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    Alessandro Costacurta: O Billy

    Texto por Ricardo Miguel Gonçalves
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    Ganhar a Liga dos Campeões é um momento que marca a carreira de qualquer jogador. Fazê-lo mais do que uma vez é começar a pairar sobre o estatuto lendário enquanto futebolista. Colecionar cinco medalhas da prova é, simplesmente, incrível e um feito que coloca Alessandro Costacurta numa elite muito restrita dos verdadeiros vencedores da história do futebol europeu.

    Foram 22 temporadas ao serviço de um AC Milan que, durante esse período, viveu os melhores momentos da sua história. Pelo clube não só venceu todas as provas que disputou pelo menos uma vez, como também escreveu o seu nome na história do belo jogo ao ser parte integrante de uma célebre linha defensiva.

    Pode não ser o nome mais aclamado do quarteto que contava, para além de Costacurta, com Maldini, Baresi e Tassotti, mas é certamente um nome que nenhum adepto rossonero esquece, pois não só foi um dos melhores da história na sua posição e, pelo menos, um quarto daquela famosa defesa, mas também um dos jogadores que mais vezes vestiu a camisola listada do clube de Milão.

    O nascer de uma defesa icónica

    Existe uma frequente associação da natureza do futebol italiano à qualidade defensiva do jogo. Essa ideia pode já nem ser verdade, devido à evolução do jogo e mistura das várias culturas futebolísticas do mundo, ou por ter sido produto de uma grande geração de técnicos focados na defesa, mas o que é inquestionável é que, para construir o catenaccio italiano, enquanto esse tão sublime jogo defensivo, é necessária alguma matéria prima: bons defesas.

    Conquistou tudo pelo Milan @Getty /
    Nascido em Varese, no dia 24 de abril de 1966, Alessandro Costacurta representa isso, precisamente. Não é o caso de um jogador que tenha começado como avançado, guarda-redes, ou qualquer outra posição que não aquela em que ganhou fama, mas sim o exemplo de um atleta que desde cedo encontrou a sua função e trabalhou ao máximo para melhor em todos os aspetos para melhorar a desempenhar.

    Foram muitos anos da juventude passados nas equipas jovens do AC Milan, o clube que amava. Era cotado como um defesa com bastante potencial, pois aquilo que não tinha de força física compensava com mobilidade e qualidade técnica, com e sem bola, o que também permitiu que se tornasse competente em qualquer posição na defesa, embora o centro fosse o lugar onde se destacaria.

    Chegou à equipa principal do Milan em 1985/86, depois de um período negro da história de um clube que se viu despromovido duas vezes ao segundo escalão no início dessa década. Nesse ano, apesar de se ter fixado no plantel sénior, não chegou a fazer a sua estreia, que só chegaria na temporada seguinte, quando jogou na Coppa Italia duas vezes antes de seguir para o Monza por empréstimo, naqueles que seriam os seus únicos jogos com uma camisola que não a rossonera.

    Fez muitos jogos ao lado de Maldini @Getty / Alex Livesey
    Depois de uma temporada na Serie C, Costacurta voltou a casa a tempo de presenciar o novo capítulo que começava em Milão. Chegou Berlusconi para a liderança e, com ele, para além de ambição, trouxe Arrigo Sacchi, um técnico que dispunha de todas as ferramentas para tornar o Milan numa potência mundial. Chegaria, nesse ano, aquele que seria o primeiro numa invejável lista de troféus: a Serie A. Tinha um enorme valor, mas Costacurta não tinha sido importante durante a conquista, com apenas sete jogos na competição, devido ao experiente Filippo Gallo que atuava na sua posição. 

    Chamavam-lhe "Billy", uma alcunha que originou na capacidade que o jovem italiano tinha para jogar basquetebol, sendo que essa era também a alcunha da equipa de Milão nessa modalidade. A alcunha foi ficando desde a juventude e continuou enquanto se fixava na linha defensiva de uma das melhores equipas do mundo, como foi o caso em 88/89, altura em que Sacchi lhe deu a titularidade.

    Abriu a época logo com a conquista da Supercoppa, num triunfo por 3x1 frente à Sampdoria, para além de 26 jogos na Serie A e a oportunidade de disputar pela primeira vez a Liga dos Campeões que, inevitavelmente, venceria.

    Os minutos iam-se acumulando, devido a essa versatilidade que tinha mas também por ser cada vez mais preponderante na equipa em comparação com Galli. Costacurta tinha-se já tornado um defesa experiente na altura em que Galli se reformou, exibindo sempre um grande nível em campo, onde as suas características eram as de um jogador completo. Com bola, tinha muita qualidade na sua distribuição, que se devia a uma técnica que não era qualquer defesa que tinha no seu arsenal. Era forte a nível tático, com capacidade para ler o jogo rapidamente e reagir, altura em que aplica as valências defensivas que lhe aclamaram como um dos melhores na história.

    Sozinho era um grande defesa. Mas foi quando formou o icónico quarteto com Maldini, Baresi e Tassotti, que Costacurta e toda a defesa do Milan se tornou verdadeiramente imbatível.

    Colecionador de troféus

    O ano de estreia na Serie A foi o ano do seu primeiro título dessa competição, tal como o ano seguinte em que se estreou na Champions League e, uns meses depois, era titular na final disputada em Barcelona frente ao Steaua, onde provou a glória europeia ao vencer os romenos por 4x0. Esse foi o momento em que Costacurta desenvolveu a sua insaciável fome de títulos que, como o futuro confirmou, não terminariam tão cedo.

