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    Euro 1968

    Euro 1968: A consagração da «Squadra Azzurra»

    Texto por João Pedro Silveira
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    Ano de todas as mudanças

    Depois de 1967 ter marcado o auge da cultura hippie, com epicentro na cidade de São Francisco, o «Verão do Amor» tomou conta dos parques das principais cidades norte-americanas e europeias, espalhando mensagens de amor, paz e liberdade. 1968 virou uma página da história com todas as tensões sociais, políticas e geracionais acumuladas durante a década a resultarem em confrontos e manifestações de dimensões nunca antes presenciadas nas democracias do mundo ocidental.

    Florença foi uma das três cidades italianas onde se realizaram partidas na fase final do Euro 68.
    Janeiro de 1968 marca a chegada de Alexander Dubček ao poder na Checoslováquia, iniciando-se o processo que tencionava liberalizar o regime checoslovaco, conhecido como a «Primavera de Praga», processo que seria esmagado já no fim do Verão pelos tanques soviéticos e dos restantes membros do Pacto de Varsóvia.
     
    Protestos estudantis e revoluções para todos os gostos
     
    Em março foi a vez da Itália «acordar» para as manifestações estudantis e em maio os protestos chegaram à Sorbonne (Universidade de Paris), alastrando rapidamente a toda a cidade, contagiando outras regiões do país, colocando em xeque o regime do General De Gaulle. Era o Maio de 68, o mês de todas as utopias revolucionárias, em que os ventos da revolução sopravam em todas as direções, enquanto a juventude e uma certa esquerda europeia tentavam emular os sucessos da «Revolução Cultural» chinesa de Mao Zedong.
     
    Maio de 68 em Paris, o auge do movimento estudantil, no ano de todos os protestos.
    Nos E.U.A. as tensões atingiam novos níveis com os protestos contra a Guerra do Vietname e o assassinato de Martin Luther King - líder do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. 
     
    A cultura acompanhava os ventos da história: no cinema o «No Calor da Noite» abria os olhos do mundo para as tensões raciais no sul dos E.U.A., Anne Bancroft (Mrs. Robinson) seduzia um jovem Dustin Hoffmann na «Primeira Noite» e as aventuras de «Bonnie e Clyde» seduziam as plateias do planeta. Na música eram os nomes de Simon & Garfunkel, os Doors, Jimi Hendrix e os Velvet Underground que conquistavam a crítica, mas era o «Álbum Branco» dos Beatles que mostrava os diferentes caminhos que o Rock iria prosseguir na década seguinte...
     
    A bola como denominador comum
     
    No meio das convulsões e dos confrontos, na revolução dos costumes e na vitória da cultura popular, o futebol, manifestação comunitária por excelência, não perdeu o seu lugar. Burgueses e revolucionários, capitalistas e comunistas, jovens e velhos, todos esqueciam as suas divergências dentro das quatro linhas... 
     
    Bom exemplo dessa união nacional vivia a seleção inglesa, campeã do mundo, que sem pejo se assumia como uma das grandes candidatas à vitória final juntamente com os espanhóis, soviéticos, italianos e os estreantes da Alemanha Ocidental.
     
    Com todos os grandes do futebol europeu a marcarem presença na prova, a qualificação foi disputada pela primeira vez com uma fase de grupos de onde viriam a emergir as oito equipas que disputariam os quartos-de-final da competição.
     
    A Espanha, campeã europeia, superou a oposição dos checoslovacos no grupo 1, enquanto no grupo 2, os vizinhos portugueses - terceiros classificados no mundial de 1966 em Inglaterra - caíram às mãos da Bulgária, a quem haviam vencido um ano antes no mundial disputado em terras de Sua Majestade.
     
    URSS em frente, Alemanha afastada
     
    Cartaz alusivo ao confronto que opôs ingleses e espanhóis, nos quartos-de-final da competição.
    No Grupo 3 os soviéticos passearam a sua superioridade, enquanto no grupo 4 a estreante R.F.A. foi surpreendida com um empate a zero em Tirana e viu-se ultrapassada pela Jugoslávia na classificação.
     
