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Roger Milla: o goleador sorridente

Texto por João Pedro Silveira
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Corria o ano de 1988, Roger Milla tinha já completado o seu 34º aniversário. Em Yaoundé, capital dos Camarões, realiza o seu jogo de despedida e parte rumo às Ilhas Reunião, um pequeno arquipélago no Índico, onde pretendia terminar a carreira em ritmo de brincadeira e abraçar a pré-reforma. 

O jogo de despedida fez parte de um conjunto de atividades e partidas de futebol, denominadas de Jubilé Roger Milla, forma que o país encontrou de celebrar o 25.º e último ano da carreira do jogador.
 
O evento culminou num grande jogo disputado pelos amigos e colegas de Milla, que teve lugar no Stade Omnisport de Yaoundé, a 2 de janeiro de 1988 perante 110 000 espetadores. Milla saiu ovacionado do campo, proferiu palavras emocionadas e dias depois partiu para Reunião...
 
Tudo corria bem para o veterano avançado, descansando na idílica Ilha de Reunião da pressão dos grandes jogos, jogando no modesto JS Saint-Pierroise, quando um telefonema dos Camarões lhe lança um repto. O próprio presidente do país pedia ao avançado que regressasse aos relvados por mais um mês, para ajudar os leões indomáveis no Campeonato do Mundo que se ia realizar nesse verão em Itália. O avançado aceitou sem pensar muito e o resto, como se convencionou dizer, foi história...
 
«Pouca terra, pouca terra...»
 
Mas a história começou antes, muito antes, pelas longas viagens nos poeirentos caminhos-de-ferro da então colónia anglo-francesa dos Camarões.
 
Foi no país africano, mais precisamente na populosa e barulhenta Yaoundé, que nasceu Roger Milla, humilde filho de um ferroviário, que por culpa do itinerante emprego paterno, passou a infância a mudar de casa, de cidade em cidade, de escola em escola, de descampado em descampado, como um prenúncio do que viria a ser a sua carreira, também ela pontuada de altos e baixos, de apeadeiros obscuros e estações gloriosas.
 
Uma estrela local
 
Jogando primeiro no Eclair de Doula, um clube da segunda maior cidade do país e depois no Leópard, chegou à seleção camaronesa em 1973. Os seus sucessos no campeonato local e nas competições africanas de clubes ou com a camisola verde dos leões indomáveis atraíram a atenção da crítica e não admirou ninguém que no ano seguinte fosse eleito o melhor jogador do continente.
 
A  sua carreira parecia estar lançada seguindo-se o esperado salto para a capital, onde jogou pelo histórico Tonnerre Yaoundé. Os muitos golos marcados levaram-no para França, onde no modesto Valenciennes não fez história. Saltaria depois para o Monaco e a seguir para ilha da Córsega onde jogou no Bastia, novamente sem grande sucesso.
 
Mudou-se para Saint-Étienne, jogou ainda no Montpellier. Sem nunca marcar a diferença, com uma carreira modesta e sem grandes sucessos ou títulos conquistados, a história de Milla não teria lugar aqui, não fossem os campeonatos do mundo...
 
Primeira presença no mundial
 
Em Espanha (1982) os Camarões estreavam-se em fases finais e conseguiam uma prestação que surpreendeu o mundo: um empate com o Peru na estreia (0x0), seguiu-se novo empate sem golos, desta feita com a Polónia (que seria terceira) e por fim outro empate a uma bola frente aos favoritos italianos (que viriam a conquistar o troféu).
 
Sem derrotas, os Camarões ficavam pelo caminho devido à diferença de golos, deixando uma bela imagem e mostrando ao mundo um guarda-redes de classe: Nkono. Milla brilhava, mas os capítulos mais importantes da sua história ainda estavam por vir...
 
A glória em Itália
 
Em 1990, uma vez aceite o repto do presidente, fez parte da equipa comandada por Valeri Nepomniachi. Num grupo difícil, no qual contavam com a forte oposição do campeão do mundo (Argentina), do vice-campeão europeu (URSS) e da Roménia, os leões indomáveis entraram com uma vitória por 1x0 em San Siro sobre a Argentina, no jogo de abertura.
 
