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    Liga dos Campeões 2002/2003
    Grandes jogos

    Manchester United x Real Madrid: Um espetáculo fenomenal no Teatro dos Sonhos

    Texto por Jorge Ferreira Fernandes
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    Muitas noites memoráveis viveu Ronaldo Nazário de Lima. Dotado de uma capacidade técnica fora do vulgar, o brasileiro, mesmo traído pelas lesões, foi capaz de atuações únicas, que ainda hoje perduram na memória daqueles que acompanharam o futebol nos anos 90 e no virar do século. É injusto escolher uma única exibição, nem é esse o nosso propósito, mas a data de 23 de abril é de obrigatória recordação. Pelo respeito e pela admiração que o talento deve merecer. 

    Estávamos nos quartos de final da Liga dos Campeões. Duelo de gigantes, um autêntico clássico dos velhos e dos novos tempos. Real Madrid e Manchester United. Craques era o que não faltava. Zidane, Figo, Beckham, Van Nistelroy, Scholes. E um avançado brasileiro que tinha mostrado, em solo asiático, uns meses antes, que a má sorte não impediria uma segunda vida na carreira. Ronaldo já não tinha tanta explosão, mas as qualidades estavam intactas. A de destruir adversários, a de ser decisivo como poucos, a de marcar golos de forma imparável. 

    A primeira-mão, curiosamente, não foi decidida com o pé direito, o pé esquerdo ou a cabeça do herói brasileiro do penta. Ronaldo, no meio daquela constelação de estrelas, até, se é que é possível dizer, ao lado do 3x1 e da boa exibição merengue. Figo, num colocadíssimo remate cruzado, e Raúl, com um bis, assumiram o protagonismo, perante um Manchester United que respondeu com um único golo, um que, ainda assim, abria a esperança para o jogo de Old Trafford. No Teatro dos red devils, todos os sonhos eram possíveis de realizar. 

    Pois bem, centremo-nos então no anfiteatro do Manchester United, o «onde» desta história toda. Mesmo com uma vantagem relativamente confortável, o Real Madrid não se fiou e tentou sempre resolver a eliminatória pelas próprias mãos, ou pés, neste caso. Aí, poucas partes da anatomia humana foram tão ameaçadoras no futebol como aquilo que estava por baixo da bota direita de Ronaldo. Logo a abrir, o avançado fugiu à defensiva (adiantada) do adversário e rematou para o fundo das redes. Mas não de uma forma qualquer. Quanto a maior parte podia esperar um disparo para o poste mais distante, o Fenómeno teve discernimento para perceber que, exatamente no outro lado da baliza, abria-se um espaço. Para lá foi a bola, num golo que praticamente abriu as portas das meias-finais. 

    Beckham, pouco tempo depois, passou de adversário a colega de Ronaldo @Getty / Shaun Botterill

    A jogar em casa, o Manchester United bem tentou, mas assim que Casillas foi batido pela primeira vez, lá apareceu o suspeito do costume. Desta vez com menos brilhantismo, é certo, mas com o mesmo sentido de oportunidade, apesar da maior parte dos elogios terem de ser direcionados para a classe de Zidane e para a acutilância ofensiva de Roberto Carlos. 

    Já era uma noite de sonho, passou a fenomenal alguns minutos depois. A decisão, com o segundo golo, estava praticamente encontrada, mas Ronaldo ainda teve forças e talento para deixar Old Trafford completamente rendido. Sim, porque não há outra forma do adversário lidar com uma atuação daquelas. Pois bem, o brasileiro conduziu, mudou de direção e enviou a bola para o lado mais difícil e belo de todos. Não havia nada a fazer para Barthez e para o Manchester United. Estávamos perante uma das grandes exibições individuais da história recente. 

    O Real Madrid não ganharia essa Champions, seria eliminado pela Juventus. Ronaldo não voltaria a ter uma exibição daquele nível na mais alta roda do futebol europeu. A segunda vida do Fenómeno, que começou com a conquista do Mundial 2002, teria mais algumas páginas de sucesso nos dois/três anos seguintes, mas aquela noite de 23 de abril mostrou ao planeta futebolístico que, sem as lesões, este rapaz teria sido um caso praticamente único na história do jogo. 

    Comentários

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    Erros
    2020-04-23 22h17m por torradeira1
    "Ronaldo, no meio daquela constelação de estrelas, até (passou ao lado do jogo ou algo assim?), se é que é possível dizer, ao lado do 3x1 e da boa exibição merengue. " e "Quanto (Quando) a maior parte podia esperar um disparo para o poste mais distante. . . ".

    Continuam a não rever os textos. . .
    jogos históricos
    U Quarta, 23 Abril 2003 - 19:45
    Old Trafford
    Pierluigi Collina
    4-3
    Ruud van Nistelrooy 43'
    David Beckham 71' 85'
    Ronaldo 12' 50' 59'
    Iván Helguera 52' (p.b.)
    Estádio
    Old Trafford
    Old Trafford
    Inglaterra
    Manchester
    Lotação75643
    Medidas105x68m
    Inauguração1910