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      História da edição

      Champions 14/15: MSN, um trio para a eternidade

      Texto por Jorge Ferreira Fernandes
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      Três jogadores não fazem uma equipa, dirão os mais céticos, com alguma propriedade, mas podem ajudar e muito, pelo menos, a tornar uma equipa vencedora. Foram muitas as duplas e muitos os trios que construíram uma parte importante da história do jogo, mas poucas pequenas sociedades atingiram o nível deste MSN, capaz de elevar o Barcelona em todos os momentos, capaz de transformar um bom coletivo numa autêntica máquina ofensiva e vencedora, poucos anos depois do aparecimento e da explosão do tiki-taka. Messi, Suárez e Neymar foram muito mais do que os três melhores jogadores blaugrana em 2014/2015, foram impressão digital de um treinador, fator diferencial entre consistência e desequilíbrio. 

      Em Berlim, num 3x1 histórico, o Barcelona viveu, às custas da Juventus, mais uma noite importante e inesquecível da sua história centenária. A quarta Champions em menos de numa década (2006, 2009, 2011 e 2015) foi a despedida perfeita para a lenda Xaví e a desculpa perfeita para uma geração de grandes jogadores se juntar e encontrar o melhor sentido coletivo possível. Um triunfo que foi, acima de tudo, a cereja no topo de um percurso consistente, brilhante, a espaços, onde não faltaram os grandes golos e a celebração de talentos únicos. 

      Curiosamente, na fase de grupos, até foi a outra grande equipa de Espanha a superiorizar-se a todas as outras para um início absolutamente notável. Campeão europeu em título, o Real Madrid abriu as hostilidades com um domínio ainda mais avassalador, 18 pontos conquistados em outros 18 possíveis e uma diferença de golos esclarecedora (16-2). Atrás, numa participação mais humana, apareceu o Basileia em segundo lugar e, de forma surpreendente, o Liverpool, que não fez melhor do que baixar até à Liga Europa, depois de uma época em que o título ficou a uma escorregadela de distância, ou algo muito parecido com isso. Os pobres cinco pontos eram já um sinal preocupante de que, em Anfield, o reinado de Brendan Rodgers não voltaria a ter a mesma expressão e brilhantismo de 2013/2014. 

      Graças ao bom rendimento nos últimos anos das equipas portuguesas, especialmente na Liga Europa, a Champions de 2014/2015 voltou a ter um trio de representantes lusos. E começamos o exercício de memória pelo clube que menos prestigiou o futebol da língua de Camões, o Benfica. Na condição de campeão nacional, os encarnados sentiram bem o peso das muitas saídas importantes no verão (Oblak, Garay, Siqueira, Markovic, Rodrigo), terminando no útimo lugar de um grupo que não tinha qualquer colosso, mas que contava com três adversários competentes como Mónaco, Leverkusen e Zenit. Pior do que algumas exibições, como a derrota caseira contra André Villas Boas ou o desaire mais do que claro em solo alemão, só mesmo o facto da águia ter entrado na última jornada já fora das competições europeias. 

      Numa espécie de meio termo ficou o Sporting de Marco Silva. Às portas de um apuramento para os oitavos, mas seguro e com a consciência tranquila de quem quase tudo fez para seguir em frente. Com a base que tinha, sob as ordens de Leonardo Jardim, lutado pelo título com o Benfica na época anterior, este leão de tração à frente e de irregularidade e insegurança atrás, ficou sempre a qualquer coisa dos dois primeiros lugares. Se é certo que o rendimento nos jogos contra o Chelsea foi relativamente pobre - lembrar a grande exibição de Patrício, em Alvalade, que impediu goleada certa -, não se pode ignorar o que aconteceu nas partidas diante de Maribor e Schalke. Na Eslovénia, um erro colossal de Maurício ditou um empate comprometedor, na Alemanha, uma arbitragem prejudicou e muito os verde e brancos, que, já depois de terem recuperado de 3x1 para 3x3 com menos um elemento, viram Karasev apitar uma grande penalidade claramente inexistente. 