    Seguiu-se uma nova conquista da Liga dos Campeões, a segunda consecutiva, depois da vitória por 1x0 frente ao Benfica e na qual Costacurta esteve envolvido no lance do único golo, começando a jogada decisiva. Esse ano viu ainda mais dois troféus internacionais, com as conquistas da Supertaça Europeia  frente ao poderoso Barcelona e a Taça Intercontinental frente ao Atlético Nacional.

    O último ano de Sacchi no clube viu a nova conquista da Supertaça Europeia e Taça Intercontinental, mas quando o célebre treinador abandonou o Milan para ir treinar a seleção italiana, Capello agarrou na equipa e continuou aquilo que já estava a ser feito: vencer.

    Com Fabio Capello, Costacurta manteve o seu estatuto num plantel diavolo que se revelava cada vez mais dominante. As primeiras três épocas com o novo técnico (91/92, 92/93 e 93/94) resultaram em três conquistas da Serie A, a primeira enquanto invencíveis, para além de duas Supercoppas e até mais uma Champions League. Costacurta conquistava assim, aos 28 anos, a sua terceira orelhuda, embora esta trouxesse um sabor amargo pois, infelizmente, o defesa central não pode jogar a final contra o Barcelona por suspensão, depois de um duplo amarelo na meia-final contra o AS Monaco.

    A Juve, campeã em 94/95, impediu aquilo que poderia ser o pentacampeonato rossonero, pois a equipa de Milão voltaria a conquistar a Serie A em 1996. Ainda assim, a glória desaparecia tão rapidamente como surgia. O tremendo sucesso com Capello foi igualado pela desilusão que assombrou o Milan após a saída do jovem treinador italiano. Uma derrota na Supertaça Italiana frente à Fiorentina marcou o início de dois anos tenebrosos que viram os rossoneri falhar o apuramento europeu com um 10º e um 11º lugar, num par de épocas que também viu alguns jogadores importantes pendurar as botas ou abandonar o clube, mas que precederam a nova conquista da Serie A em 1998/99. Esse foi o sexto campeonato italiano da carreira de Costacurta, que nessa altura integrava o trio defensivo implementado por Zaccherini, entre Maldini e Luigi Sala, mas infelizmente não marcou um retorno à forma anterior, pois os anos seguintes seriam, novamente, desapontantes.

    Foi alguns anos depois, já com o antigo companheiro de equipa Carlo Ancelotti no comando técnico, que os rossoneri se voltaram a fixar entre a elite futebolística. Nessa altura, já como um veterano no plantel, Costacurta voltou a integrar uma das melhores defesas do mundo , jogando ao lado de nomes como Nesta, Jaap Stam, Cafú e do sempre presente Maldini, mas a permanência de Billy não era uma garantia.

    Alessandro Costacurta
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    Em 2002, com 36 anos, Costacurta chegou a abandonar o clube após o final do seu contrato, motivado pelo desejo de jogar nos Estados Unidos enquanto estudava Economia. Esse desejo foi adiado quando várias lesões na linha recuada dos italianos motivaram o clube a contactar o seu vice-capitão com vista a uma renovação de contrato.

    Essa temporada viu Costacurta conquistar a Coppa Italia, o único troféu que lhe faltava, antes de disputar mais uma vez uma final da Liga dos Campeões, dessa vez frente à Juventus. A quarta tentativa teve o mesmo sucesso que as anteriores, e o AC Milan voltou a celebrar o maior título europeu depois de vencer os compatriotas nas grandes penalidades 

    Depois de alguns anos e uma última Serie A no currículo, Costacurta estava perto de terminar o contrato, aos 40 anos, quando surpreendentemente renovou por mais um ano. Nessa época, em 2006/07, completou o seu incrível palmarés com a quinta e última Liga dos Campeões, num ano em que se tornou o jogador mais velho de sempre a participar na prova.

    Símbolo rossonero

    Na verdade houve uma outra camisola durante a carreira de Costacurta, para além da rossonera e, durante um ano, a do Monza. Naturalmente, foi a da seleção italiana. 

    Mesmo com uma idade avançada não parou de ganhar troféus @Getty / Clive Mason
    Pela squadra azurra, o defesa central nunca chegou aos níveis de glória que alcançou pelo clube, ainda assim, foi presença assídua numa das melhores seleções durante uma década, onde totalizou 59 jogos e dois golos, o que para ele era um registo excepcional devido à fraca apetência para as redes adversárias.

    O maior momento pela seleção foi, também, o pior. Passou-se em 1994, no primeiro Campeonato do Mundo em que participou, onde Costacurta e a equipa italiana acumularam belíssimas exibições até chegar à meia-final na qual Billy viu um cartão amarelo que o deixou de fora do jogo decisivo. Quatro dias depois, na final frente ao Brasil, a Itália acabaria por perder nas grandes penalidades depois do infame penálti de Roberto Baggio.

    Apesar dessa desilusão pela equipa italiana, aquilo que marcou a carreira de Alessandro Costacurta foi, sem dúvida, os mais de 20 anos ao serviço do Milan onde, embora não seja o primeiro nome na lista dos melhores defesas da história, está certamente perto do topo.

    Foram 692 jogos pela equipa principal do clube no momento da reforma, aos 41 anos. Nesse período marcou apenas três golos, com um intervalo de 15 anos entre o segundo e o terceiro, que fez do defesa o jogador mais velho a marcar na Serie A, quando no dia 19 de maio balançou as redes frente à Udinese, naquela que foi a sua despedida do San Siro. Para a história fica o génio defensivo daquele que foi um dos maiores vencedores na história do futebol, com 23 títulos.

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    Alessandro Costacurta (ITA)
    Alessandro Costacurta (ITA)
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