia eclipsou-se, regressando apenas à ribalta em 2012 quando, para ironia do destino, se qualificou para o CAN que se disputava no Gabão e na Guiné Equatorial.
     
    Com Bwalya agora como presidente da Federação, os chipolopolo começaram por jogar e ganhar o Grupo A, que se disputou em Bata e Malabo na Guiné Equatorial. 
     
    Ainda em Bata, eliminariam o Sudão nos quartos e o Gana nas meias, ganhando o direito de disputar a final em Libreville, contra a favorita Costa do Marfim. 
     
    No Stade de l'Amitié, em Libreville, muito próximo do local onde os seus colegas tinham perdido a vida, os zambianos, como na história bíblica de David e Golias, contrariaram todas as previsões e levaram de vencida as estrelas cintilantes da Costa do Marfim, conseguindo assim a mais simbólica de todas as homenagens com que podiam honrar os heróis caídos em 1993.

    Comentários

    Gostaria de comentar? Basta registar-se!
    motivo:
    Outra história!
    2013-01-19 14h05m por dmdm59
    Foi uma tragédia, mas a ironia do destino é que me deixou boquiaberto, que grande história. :)
    JE
    Zambia
    2013-01-19 00h49m por JeffFran
    alem do grande azar , mais azar e estar a apenas 500m . .
    Zâmbia
    2013-01-18 10h29m por Platinum
    De facto lembro-me desse acidente que aconteceu com a selecção da Zâmbia, é sempre trágico quando se dá a queda de um avião, normalmente não sobra ninguém para contar a história.

    Os meus parabéns ao autor do texto, pela pesquisa, e pelas palavras que escolheu. Muito bom.