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    Lazio

    Texto por Francisco Paulo Carvalho
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    O dia 9 de janeiro de 1900 marca a fundação da Società Sportiva Lazio, comummente designada apenas por Lazio pelos adeptos de futebol. Nascida no distrito de Formello, na região do Lácio – que dá nome ao clube -, Roma, a Lazio é hoje um dos clubes com mais títulos na história do futebol italiano.

    Tudo começou na Piazza della Libertà (Praça da Liberdade), no bairro Prati da capital romana, numa altura em que tinham finalmente terminado as obras na Ponte Marguerita, que ligava a Praça do Popolo à tal Piazza della Libertà. Aí, juntaram-se nove jovens - Luigi Bigiarelli, um oficial inferior do "Bersaglieri" (corpo do exército italiano), Giacomo Bigiarelli, Odoacre Aloisi, Arturo Balestrieri, Alceste Grifoni, Giulio Lefevre, Galileo Massa, Alberto Mesones e Enrico Venier – que decidiram fundar um novo clube nesse bairro. Ainda hoje, existe uma placa naquela praça com o nome dos nove fundadores do clube.

    O plano inicial destes nove jovens era que o clube se chamasse Società Podistica Romana: O nome Lazio era apenas um plano de reserva, uma vez que no ano anterior a Società Ginnastica Roma (um outro clube da capital) havia vencido um torneio de futebol e estes não queriam ter problemas relativos à nomenclatura. Contudo, acabou por ser o eleito.

    Luigi Bigiarelli destaca-se entre os fundadores @S.S. Lazio
    Os seus nove fundadores eram desportistas e, inicialmente, o foco do clube eram desportos como a canoagem e a natação – face à proximidade ao rio -, no verão, ou a corrida, no inverno. Quando chegou a altura de se realizar a corrida de Roma, os nove fundadores viram-se obrigados a criar uma empresa, uma vez que as regras ditavam que os participantes pertencessem a uma. Foi aí que se começaram a estabelecer as verdadeiras bases da Lazio.

    Durante largos dias, os nove jovens tentaram decidir o nome, os objetivos, a sede as cores e até o dinheiro que seria necessário para iniciar a sua empresa. Aqui, Luigi Bigiarelli assumiu um papel de liderança e começou a comandar as suas tropas rumo ao objetivo comum de criar definitivamente o clube e empresa Lazio. Por apenas uma lira – moeda utilizada em Itália entre 1861 e 2002, até à introdução do Euro -, adquiriram a sede do clube, estabelecendo a casa do clube por largos anos.

    A escolha da águia deveu-se a este animal ser o símbolo das legiões romanas e representação de Zeus, Deus grego. Os primeiros equipamentos usados pela Lazio eram brancos e pretos, mas a partir de 1904 a formação romanda abraçou o branco e o azul celeste, cores que perduram até aos dias de hoje, inspirados na Grécia, sede dos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna.

    Criação da equipa de futebol

    A empresa foi criada e a corrida de Roma foi um sucesso, mas estes jovens atletas tiveram sucesso nas restantes modalidades que praticavam e optaram por expandir as suas áreas. Em 1901, Bruto Seghettini trouxe o futebol para a Lazio, explicou as regras do desporto nascido em Inglaterra e que começava a causar burburinho pela Europa, especialmente em França, onde era já bastante popular. Seghettini era sócio e jogador do Racing Club Paris, de França, e tinha fundado o Audace Club Podisitico, ironicamente um dos clubes que levou à fundação da AS Roma em 1927, o grande rival da Lazio.

    Em 1902, a Lazio realizou os seus primeiros jogos de futebol contra o Veloce Club Podistico e o Forza e Coraggio, havendo ainda registo de um duelo contra uma equipa de seminaristas escoceses que, por ocasião, se encontravam na capital italiana. A 15 de maio de1904, embora não de forma oficial, realizou-se, na Piazza d’Armi, aquele que é considerado como o primeiro dérbi de Roma, com a Lazio a vencer o Club Sportivo Virtus – nascido de uma cisão na direção da Lazio – por 3x0 com um hat-trick de Sante Ancherani.

    As primeiras equipas da Lazio @S.S. Lazio
    Em 1907, embora não de forma oficial, as duas equipas voltaram a defrontar-se para decidir quem era o campeão de Roma, com a Lazio a sair novamente vitoriosa. Contudo, em 1910 a Lazio estabeleceu oficialmente a sua secção de futebol e entrou no também ele oficial campeonato de Roma, já reconhecido pela Federazione Italiana Giuoco Calcio (FIGC), que começou a ser organizado nesse ano.