Na segunda partida conseguiram nova vitória, desta vez sobre a Roménia (2x1), com dois golos de Milla, que valeram a passagem aos oitavos onde iriam defrontar a Colômbia.

Antes do jogo decisivo, uma derrota por 0x4 contra a URSS no último jogo não mudou nada na classificação do grupo: camaroneses em primeiro, soviéticos no último lugar.
 
Nos oitavos em Nápoles, no San Paolo, o jogo épico do futebol camaronês. Noventa minutos tensos sem golos e sem deslumbre de um provável vencedor. Os Camarões tão perto de serem a primeira equipa africana a chegar aos quartos-de-final de um mundial.
 
Só na segunda parte do prolongamento é que uma jogada individual de Milla consegue desatar o nó. Após combinação com Omam-Biyik, Milla fura a linha defesa contrária e dispara a bola para o canto superior direito da baliza colombiana. 1x0!
 
Minutos depois o guarda-redes dos sul-americanos, René Higuita, tenta fintar Milla e perde a bola. Com um sorriso nos lábios, o avançado camaronês corre para a baliza deserta e carimba a passagem dos Camarões para os quartos...  Festeja junto à linha, dançando a Makossa, a dança nacional, numa imagem que correu mundo. 2x0. O jogo estava ganho e nem o golo colombiano impediu os camaroneses de fazerem a festa.
 
Seguiram-se os quartos-de-final, onde o sonho camaronês acabou às mãos da Inglaterra, num épico e frenético jogo que só foi decidido após prolongamento com vitória final a sorrir aos britânicos por 3x2.
 
E a história não acabou
 
Depois voltou para a casa onde durante quatro anos encantaria os adeptos do Tonnerre Yaoundé. Voltaria à seleção a pedido do técnico francês Henri Michel para jogar mais uma vez num Mundial, desta vez nos Estados Unidos.
 
Muitos criticaram a escolha, talvez por consequência disso, Milla nem saiu do banco no jogo de estreia, que terminaria com um empate a duas bolas com a Suécia. No segundo jogo, acabou por entrar no decorrer da segunda parte, tarde demais para ajudar a impedir a derrota por 0x3 com o Brasil.
 
No último jogo, numa tarde de sol na californiana São Francisco, perante um Stanford Stadium lotado, Roger Milla começou no banco e viu a Rússia chegar ao intervalo na frente com um hat-trick de Oleg Salenko.
 
Henri Michel lançou então Roger Milla na segunda parte e quase na primeira vez que tocou na bola, no primeiro minuto do segundo tempo, marcou o 1x3 para os Camarões, tornando-se aos 42 anos o jogador mais velho a marcar um golo num mundial, precisamente no mesmo jogo em que do outro lado do campo, o russo Salenko se tornava o primeiro jogador a marcar cinco golos numa partida.
 
O resultado foi memorável (1x6), Salenko fez história e Milla festejou pela última vez, dançando a Makossa junto à linha de canto, enquanto esboçava o seu inconfundível sorriso. O seu lugar na história do jogo estava marcado...
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Roger Milla (CMR)
Roger Milla (CMR)
Comentários (3)
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motivo:
JE
Milla
2016-08-23 12h20m por jeje
loooool
JE
Roger Milla
2016-08-23 12h19m por jeje
Jogador medíocre, não merece estar nesta secção de história
EV
Milla
2012-01-20 18h30m por evolva
Grande Roger Milla!

Lembro-me perfeitamente de o ver festejar junto à bandeirola de canto no Mundial Itália 90.

Depois ainda foi ao mundial de EUA 94 já com 40 anos.

Agora com 58 anos ainda nos fez recordar com o seu sorriso desdentado no anúncio da Coca-cola.

Inegávelmente umas das maiores figuras de sempre do futebol Africano.
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