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    México 1970

    México 1970: O futebol passou a ter um Rei

    Texto por Filipe Ferreira
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    Em 1970 o mundo viu provavelmente a melhor equipa da história dos mundiais: Rivelino, Carlos Alberto, Tostão, Jairzinho, Gerson, Pelé…

    Rei Pelé

    Se é certo que foi o mundial do Brasil, acima de tudo foi o mundial da coroação de Pelé como o Rei do Futebol.

    Pelé foi enorme. Mágico. Sublime. Maravilhou espectadores de todas as idades, maravilhou os adeptos mexicanos e todos os milhões que acompanharam os jogos pela televisão que pela primeira vez transmitiu um mundial inteiramente a cores.

    Não deixa de ser curioso que os adeptos do futebol quando recordam o mundial de 1970, mais que se lembrarem de um grande golo de Edson Arantes do Nascimento, recordam sim, dois “quase golo” que por não terem entrado, tornaram-se momentos lendários da história do Futebol.

    O primeiro “quase golo” aconteceu no jogo de estreia frente a Checoslováquia (4-1).

    Quando o marcador indicava 1-1  Pelé recebe a bola sobre a linha de meio campo, vê que o guarda-redes checo Victor está adiantado e tenta um monumental chapéu, o mundo sustem a respiração e vê a bola que passa a centímetros do poste, confirmar o mais belo “quase golo” da história do mundial.

    O segundo quase golo acontece no segundo jogo do mundial, frente a Inglaterra, Campeã do Mundo em título.

    Num lance famosíssimo, Pelé acorre a um fantástico cruzamento da direita da autoria de Jairzinho e cabeceia com força, de cima para baixo - como mandam as regras - para o canto da baliza defendida pelo guarda-redes inglês Gordon Banks, mas este voa para a sua direita, fazendo aquela que é já foi repetidamente considerada como a melhor defensa de sempre e defende o indefensável, enquanto muitos brasileiros, entre eles Pelé, já gritavam golo. Bobby Moore capitão inglês, no momento de congratular Banks, saiu-se com uma tirada já imortal: “Havia necessidade de ceder canto?”

    O Brasil seguiria em frente com uma vitória sobre a Roménia por 3-2, vencendo todos os jogos do Grupo 3, que fora considerado à partida como o grupo da Morte. Os campeões do mundo carimbaram o segundo lugar ao vencerem checos e romenos pelo mesmo resultado (1-0).

    Anfitriões quebram malapata

    No Grupo 1 a equipa da casa convenceu, ao vencer o grupo apesar do empate a 0-0 com a URSS, que ao vencer os belgas por 4-1 garantiu a segunda posição. Pelo caminho além da Bélgica ficou também o estreante El Salvador. O México seguia em frente para a segunda fase pela primeira vez na história da competição

    O regresso de Itália e Uruguai

    Dois ex-Campeões do Mundo disputavam a vitória no grupo 2: Uruguai e Itália. Pela frente encontravam a Suécia, regressada aos grandes palcos, após 12 anos de ausência e os estreantes israelitas.

    Seria apenas com um golo marcado que a squadra azurra venceria o grupo. A uma vitória por 1-0 contra os suecos na estreia, sucederam-se dois empates, que garantiram a vitória na poule. O Uruguai, não obstante ser derrotado pela Suécia (0-1), ao vencer Israel por 2-0 garantiu a segunda vaga. Por último convém destacar a estreia promissora dos israelitas que empataram com suecos e italianos, deixando uma boa imagem do seu futebol. Mas o grande destaque ia para italianos e uruguaios, que fariam do mundial mexicano a sua melhor prestação em décadas.

    Alemanha e Peru

    Por fim no grupo 4 a Alemanha confirmou todo o favoritismo que lhe tinha sido atribuído vencendo respectivamente o estreante Marrocos (2-1), a Bulgária (5-2) e o Peru (3-1).

    Em segundo lugar ficaram os peruano, que comandados pelo grande Cubillas venceram marroquinos e búlgaros, demonstrando um futebol bem trabalhado e com jogadores muito técnicos. 

    Adios Mexico, Adios Peru

    Chegados aos quartos de final e sem surpresas, os grandes favoritos continuavam em prova. A Itália e o Brasil defrontaram os outsiders México (4-1) e Perú (4-2) e confirmaram o favoritismo com que partiram para os embates.

    Nos dois grandes jogos dos quartos de final, o Uruguai venceu a URSS por 1-0 após prolongamento, enquanto numa verdadeira final antecipada os finalistas do mundial de 66 tiveram que ir a tempo extra para decidir quem seguia para as meias-finais. Dezasseis anos depois de terem chegado às meias-finais na Suíça, a Celeste Olímpica voltava a estar entre as quatro melhores do Mundo. 

    Bye Bye England

    Os alemães vingaram Wembley e eliminaram os ingleses por 3-2 após prolongamento, recuperando por duas vezes da desvantagem. O golo de Müller, aos 108 minutos, levou à loucura os adeptos no Estádio Nou Camp em León. A animosidade do público mexicano para os campeões do Mundo foi uma constante ao longo da prova. 

    Nas meias-finais dois derbies continentais. No encontro entre gigantes da América do Sul o Brasil venceu o Uruguai por 3-1 e carimbou a presença para o grande jogo no Estádio Azteca na Cidade do México.

    O jogo do século

    O dérbi europeu entre a Itália e a Alemanha foi um dos jogos mais fantásticos da história. A Itália tomou a liderança aos 8’ por Bonisegna, jogador do Inter de Milão. Os alemães dominaram a partida, e tentaram furar a muralha transalpina até ao intervalo, mas sempre em vão.

    Na segunda parte o pressing germânico empurrou os italianos lá para trás. Mas o catennacio transalpino não cedeu e com o avançado da Fiorentina De Sisti e a estrela maior do Cagliari Riva na frente, a defesa alemã não podia descansar.

    O jogo foi se arrastando e quando menos se esperava, aos 90’ Schnellinger, bateu Albertosi, keeper também ele do Cagliari, e levou o jogo para prolongamento.

    Depois foram quinze minutos de loucura. Primeiro foi Müller a dar a volta ao resultado (94´), mas de pronto reagiu a itália e em 6 minutos deu a volta.

    Contudo, ainda antes do intervalo, aos 110’ Müller igualou a 3-3. E quando muitos pensavam que ficava por aqui a bola foi ao centro e a Itália na resposta marcou por Rivera.

    Na segunda parte não houve golos e a Itália qualificou-se para a final vencendo uma Alemanha que vendeu cara a derrota, como tão bem ilustra a imagem do capitão Franz Beckenbauer a jogar com o braço ao peito.

    Tricampeões

    A verdade é que após esta vitória épica a Itália chegou exausta ao grande jogo, para defrontar um Brasil diabólico que jogava um futebol de outro mundo.

    Pelé abriu as hostilidades e a Itália ainda reagiu por Bonisegna aos 37’, mas na segunda parte não havia catennacio que parasse o rolo compressor brasileiro.

    Com o futebol apoiado e a toda a largura do relvado os canarinhos deram show de bola, e os golos foram surgindo naturalmente: Gerson aos 66’, Jairzinho aos 71’ e para finalizar uma jogada soberba, onde a bola a tocada por oito jogadores do Brasil termina no fundo das redes italianas após um fabuloso remate cruzado da direita do capitão Carlos Alberto.

    4-1! O Brasil era Tricampeão mundial e a Taça Jules Rimet finalmente tinha dono.

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