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    História
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    Democracia Corintiana

    Texto por João Pedro Silveira
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    No começo dos anos oitenta o Brasil era governado por uma ditadura militar, regime de carácter autoritário e nacionalista que fora instaurado em 1 de abril de 1964, quando um golpe militar derrubou o governo democraticamente leito do Presidente João Goulart. (1)
     
    Enquanto o país vivia debaixo da opressão muitos eram os que lutavam para mudar a situação. As perseguições políticas "amordaçaram" a sociedade brasileira. A máquina do estado, as universidades, a cultura, tudo foi alvo dos militares. Entre os muitos que abandonaram o país durante a ditadura contam-se os nomes de Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil.
     
    Nem o futebol era exceção, com muitos dos clubes a terem nas suas direções gente muito próxima ou pró-regime. Mas o Corinthians estava destinado a mudar o rumo da História...
     
    A exceção corinthiana
     
    Em 1982, com Sócrates como grande figura, o Corinthians entra num processo sem par na história do futebol brasileiro, período que ficou para a posteridade com o nome de «A Democracia Corinthiana».
     
    Em abril desse ano Waldemar Pires toma o lugar de Vicente Matheus na presidência do Timão. Entre as primeiras medidas, Pires aponto o nome de Adílson Monteiro Alves para ser o diretor da equipa. 
     
    Adílson Monteiro Alves era m sociólogo que tinha uma abordagem revolucionária no mundo do futebol. Acreditava que se devia ouvir a voz de todos dentro do clube para se encontrar as melhores soluções para o futuro da instituição.
     
    Esse tipo de ideias encontrou eco em jogadores como Sócrates, Casagrande e Wladimir, que já eram profundamente politizados e opositores do regime.

    Rapidamente a revolução chegou ao balneário, com os jogadores a clamarem por mais intervenção na gestão do clube. ##Intervenção que devia ser de todos, desde o craque da equipa ao Presidente, passando pelo treinador e o roupeiro. Todos, sem exceção tinham direito a um voto dentro do clube. Contratações, dispensas, atos de gestão, tudo passava pelo coletivo.

    Diariamente os membros do clube decidiam a que horas era o almoço, a que horas começava o treino, decidiam inclusivamente se haveria a "concentração", o estágio que as equipas brasileiras efetuavam antes de cada partida, algumas vezes obrigando os jogadores a ficarem fechados num hotel pelo menos dois dias antes de um jogo. 

    Com o sucesso da "revolução" interna. Sócrates e os seus colegas percebem rapidamente o verdadeiro alcance e o impacto que a Democracia Corinthiana pode ter num Brasil amordaçado. 
     
    «Diretas Já!»
     
    Incentivados pelos jogadores, os adeptos tornam-se no veículo da palavra corinthiana. Os Gaviões da Fiel, maior torcida do país, levam as palavras de ordem da «democracia corinthiana» pelos campos do Brasil. 

    Sem imaginar, as autoridades abriam uma brecha ao darem autorização para que a  Federação brasileira de futebol (CBF) autorizasse o patrocínio nos equipamentos. O Corinthians de Sócrates aproveita a oportunidade e estampa orgulhosamente a palavra Democracia no peito. A palavra viaja pelos relvados do Brasil, levando a nova aos quatro cantos do país.
     
    O movimento "diretas já!" pedindo eleições e o fim da ditadura alastra. Os militares percebem que é tempo de deixar a História correr o seu fio... Em novembro de 1982, o timão entra em campo com “No dia 15, vote" inscrito na camisola, apelando ao voto da população. As eleições decorrem naturalmente e o Brasil caminha a passos largos para a democratização.
     
    A «democracia corinthiana» tinha cumprido o seu papel e despediu-se após a conquista do bicampeonato paulista. Nessa noite, Sócrates e os seus colegas entram em campo com uma faixa onde se podia ler: “Ganhar ou perder, mas sempre com democracia.” 

    A importância do movimento junto dos intelectuais brasileiros e da oposição não se refletiu dentro do relvado. Durante esses anos o Corinthians apenas venceu o Paulista em 1982 e 1983. Sócrates seria convidado pela Fiorentina e acabou por partir para Itália, mas a mensagem tinha vencido e o Brasil 
     
    Desde 1982 que a contestação faz com que os militares encontrem dificuldades para manter-se no poder. As eleições diretas para os governadores dão a vitória à oposição em dez estados, incluindo São Paulo, o Rio de Janeiro e Minas Gerais.
     
    O fim do regime
     
    A possibilidade de eleições diretas para a Presidência da República mobilizava a opinião pública.  A Emenda à Constituição seria rejeitada, mas depois da subida ao poder de Tancredo Neves, o caminho para a democracia tornou-se incontornável. 

    A hiperinflação deixava o país em "suspenso". Obras paralisadas, um estado com problemas de liquidez e dificuldades de pagamento tornavam a situação insustentável. Era o estertor do regime...
     
    A 8 de maio de 1985, o congresso aprovava uma emenda constitucional que punha um fim na ditadura. Entre as medidas aprovavas contava-se a eleição direta para presidente, o direito de voto para os analfabetos, a legalização de todos os partidos, entre eles o comunista. A democracia voltava ao Brasil
     
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    (1) O governo da ditadura militar durou até 15 de março de 1985. O regime acabou quando José Sarney assumiu a presidência, o que deu início ao período conhecido como Nova República.

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