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    História da edição

    Champions 05/06: Barcelona Joga Bonito

    Texto por Jorge Ferreira Fernandes
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    Poucos jogadores na história do futebol foram tão entusiasmantes, excitantes e percursores de uma nota artística do que Ronaldinho Gaúcho. O brasileiro que trazia samba para os relvados mostrou-se primeiro em grande na seleção brasileira, guardando para mais tarde a explosão nos clubes. No PSG, primeiro, numa liga não tão pujante e importante como a francesa, e, principalmente, no Barcelona, onde foi estrela-maior e rei entre muitos príncipes que iriam, nos anos seguintes, conquistar tudo e todos, como Xavi, Messi ou Iniesta. 

    A Champions de 2005/2006 foi a segunda grande vitória europeia da história do Barcelona, foi a explosão internacional de Arsenal de Wenger, foi o aparecimento de uma surpresa chamada Villarreal, mas foi, acima de tudo o resto, o palco de Ronaldinho, o extremo que levava tudo à frente e que provava que, afinal, era mesmo possível ganhar com arte, com brilhantismo, com uma liberdade suprema, com absoluta genialidade. 

    Finalistas no Stade de France, em Paris, Arsenal e Barcelona mostraram desde muito cedo, na fase de grupos, que estavam nesta Champions para fazerem história. Ambas as formações terminaram a primeira etapa com 16 pontos e sem qualquer derrota. Os londrinos bateram de forma clara a concorrência de Ajax, Thun e Sparta de Praga, os catalães ultrapassaram o Werder Bremen, a Udinese e os gregos do Panathinaikos. No meio de tanto equilíbrio, mais um dado curioso: o único empate das duas equipas foi uma igualdade a zeros. 

    Esta também foi uma Champions especial para o Benfica. Os encarnados, campeões nacionais em título, regressaram à Liga Milionária depois de seis anos de ausência e apanharam logo com o gigante Manchester United no seu grupo. O que a equipa de Koeman não contava era que o suposto concorrente direto iria superar todas as expetativas. O Villarreal de Pellegrini começou logo no início a surpreender, ao garantir a liderança do grupo e ao escrever uma história bonita que só terminaria nas meias-finais. O segundo lugar parecia destinado para os red devils, mas o Benfica queria ter uma palavra a dizer. O golo de Miccoli, na estreia, já nos descontos, acabou por ser decisivo, uma vez que os encarnados não voltaram a ganhar até à última jornada. O United foi escorregando e acabou por adiar a decisão para a Luz, onde só uma derrota recambiaria os ingleses para a Taça UEFA. Mesmo sem Simão, o campeão nacional foi valente, personalizado, acabando por garantir uma vitória decisiva e saborosa pela margem mínima, com Beto a fazer o papel de herói. Era a primeira grande noite europeia da Nova Catedral. 

    Se o Benfica até foi capaz de surpreender, tendo em conta aquilo que tinha acontecido ao clube nos anos anteriores, o FC Porto desiludiu a toda a linha. Não foi só jogar pouco, não foi só, sequer, terminar a sua participação logo na fase de grupos. Foi acabar em último e dar uma péssima imagem, sua e do futebol português. O campeão europeu de 2004 começou logo com uma derrota, no terreno do Rangers, mas esse não foi o desaire mais doloroso de toda esta fase. Poucas semanas depois, os azuis e brancos, em casa, cumpriam com a obrigação, venciam o Artmedia por 2x0 e estavam lançados para o primeiro triunfo. Os eslovacos, contudo, partiram para uma reviravolta incrível e para uma das derrotas mais surpreendentes que o FC Porto viveu em casa. 

    Nos restantes grupos, não se assistiram a grandes surpresas, apenas mais um duelo escaldante (ou dois, neste caso) entre o Liverpool de Benítez e o Chelsea de Mourinho. Acabaram os dois, sem surpresa, nos oitavos, mas os reds ganharam a batalha pelo primeiro lugar. O Real Madrid, a viver a última época dos Galácticos, conseguiu o objetivo mínimo, mas mostrava já fragilidades evidentes e possivelmente fatais, uma vez que o primeiro lugar do Lyon ficou a uns distantes seis pontos. Seria este o ano do crónico campeão francês, que contava com nomes como Juninho, Malouda, Abidal ou Diarra. 

    Só o futuro campeão europeu travou o Benfica @Getty /

    Pelo menos, a equipa de Houllier passou logo a seguir uma mensagem de força e competência, quando castigou o semifinalista da edição passada PSV com claros 5x0 - triunfo pela margem mínima na Holanda, goleada no Gerland. Na verdade, não faltaram golos às eliminatórias, quase todas muito equilibradas, ainda assim, com a exceção já assinalada do Lyon e, também, do AC Milan, finalista vencido, que bateu sem apelo nem agrado o Bayern de Munique por 5x2 no conjunto das duas mãos. A base estava lá e os rossoneri queriam conquistar outra vez o Velho Continente. 

    Londres, uma das capitais europeias do desporto-rei, mantinha dois representantes, mas Chelsea e Arsenal tiveram sortes diferentes nos oitavos. A equipa de Wenger surpreendeu o Real Madrid e só precisou de um golo para eliminar o antigo campeão europeu. Henry fez praticamente tudo sozinho, calou o Santiago Bernabéu e os gunners davam sinais de grande consistência para o futuro próximo. Já o Chelsea, desta vez, não teve tanta sorte perante o Barcelona. A decisão da eliminatória ficou adiada para Camp Nou, mas, aí, Mourinho não acabou aos saltos e a correr, muito por culpa de um adversário bem mais forte e de uma primeira-mão infeliz, com especial destaque para a expulsão do espanhol Asier del Horno que deitou quase tudo a perder. 