      Quanto ao FC Porto, começou a sua participação e um novo projeto com Lopetegui ainda nas fases de qualificação, mas demorou pouco a provar que podia mesmo ser um caso sério nesta Champions de 2014/2015. Depois de duas eliminações, com Paulo Fonseca e Vítor Pereira, os azuis e brancos voltaram a ser muito fortes logo desde o início, terminando a primeira etapa da liga milionária com quatro vitórias, dois empates, nenhuma derrota e a marca impressionante de 16 golos. Nessa altura de nota artística, brilhavam os craques Brahimi, Jackson, Danilo, Alex Sandro ou Quaresma, para além dos menos dotados, mas igualmente importantes, Casemiro ou Herrera. 

      Que grande noite europeia viveu o Dragão @Catarina Morais

      Não sendo uma equipa portuguesa, a verdade é que o Mónaco era uma formação de toque muito luso em 2014/2015. Comandado por Leonardo Jardim, o conjunto do Principado contava com João Moutinho, Bernardo Silva e Ricardo Carvalho nas fileiras e, entre uma ausência generalizada de estrelas planetárias, ganhava protagonismo a equipa, o coletivo. Era o nascimento de um projeto que teria resultados ainda melhores dentro de duas épocas, mas que não deixou de apresentar uma impressão digital interessante ao futebol europeu, com um primeiro lugar de grupo, uma vitória face ao Arsenal nos oitavos - quinta eliminação consecutiva para Wenger nessa fase - e uma presença entre os oito melhores conjuntos europeus, a dificultar, ainda por cima, a tarefa à Juve, que venceu apenas por 1x0 no agregado da eliminatória, através de uma grande penalidade polémica assinalada na partida de Turim. 

      Tal como um dos principais rivais na Premier League, o Arsenal, também o Manchester City teimava em não chegar às últimas eliminatórias da competição. Pelo segundo ano consecutivo, os citizens, sob as ordens de Pellegrini, passaram o grupo, cumpriram os serviços mínimos, para caírem logo a seguir face, novamente, ao Barcelona. E, por terras de Sua Majestade, estamos conversados, até porque o outro representante Chelsea não foi além de uma eliminação face ao milionário e campeão francês PSG. Apesar de ter terminado na liderança do campeonato inglês, os blues raramente convenceram na Liga dos Campeões, sendo a eliminatória com os parisienses o exemplo perfeito disso mesmo. Na segunda-mão, a equipa de Mourinho até se deu ao luxo de jogar em superioridade numérica, após a expulsão de Ibrahimovic, mas o destino estava traçado. 

      Finalistas da última edição e líderes dos respetivos grupos, Real e Atlético de Madrid tiveram que passar por uma autêntica odisseia antes da reedição do jogo de Lisboa nos quartos de final. Os colchoneros precisaram das grandes penalidades para ultrapassar o Leverkusen, os merengues ainda sofreram face ao Schalke 04. Depois dos sustos, os rivais da capital espanhola protagonizaram uma eliminatória demasiado cautelosa, onde a prudência falou bem mais alto do que o risco e a ambição. No final, um golo de Chicharito, a menos de dez minutos do apito para o encerrar da segunda-mão, impediu um duplo nulo e materializou mais um pequeno trauma para Simeone e para o vice-campeão europeu. 

      Mais espetacular foi o percurso do FC Porto, no bom e no mau sentido. Nos oitavos, às custas do Basileia de Paulo Sousa, o Dragão explodiu, numa exibição de mão cheia e de chapa quatro, recheada de grandes momentos coletivos e de golos memoráveis. Uma noite de sonho que foi repetida umas semanas mais tarde, perante o Bayern, com um 3x1 especialmente afirmativo, em que os azuis e brancos chegaram à primeira dezena de minutos com dupla vantagem no marcador. Contudo, em Munique, o sonho transformou-se em pesadelo. Lopetegui não pôde contar com Danilo e Alex Sandro, escolheu Reyes e Martins Indi para fecharem as laterais e, ao intervalo, o crónico campeão germânico já goleava por 5x0. Uma humilhação que não apaga um percurso de valor, mais consentâneo com a história recente do clube da cidade invicta. 