    Com mais ou menos facilidades, húngaros, franceses e italianos também passaram à fase seguinte onde se juntaram à Inglaterra, que vencera o grupo "britânico" em que as partidas contaram também para o British Home Championship.
     
    Quartos-de-final
     
    Os quartos-de-final disputados a duas mãos confirmaram os prognósticos: os italianos superaram os búlgaros, enquanto os jugoslavos bateram uma França que se encontrava longe dos tempos áureos de Fontainne e Kopa.
     
    Os soviéticos confirmaram a sua vocação para o Campeonato da Europa virando o 2x0 sofrido em Budapeste com uma vitória clara por 3x0 na segunda mão no Estádio Lenine em Moscovo.
     
    No grande embate dos quartos-de-final que opunha os campeões europeus contra os campeões mundiais, os ingleses superiorizam-se com uma dupla vitória: 1x0 em Wembley e 2x1 no Santiago Bernabéu.
     
    La Bella Italia
     
    A terceira edição do Campeonato Europeu de Futebol teve lugar em Itália. O Bel Paese engalanou-se para receber os grandes da Europa. Nápoles, Florença e Roma foram os palcos eleitos da competição.
     
    Os onze heróis da Squadra Azzurra, momentos antes da grande final contra a Jugoslávia.
    A jogar em Nápoles, sob a omnipresença do Vesúvio, a Squadra Azzurra deu o pontapé de saída contra a U.R.S.S.. Num jogo tenso, a superioridade tática das defesas superou a eficácia dos ataques e o jogo terminou empatado, sendo à luz dos regulamentos da competição decidido pelo lançamento da moeda ao ar. Os deuses da fortuna agraciaram os anfitriões e a Itália seguiu o caminho para a final no Olímpico de Roma impedindo os soviéticos de atingirem a sua terceira final consecutiva.
     
    Nessa mesma noite, o Comunale de Florença assistiu a uma vitória sofrida da Jugoslávia sobre a Inglaterra. Um golo de Džajić ao octogésimo sétimo minuto deixou os campeões do mundo fora da grande final.
     
    Na tarde de 8 de Junho os ingleses venceram os soviéticos com golos de Bobby Charlton e Geoff Hurst, o que não deixou de ser fraca consolação para os campeões do Mundo. Mais tarde pelas 21:15, no mesmo estádio, italianos e jugoslavos encontraram-se para a grande decisão. Džajić voltou a marcar deixando os jugoslavos na frente à passagem do minuto 32.
    Giacinto Fachetti, il capitano, ergue a Taça Henri Delaunay, o troféu que consagra os campeões da Europa.
    Os jugoslavos defenderam com mestria, segurando os ataques transalpinos. O relógio corria e os italianos e viam-se e desejavam-se para dar a «volta ao texto».
     
    Apenas aos 80 minutos, o avançado interista Alvaro Domenghini conseguiu restabelecer a igualdade, levando a partida para o prolongamento, onde o contudo o empate prevaleceu, deixando tudo adiado para dois dias depois, no mesmo palco...
     
    E a Itália volta a conquistar um troféu
     
    A 10 de Junho a Cidade Eterna acordou confiante que chegara o grande dia em que o futebol italiano iria reviver os sucessos dos anos 30.
    Todo um país empurrava a Squadra Azzurra para o sucesso e a esperança cobria a Itália de Udine a Brindisi...
     
    Guiados pelo capitão Facchetti, pela magia de Riva, Rivera e Mazzola, os italianos agarraram a oportunidade com as duas mãos.
    Ao golo madrugador de Riva, somou-se o de Anastasi e os jugoslavos não tiveram mais forças para lutar. A Itália conquistava o seu campeonato europeu e tornava-se a primeira seleção do continente a somar o cetro europeu ao cetro mundial.

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