    Nos primeiros três anos (até 1912), a Lazio venceu os três primeiros campeonatos romanos e mostrou estar pronta para voos mais altos, mas apenas em 1912/13 foi permitido ao campeão de Roma disputar o campeonato nacional italiano, que juntava os campeões das várias regiões. Até aí, as primeiras edições apenas contavam com a presença de equipas do norte do país.  A Lazio foi conseguindo manter o domínio em Roma, mas a nível nacional teve mais dificuldades. Por três vezes conseguiu chegar à final do play-off do campeonato nacional (1913, 1914 e 1923), mas acabou sempre por perder para os gigantes do norte de Itália (Pro Vercelli, Casale e Genoa, respetivamente).

    O final da década de 1920 estabeleceu o futebol como um dos principais interesses nacionais a nível desportivo e fomentou a que fosse criada uma liga única, criando-se, assim, o campeonato italiano como é hoje conhecido. A Lazio esteve presente na primeira edição, em 1929, e conseguiu o seu melhor resultado pré-II Guerra Mundial em 1937, quando, liderada pelo lendário avançado Silvio Piola conseguiu um 2º lugar.

    Nascimento da maior rivalidade

    Durante os seus primeiros anos de existência, a Lazio conseguiu dominar e ser o principal porta-estandarte de Roma ao nível do futebol, mas nunca o suficiente para acabar com o domínio dos gigantes do Norte do país. Por isso mesmo, em 1927, Italo Foschi, um secretário do Partido Fascista, iniciou um processo de fusão de três clubes romanos: o Roman FC, o SS Alba-Audace e o Fortitudo-Pro Roma SGS, com o objetivo de dotar a «Cidade Eterna», e capital do país, de um clube capaz de rivalizar com os potentados futebolísticos do norte de Itália. 

    A Lazio seria o único clube a escapar à fusão graças à intervenção do General Vaccaro, diretor dos laziale, que conseguiu mover as suas influências no regime, para a Lazio não ser incorporada no novo clube romano.

    Rivalidade com a Roma é histórica @Getty / Grazia Neri
    Enquanto todos os clubes de Roma se uniam na nova equipa a Lazio parecia ficar fora da cidade onde nascera... Aos poucos a cidade apaixonava-se pelo novo clube e os adeptos da Lazio refugiavam-se fora da cidade. Desde então, um dos desígnios da Lazio é voltar a conquistar o coração da cidade em que nasceu.

    Desde aí, a rivalidade entre Lazio e Roma e a luta pelo domínio da capital italiana tem vindo a crescer e adquiriu desde cedo até contornos políticos – conheça melhor a história desta rivalidade -, com a Lazio e os seus adeptos a serem desde cedo conotados à extrema-direita devido ao apoio que deram a Benito Mussolini, pai do fascismo italiano, e a este tipo de movimento antidemocráticos em várias ocasiões. Além disso, os ultras da Lazio tiveram vários episódios de antissemitismo e racismo ao longo dos anos.

    Pós-Guerra de altos e baixos.

    Depois do final da II Guerra Mundial, o futebol, assim como a restante vida em sociedade, foi regressando ao ativo e à normalidade aos poucos e a Lazio teve algumas dificuldades para se destacar a nível interno nos primeiros anos. Apenas na década de 50 os resultados começaram a melhorar, embora com algumas oscilações, com o 3º lugar alcançado no campeonato italiano em 1956/57 a ser o melhor até então.

    Primeiro título chegou na década de 50 @S.S. Lazio
    O primeiro título da história do clube italiano apenas chegou, no entanto, em 1958, com a conquista da Taça de Itália. Depois de ultrapassar a rival Roma, o Valdagno, a Juventus e a Fiorentina na final (1x0), a Lazio conquistava o primeiro título da sua história. Fulvio Bernardini (o primeiro jogador de Roma a representar a seleção italiana) comandava a equipa, que contou com um inspirado guarda-redes e capitão Bob Lovati e o golo solitário de Prini.

    Contudo, depois dessa primeira conquista, a Lazio passou rapidamente por aquele que era o pior momento de sempre da sua história, até então, descendo à Serie B em 1961, apenas três anos após o seu primeiro título. Dois anos mais tarde o conjunto romano regressou à elite do futebol italiano, mas em 1966/67 voltou a descer. Dois anos na Serie B, regresso à Serie A em 1969 e nova descida no início dos anos 70. O pós guerra mostrou-se de emoções várias para os adeptos biancocelesti.

    O primeiro scudetto e tragédia

    Esse período de grande irregularidade pareceu terminar na década de 1970, quando a Lazio conseguiu ter finalmente melhores resultados mais regulares e começou com a conquista da Coppa delle Alpi. Com uma equipa que era comandada por Tommaso Maestrelli e que contava com estrelas como Giuseppe Wilson na defesa, Luciano Re Cecconi e Mario Frustalupi no meio-campo e Renzo Garlaschelli e Giorgio Chinaglia no ataque, a Lazio esteve perto do seu primeiro título de campeão italiano em 1972/73, mas acabou por falhar essa conquista na última jornada, ao perder com o Nápoles por 1x0.