    A verdade é que a grande surpresa ficou guardada para o confronto entre Benfica e Liverpool. Campeão europeu em título, o conjunto da cidade dos Beatles era encarado como favorito. Gerrard era o líder de uma verdadeira equipa que tinha ganho organização desde a chegada de Benítez. A verdade é que os encarnados viveram uma eliminatória marcante como não viviam há décadas...Na Luz, Luisão, o central dos momentos importantes, deu vantagem e, em Anfield, o Benfica não caminhou sozinho, batendo o seu rival por 0x2, com um fantástico remate de Simão Sabrosa e um pontapé acrobático de Miccoli. Mesmo não sendo tão protagonista na sua primeira época, o italiano tinha já toques de genialidade, ainda por cima em momentos decisivos. 

    Onze anos depois, o Benfica estava outra vez entre as oito melhores equipas do continente europeu. O adversário era fortíssimo, o Barcelona de Ronaldinho. E para travar um grande oponente, Koeman apostou na presença de Ricardo Rocha no lado direito da defesa. Os catalães foram mais fortes, só não marcaram devido, em boa parte, à excelente exibição de Moretto, mas a arbitragem prejudicou o campeão nacional, na não marcação de uma grande penalidade clara, após mão de Thiago Motta. No jogo de Camp Nou, Moretto voltou a começar por ser gigante, ao travar uma grande penalidade de Ronaldinho, mas o brasileiro não chegou para impedir um desaire natural por 2x0 e consequente eliminação. Destaque apenas para a grande oportunidade perdida por Simão quando o resultado estava ainda na margem mínima. Falta de sorte (e não só) nos pormenores. 

    Figuras da competição até aí, Arsenal e Lyon chegavam aos quartos com legítimas aspirações. Nenhuma das equipas, apesar do sucesso doméstico, tinha conseguido atingir a glória europeia e 2005/2006 podia ser encarado como a oportunidade perfeita para conquistar o Velho Continente. Só uma levou a esperança adiante. O Lyon não conseguiu lidar com o poderio do Milan de Ancelotti, que ameaçava de forma séria mais uma presença numa final de Champions, enquanto o Arsenal triunfou perante outra grande turma italiana, a Juventus. Em quatro jogos a eliminar, zero golos sofridos para os gunners. Consistência à prova de bala, numa forma de jogar um pouco diferente em relação aquela que triunfou em 2002 e em 2004, por exemplo. 

    Quanto à grande surpresa Villarreal, tinha pela frente o Inter de Milão, uma equipa que contava com um Adriano intratável na frente de ataque. O equilíbrio reinou na eliminatória e o 2x1 no Giuseppe Meazza deixava tudo em aberto para o jogo em Espanha. Aí, o Submarino Amarelo foi igual si próprio: consistente, organizado e com uma arrogância positiva de quem quis bater sempre o pé ao mais forte. Riquelme, Senna e Forlán brilhavam, mas foi Rodolfo Arruabarrena a vestir o papel de herói. 

    Restavam apenas quatro formações. Duas meias-finais com características diferentes. Os mais rodados Barcelona e Milan, a surpresa Villarreal e um Arsenal que, depois de campeonatos, Taças e muito bom futebol, chegava a um patamar adiantado da Champions. Comecemos pelo duelo mais improvável. Mais uma vez, os gunners não sofreram qualquer golo! Seis eliminatórias consecutivas sem o sabor amargo de ir buscar a bola à própria baliza e levá-la até meio do campo. Foi, acima de tudo, o triunfo da solidez perante um Villarreal que lutou até ao fim, que falhou uma grande penalidade no último minuto da segunda-mão e que foi só travado por um único golo de Kolo Touré. 

    Se já vimos que os oitavos tiveram uma quantidade significativa de golos, as meias-finais foram marcados pelo rigor e pela pouca apetência em picar o ponto. Também o confronto entre AC Milan e Barcelona foi decidido por apenas um golo, em San Siro, neste caso. Ao contrário do que era normal, Kaká, Seedorf e Sheva não conseguiram marcar em casa e permitiram que Giuly decidisse a eliminatória, ainda antes da partida de Camp Nou. O francês não seria o primeiro ator secundário a ajudar o Barça a ser campeão europeu. 

    Em Paris, na cidade-luz, não faltou emoção ao grande jogo. O Arsenal jogou com dez a partir do minuto 18, depois da expulsão de Lehmann, mas foram os londrinos o melhor conjunto até ao minuto 60, com Campbell a marcar e Henry a ficar muito perto do segundo. Apareceram, no entanto, nas dezenas de minutos finais, duas figuras para uma das reviravoltas mais importantes da história da Liga dos Campeões. Eto´o empatou, primeiro, antes de Belletti ir ao tapete, em lágrimas, depois de sair do banco e marcar o golo decisivo. Era o triunfo do Barça do samba e da crença. 

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    jogos históricos
    U Quarta, 17 Maio 2006 - 19:45
    Stade de France
    Terje Hauge
    2-1
    Samuel Eto’o 76'
    Juliano Belletti 81'
    Sol Campbell 37'
    Estádio
    Stade de France
    Stade de France
    França
    Saint-Denis - Paris
    Lotação81338
    Medidas105x70
    Inauguração1998