      Pela terceira vez em quatro anos, Barcelona e Real Madrid jogavam em tabuleiros diferentes nas meias-finais da Champions. Em relação às outras duas ocasiões, houve uma diferença em 2014/2015. Pelo menos, desta vez, uma das equipas atingiu o objetivo de seguir para o jogo decisivo. Os merengues foram quem fracassaram, depois de uma eliminatória equilibrada e muito interessante com a Juventus, que soube ser mais forte nos pormenores e aproveitar o fator casa para abrir vantagem face ao campeão europeu em título, e logo com Morata a ser determinante (valer-lhe-ia um regresso à casa de partida). Cristiano Ronaldo, Bale, James, que nunca atingiu o mesmo nível de Di María, não conseguiram alcançar o jogo mais importante do ano, não se sabia na altura, na época de despedida de uma lenda marcante como Iker Casillas no Santiago Bernabéu. 

      Na outra meia-final, não faltavam ingredientes para um jogo já de si teoricamente apetecível. Guardiola regressava a Camp Nou e duas das equipas mais consistentes, equilibradas e, ao mesmo tempo, espetaculares da Champions 2014/2015 discutiam um lugar em Berlim. A quinze minutos do final, depois de um jogo em que as organizações defensivas pareciam ganhar a dianteira face ao muito talento disponível em todas as zonas do campo, Messi ativou a versão extraterrestre e transformou uma eliminatória mais ou menos igualada numa goleada, ficando na retina e para a história da Liga dos Campeões o momento em que o craque argentino fez cair com estrondo Boateng antes de picar a bola com toda a classe por cima de Neuer. Ficou tudo decidido aí...

      No Olímpico que tinha sido palco de uma final mítica entre França e Itália, quase uma década antes, Juve e Barça discutiam um título europeu para o qual trabalharam muito. Se Luís Enrique tinha encontrado um ponto de equilíbrio perfeito entre a herança de Guardiola e uma nova roupagem de filosofia, na Juve, Allegri tinha dado um cunho europeu a uma vecchia signora de muitos títulos domésticos. De um lado, um fantástico trio de avançados, decisivos, por sinal, na conquista de cinco títulos no ano civil de 2015 - o sextete de Guardiola ficou a um palmo -, do outro, um quarteto marcante de médios, como Pirlo, Pogba, Vidal e Marchisio. 

      O jogo começou praticamente com o golo de Rakitic, depois de uma grande jogada coletiva do Barça, que já não contava, de todo, com o mesmo Xavi do tiki-taka, mas que ainda tinha em Iniesta um autêntico mago. O que é certo é que a Juve foi sempre um adversário complicado, competitivo, capaz de empatar a contenda no início da segunda parte, através de Morata, símbolo da formação do Real Madrid. Messi, que não marcou na final, apesar de ter terminado como um de três artilheiros da competição - Neymar e Cristiano Ronaldo fizeram companhia ao argentino -, sentiu o peso do momento e tentou repetir a forma de recuperar a vantagem para a sua equipa da final de 2011, com um remate de meia distância. Buffon ainda defendeu, mas Suárez estava lá para mais um momento decisivo, antes da confirmação de Neymar, numa altura em que Turim inteira queria entrar pela área de Ter Stegen adentro. O Barça era, outra vez, o rei do Velho Continente. 

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      jogos históricos
      U Sábado, 06 Junho 2015 - 19:45
      Olympiastadion Berlin
      Cuneyt Cakir
      1-3
      Álvaro Morata 55'
      Ivan Rakitić 4'
      Luis Suárez 68'
      Neymar Jr. 90'