    No entanto, na temporada seguinte a Lazio acabou por se «redimir» e conseguiu mesmo conquistar o primeiro título de campeão italiano da sua história. Num campeonato também ele disputado até às últimas, embora tenha estado sempre na liderança, a Lazio acabou com mais dois pontos que a Juventus e inscreveu o seu nome na história do futebol italiano. Jogadores como Pulici, Petrelli, Martini, Wilson, Oddi, Nanni, Chinaglia, Re Cecconi ou D’Amico ficaram marcados como lendas do clube, assim como Maestrelli e o presidente Umberto Lenzini (1966-1980).

    A alegria histórica acabou, contudo, por não durar muito. Os anos seguintes à conquista do scudetto foram caracterizados por várias dificuldades e tragédias. As mortes trágicas de Maestrelli e Re Cecconi, a mudança de Chinaglia para os EUA e a morte de um adepto da Lazio (Paparelli) nas bancadas marcaram um período onde a Lazio esteve afastada da luta pelos títulos e substitui-a pela luta pela manutenção, acabando mesmo por descer administrativamente à Serie B em 1980 como castigo do seu envolvimento no caso Totonero, onde uma série de clubes foi acusado de manipulação de resultados e ligação a apostas ilegais.

    Três anos na Serie B e a Lazio voltou ao principal escalão, fugindo a nova despromoção na última jornada do campeonato. Contudo, voltou a descer numa temporada onde terminou com apenas 15 pontos conquistados. Em 1986, a Lazio foi novamente envolvida num escândalo de apostas e viu ser-lhe retirados seis pontos devido ao envolvimento de Claudio Vinazzini, seu jogador. Nesse ano, a Lazio esteve muito perto de descer à Serie C, terceiro escalão do futebol italiano, mas acabou por conseguir escapar-se nos play-offs, ao vencer o Campobasso.

    Uma águia que renasce das cinzas

    Era difícil a Lazio ficar pior depois de tudo isto, mas a formação romana e os seus adeptos utilizaram todas estas adversidades e em 1988 conseguiram regressar à Serie A. Tudo mudaria em 1992, ano em que Sergio Cragnotti, romano de nascença e adepto da Lazio assumido, assumiu a presidência do clube.

    lCragnotii teve um importante papel @Getty /

    A partir daí, a Lazio mudou a sua forma de ver o mercado e foi investindo a longo prazo em jovens jogadores para tornar a equipa mais competitiva. O investimento foi grande e trouxe jogadores como Juan Sebastian Veron, Christian Vieri ou Hernán Crespo, que na altura custou cerca de 56,8 milhões de euros e se tornou, à data, a transferência mais cara na história do futebol.

    Os resultados surgiram em crescendo desde aí. 5º lugar em 1992/93, 4º em 93/94, 2º em 95/95 e em 1998/99 falhou a conquista do título por apenas dois pontos em relação ao campeão AC Milan., já era Sven-Goran Eriksson o treinador principal. O histórico treinador sueco liderou os romanos à conquista da Taça das Taças em 1998/99, ao bater os espanhóis do Mallorca por 2x1 e na época seguinte fez a dobradinha ao conquistar o campeonato italiano pela segunda vez na história da Lazio e a Taça de Itália (que já tinham vencido em 1998). Além disso, venceu a Supertaça Europeia, ao bater o Manchester United por 0x1. Uma temporada em grande na altura em que o centenário foi festejado.

    Fim do investimento e atualidade

    A era de ouro de Cragnotti acabou por durar pouco, no entanto, uma vez que o dirigente foi forçado a deixar o clube em 2002 devido a um escândalo financeiro que envolveu a sua empresa de produtos alimentícios e a Lazio foi obrigada a vender uma série das suas principais estrelas. O clube foi adquirido por um grupo de investidores e em 2004 foi adquirido por Claudio Lotito, que permanece na presidência do clube deste então. Nesse ano, Roberto Mancini também assumiu o comando técnico da equipa e até conseguiu vencer a Taça de Itália, mas nas restantes competições a Lazio passou por anos de maiores dificuldades e esteve afastado dos títulos alguns anos.

    A chegada de Lotito à presidência trouxe, progressivamente, maior estabilidade financeira e a formação italiana foi melhorando também desportivamente com o passar dos anos, logrando em vencer algumas Taças de Itália (2003/04, 2008/09, 2012/13 e 2018/19) e Supertaças italianas (2009, 2017 e 2019).

    Lazio é dos clubes italianos com mais títulos @Getty / Marco Rosi
    No campeonato, a Lazio tornou-se uma força a ter em atenção e isso levou a que lutasse constantemente pela presença na Liga dos Campeões ou na Liga Europa. Em 2019/20, a formação romana esteve um total de 21 jogos consecutivos sem perder na Serie A, batendo o anterior recorde (17) do clube. Nessa época, a Lazio chegou a estar na luta pela liderança, mas acabou em 4º lugar, uma das melhores classificações deste século (em 2014/15, 2006/07 e 2000/01 terminou em 3º).

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