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    Liga Europa 2011/12
    Grandes jogos

    Sporting x Manchester City: o calcanhar de Xandão

    Texto por Ricardo Miguel Gonçalves
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    Há eliminatórias que ficam para a história e, para um clube português, eliminar o milionário Manchester City, então líder e futuro campeão da Premier League, é certamente o tipo de feito que entra nessa categoria.

    Eternamente recordado por um calcanhar. Não de aquiles, numa referência aos leões como fraqueza inesperada de uma equipa composta por estrelas do futebol mundial, mas o calcanhar de Xandão, um defesa central de 23 anos que fez o seu primeiro e mais importante golo pelo clube enquanto a Europa via. Inesquecível.

    Ato 1: o calcanhar

    Recuemos a essa edição da Europa League, em 2011/12. O Sporting passara a fase de grupos em primeiro lugar, superando a concorrência da Lazio, os romenos do FC Vaslui e os suíços do Zurich, e antes de encontrar os cityzens nos oitavos de final ainda eliminou o Legia Warszawa, da Polónia, num agregado de 3x2. Já os ingleses, caíram na Liga Europa por terem feito menos um ponto que o Napoli e menos três que o Bayern no Grupo A da Liga dos Campeões. 

    Quando o sorteio ditou que haveria Manchester City em Alvalade, já havia um enorme asterisco, um aviso ao qual ninguém em Portugal era indiferente: a equipa de Mancini já eliminara o FC Porto na ronda anterior, com uma notável facilidade. Um agregado de 6x1, iniciado no Dragão (1x2) e aumentado em Inglaterra (4x0), arrasou uma equipa azul e branca que era campeã em título da mesma Liga Europa, mas também assustou um Sporting que já esperava tratamento semelhante.

    Chegou o dia e... surpresa! O Sporting de Ricardo Sá Pinto foi respeitador da dimensão adversária, mas também atrevido o suficiente para fazer algumas perguntas a Joe Hart, o guarda-redes titular do Manchester City e da seleção inglesa. Perguntou pelo tempo, na timidez inicial de quem ainda está a conhecer alguém fora da sua liga, mas foi ganhando confiança para perguntar também coisas mais complicadas, mesmo que a resposta fosse assustadora. O atrevimento de Capel, Matías, Wolfswinkel e companhia, protegido pela compostura e reação rápida de Rui Patrício.

    A caminho de uma vitória para relembrar @Carlos Alberto Costa

    qFoi o golo mais importante da minha carreira, sem dúvida
    Xandão
    Foi no início da segunda parte que o leão deixou a sua visita sem resposta, da forma que ninguém esperava que acontecesse. Xandão, defesa central brasileiro emprestado pelo Desportivo Brasil, fez história ao seu sexto jogo pelo Sporting - primeira titularidade nas competições europeias - e marcou um golo único. Um remate forte de calcanhar. Um verdadeiro coice, mesmo lá para dentro, depois de um livre de Matías Fernández que Hart defendeu para a frente.

    O Estádio José Alvalade explodiu, mas quando se esperavam 40 minutos de sofrimento até ao final, o Sporting conseguiu manter o equilíbrio e ainda ameaçou o segundo num par de ocasiões. Afinal, os nervos estavam guardados para a segunda mão...

    Ato 2: o pulmão

    Uma vitória por 1x0 em casa já foi motivo de festa, mas o apuramento ainda era uma realidade distante frente a uma equipa que, em 21 jogos em casa nessa temporada, registara 18 vitórias, um empate e duas derrotas. Apenas empatando com o Napoli e perdendo com Manchester United e Arsenal nas taças domésticas.

    Camisola 14 do Sporting foi importante @Carlos Alberto Costa
    O Sporting só precisava de um empate, ou então uma derrota pela margem mínima com golos, mas marcar no Etihad Stadium não se previa tarefa fácil... Até ser! Talvez «fácil» não seja a melhor escolha de palavras, mas a verdade é que o Sporting acabou por conseguir celebrar em Inglaterra, e nem sequer foi só uma vez.

    Foi pouco depois da marca da meia hora de jogo que um livre na meia esquerda deu a Matías Fernández uma chance de brilhar. O internacional chileno curvou a bola para além da barreira e fez o golo num lance em que Joe Hart se esticou ao máximo, mas só conseguiu tocar na bola com a ponta dos dedos. 0x1 no marcador e vantagem duplicada no agregado.

    Houve tempo para ainda mais um golo nessa intratável primeira parte, que deixou a equipa portuguesa com três golos de vantagem para a equipa que se sagraria campeã inglesa um par de meses depois. Foi o goleador da equipa, o neerlandês Ricky van Wolfswinkel, que apareceu ao segundo poste a finalizar depois de uma boa assistência do camisola 10, Izmailov. Por essa altura, os adeptos do Sporting já se imaginavam nos quartos de final da Liga Europa.

    Ato 3: o coração

    Três quartos da eliminatória disputados e o Sporting encontrava-se com uma vantagem confortável, mas os últimos 45 minutos estiveram à altura de tudo o resto. Ora, se o Sporting conseguiu marcar por três vezes em três partes, o Manchester City não precisou de muito tempo depois de pela primeira vez descobrir o caminho para a baliza.

    Leões foram até à meia-final @Carlos Alberto Costa
    Mancini lançou Nigel de Jong a intervalo, para tentar ganhar controlo no meio campo, mas quando isso não funcionou o técnico italiano não levou tempo a reagir. Aos 55 minutos, lançou Dzeko para o relvado e o volume ofensivo do City cresceu com a presença de um terceiro ponta de lança, quando já estavam em campo Aguero e Balotelli. Foi o internacional argentino, que já tinha marcado ao Sporting pelo Atlético Madrid na temporada anterior, quem quebrou finalmente a muralha defensiva verde e branca e reduziu o défice, ainda que a distância no marcador ainda fosse demasiada para percorrer em meia hora.

    Passaram mais cinco minutos e o Manchester City beneficiou de uma grande penalidade, que Balotelli converteu, e a oito minutos do apito final Aguero bisou no jogo, ao aparecer sozinho ao segundo poste depois de um desvio num pontapé de canto. Três golos em 22 minutos e o marcador marcava um 3x2 favorável aos ingleses. 

    A regra dos golos fora ainda beneficiava os leões, com o empate no agregado, mas os ânimos no Etihad cresceram consideravelmente e a tarefa de não sofrer mais nenhum golo não se previa nada fácil. Foi já nos descontos, no último lance do jogo, que os corações portugueses saltaram um batimento. Joe Hart subiu à área leonina num pontapé de canto. A defesa do Sporting sacudiu, mas a bola ainda estava viva e foi bombeada novamente para a área, onde apareceu o guarda-redes inglês pronto para fazer o raro.

    Hart cabeceou, forte, e gritou-se golo na voz dos adeptos da casa, tal como na de todos os comentadores pelo mundo responsáveis por narrar este duelo, mas Rui Patrício defendeu. Teria sido um final lendário no ainda curto folclore europeu do Manchester City, mas neste conto o herói era o leão. O Sporting seguiu em frente, e pelos adeptos portugueses ecoou a máxima: «dinheiro não compra história».

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    jogos históricos
    U Quinta, 08 Março 2012 - 18:00
    Estádio José Alvalade
    Velasco Carballo
    1-0
    Xandão 51'
    Estádio
    Estádio José Alvalade
    Lotação50095
    Medidas105 x 68 m
    Inauguração2003